Vitória de Riedel compromete futuro político de Rose, André e Marquinhos

01/11/2022 09h18 - Atualizado há 2 anos

Ex-governador, ex-prefeito e deputada federal tiveram dupla derrota nesta eleição, ficarão sem mandato e terão pouca visibilidade

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André Puccinelli, Marquinhos Trad e Rose Modesto ficaram fora do primeiro turno, e, no segundo turno, apostaram em Contar, e perderam - FOTOS: ARQUIVO

O 2º turno da eleição para governador de Mato Grosso do Sul não causou só a derrota do deputado estadual Capitão Contar (PRTB), que disputou o governo do Estado contra o ex-secretário estadual de Infraestrutura Eduardo Riedel (PSDB), que saiu vitorioso na contenda.

Na prática, a disputa praticamente “sepultou” politicamente o ex-governador André Puccinelli (MDB), o ex-prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad (PSD) e a deputada federal Rose Modesto (sem partido).

Velhos conhecidos da política sul-mato-grossense, os três foram derrotados duas vezes consecutivas na mesma eleição, uma no 1º turno, quando se lançaram candidatos a governador, e outra no 2º turno, quando declaram apoio à candidatura de Capitão Contar.

Na prática, a aliança deles com o candidato do PRTB é o que na política se classifica como “apoio contaminado”, pois André Puccinelli, Marquinhos Trad e Rose Modestos estão enrolados com a Justiça e, ao pedirem votos, na verdade estavam afastando eleitores de Contar.

Para piorar, os três permanecerão sem mandato e sem a possibilidade de ocupar cargos públicos pelos próximos anos, o que deve reduzir a visibilidade do grupo. Dos três, apenas Rose Modesto ocupa uma cadeira de deputada federal até 31 de janeiro.

A situação ainda agrava-se. Puccinelli está enrolado com o maior esquema de corrupção que Mato Grosso do Sul já viu e que foi descoberto pela Polícia Federal com a Operação Lama Asfáltica. O ex-governador André Puccinelli foi preso e chegou a usar tornozeleira eletrônica por um longo período.

Os processos contra ele chegaram a ser anulados. Mas agora ele voltou a ser procurado pela Justiça, que pretende intimá-lo para que responda pelas mesmas acusações, só que na Justiça Federal.

Já Marquinhos está respondendo por denúncias de assédio sexual que teria sido cometido dentro do próprio gabinete na Prefeitura de Campo Grande. Em razão disso, viu a sua candidatura a governador “derreter” após ser alvo desse escândalo sexual e o risco de ser preso é grande, apesar de estar tentando na Justiça refutar as acusações, alegando ser perseguição política do grupo vencedor da eleição para o governo do Estado.

Rose, por sua vez, está arrolada na Operação Coffee Break, que abalou Campo Grande ao revelar esquema para cassar o mandato do então prefeito da Capital, Alcides Bernal (PP), em 2014. Nesse caso, Rose Modesto era chamada nas gravações pelo apelido de “Morena mais Bonita da Capital”, quando era vereadora e votou pela cassação Bernal, alegando que seu voto era técnico, mas, para o Ministério Público Estadual (MPE), teria sido dado em troca de pagamento de propina.

“Apoio contaminado”

O “apoio contaminado” dos três contribuiu para a derrota do Capitão Contar, pois, no 1º turno da eleição para governador, seu principal lema era o combate à corrupção e a defesa dos direitos das mulheres, ou seja, tudo que os três apoiadores de ocasião não representavam.

Dessa forma, no 2º turno, aqueles que votaram em Contar se sentiram traídos e optaram pelo concorrente, Eduardo Riedel, contribuindo para a derrocada do militar da reserva, que, por conta disso, pode até ficar com a provável candidatura à Prefeitura de Campo Grande em 2024 comprometida, pois, além dessa derrota, ficará os próximos dois anos no ostracismo político, perdendo a preferência de quem votou nele neste pleito.

Futuro

No entanto, com relação a André, Marquinhos e Rose, o futuro político do trio até poderia ser uma incógnita, mas as duas derrotas demonstram que eles tiveram o peso político reduzido para os próximos dois anos, com baixa perspectiva de se manterem em evidência.

Puccinelli pode ter problemas em se candidatar mais vezes, por causa da idade avançada. Já Marquinhos Trad tentará buscar reconstruir sua imagem, sobretudo com o público feminino.

Para Rose Modesto, o problema é que, além dos desdobramentos da Operação Coffee Break para a sua imagem política, seu nome está desgastado pelas constantes trocas de partidos e, por causa disso, muitos já não sentem mais tanta confiança na sua fidelidade partidária.

Avaliação

Na avaliação do cientista político Tércio Albuquerque, quando se analisa o que aconteceu na eleição para governador de Mato Grosso do Sul no 1º e 2º turnos é possível observar, por exemplo, que o experiente André Puccinelli ainda tinha preferência do eleitorado nas pesquisas.

“Ele foi derrotado por conta da virada que teve em razão do apoio recebido pelo Capitão Contar por parte do presidente Jair Bolsonaro (PL) no último debate do 1º turno, quando pediu para que os seus apoiadores votassem no candidato do PRTB”, garantiu.

Tércio Albuquerque reforça que, inclusive agora no 2º turno, os bolsonaristas do Estado seguiram à risca a determinação do presidente da República, votando no Capitão Contar.

“Essa fidelidade dos eleitores do Bolsonaro demonstrou que aquela manifestação acabou por destruir a pretensão do ex-governador de voltar ao poder, já que não conseguiu mais que 17% dos votos válidos.

Com essa situação, apesar de ainda não ter declarado, provavelmente, ele deve anunciar que não deve mais sair candidato a nenhum cargo eletivo”, analisou, projetando que Puccinelli ainda pode tentar disputar a Prefeitura de Campo Grande em 2024.

De acordo com ele, em relação à derrota de Marquinhos Trad, a maior de todos os candidatos a governador no 1º turno, teve como ingrediente bastante significativo as denúncias que pesavam sobre o ex-prefeito.

“Por mais que houvesse no início a manifestação de que a esposa e as filhas tinham entendido a situação, teve uma reação muito negativa por parte da sociedade de Mato Grosso do Sul. Além de que ele não circulava bem entre os políticos do interior do Estado, tendo unicamente o seu apoio na Capital”, pontuou.

O cientista político também considera que o ex-prefeito trabalhou de forma equivocada na sua estratégia, porque, no momento em que decidiu sair candidato a governador, entregou a Prefeitura de Campo Grande, que tem o maior orçamento entre as demais prefeituras, a um grupo familiar.

“Obviamente que a prefeita Adriane Lopes e o seu marido, deputado estadual Lidio Lopes, ambos do Patriota, não estariam tão interessados em promover a eleição de Marquinhos, pois, a eventual vitória dele, ofuscaria o projeto de poder do casal”, assegurou, destacando que o ex-prefeito teve uma votação pífia.

Sobre a deputada federal, Tércio Albuquerque frisou que ela nunca teve muita representatividade política em Mato Grosso do Sul.

“Apesar de Rose Modesto ter sido vice-governadora, sempre foi uma política muito comedida, não tendo muita circulação nos ambientes políticos em nível nacional e muito menos estadual. Essa característica conduziu por um abandono do próprio partido dela, o União Brasil, à sua candidatura, que não acreditou no seu projeto político, tendo uma votação pequena, em torno de 12% dos votos, o que é muito pouco para quem desejava ser governadora”, afirmou.

ERRO DE ESTRATÉGIA

Já no 2º turno, conforme Albuquerque, foi um erro de estratégia porque André, Marquinhos e Rose, quando se ligam a Capitão Contar, estavam na expectativa de resultado do 1º turno, ou seja, de que ele voltaria a ter um apoio maciço do presidente Bolsonaro.

“Para infelicidade deles, Bolsonaro fez exatamente o oposto, abandonando Contar e dedicando-se muito mais, em razão da senadora eleita Tereza Cristina (PP), em apoiar o Riedel. Os três apostaram todas as suas fichas no militar da reserva, já de olho na possível vitória dele, e, assim, conseguiriam um fôlego para as futuras eleições, o que não aconteceu”, declarou.

O cientista político não acredita mais que o ex-prefeito Marquinhos Trad consiga voltar à política sul-mato-grossense, enquanto Rose Modesto, provavelmente, vai tentar buscar uma vaga, talvez, para vereadora de Campo Grande em 2024 ou até mesmo como deputada estadual em 2026.

“Já o ex-governador André Puccinelli, provavelmente, pode ainda tentar uma candidatura a prefeito de Campo Grande em 2024. Porém, no 2º turno, os três erraram feio na estratégia em razão da pretensão de ver, conforme o 1º turno demonstrava, o Capitão Contar como o grande vencedor das eleições, e não foi o que aconteceu, pois Eduardo Riedel deu banho no resultado final”, finalizou.

CORREIO DO ESTADO