Senadoras escancaram atitudes machistas no Congresso
O preconceito em torno das parlamentares se revelou ainda mais enfático nos debates da CPI
Flávio Veras
Como custo da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 substituto escancarando de forma enfática o machismo no Brasil. Vários expedientes comuns na tentativa de inferiorizar uma mulher deram como caras nas duas primeiras semanas de reuniões do colegiado, que já nasceu em dívida com a paridade de gênero.
Esse preconceito se demonstra de forma enfática nos cargos eletivos brasileiros, e, por exemplo, é difícil ver políticas no comando dos Executivos até de pequenas cidades.
Dos 11 títulos e sete suplentes, nenhuma mulher foi definida pelos líderes dos partidos para integrar o grupo de trabalho da CPI.
No entanto, após um pedido da senadora Simone Tebet (MDB), líder da primeira bancada feminina reconhecida pelo Senado, o presidente da comissão, senador Otto Alencar (PSD), acabou destinando uma vaga para o grupo de parlamentares, como membro efetivo do grupo de trabalho.
“Eu gostaria que vossa excelência, por favor, que vossa excelência ou o senhor não me interrompesse, porque é uma linha de raciocínio”, disse Tebet a um dos depoentes. Quando as mulheres sobem o tom em críticas, por exemplo, em relação ao trabalho dos depoentes da CPI, são tachadas de “raivosas”, “nervosas” e até de “destemperadas” pelos colegas homens.
Segundo Tebet, a mulher precisa “chutar a porta” na política. “Isso acontece porque, quando falamos baixo, não somos ouvidas. Quando precisamos elevar o tom, e, infelizmente, isso tem ocorrido na CPI da Pandemia, somos tachadas de escandalosas, destemperadas.
Isso nada mais é do que a expressão mais pura de machismo. Lutamos muito para chegar até aqui na política e não serão atitudes descorteses de quem quer que seja que vão nos intimidar. Representamos mais da metade da população. Ninguém vai calar a nossa voz no momento mais grave da história recente do País ”, explicou Tebet.
COTA
Para tentar diminuir a disparidade de mulheres e de homens nos legislativos brasileiros, existem ocorrências em torno de um projeto de lei que destine uma parcela de até 30%, ou seja, ⅓ da quantidade de parlamentares nas câmaras municipais, assembleias estaduais e no Congresso Nacional .
Apesar disso, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), hoje, dos 513 deputados federais, apenas 74 são mulheres. Já no Senado, dos 81 parlamentares da Casa, apenas 12 são do gênero feminino.
A senadora Tebet defende esse tipo de “cota”, pois, segundo ela, seria o dobro do que existe hoje no Congresso Nacional.
DEFENSORA
Outra defensora dessa parcela destinada ao gênero feminino é a deputada Rose Modesto (PSDB).
Segundo ela, apesar dos avanços alcançados nos últimos anos, como, por exemplo, lugares de destaque em comissões permanentes ou em mesas diretoras, ainda é necessário aumentar o número de mulheres para elas ocuparem ainda mais esses lugares, tradicionalmente ocupados por homens.
“Apenas dessa forma conseguiremos incluir cada vez mais mulheres dentro do debate político, tradicionalmente dominado por homens. Nossa voz ainda é pequena dentro das Casas Legislativas, pois temos mulheres ocupando cadeiras nesses lugares. Aumentando o número de vereadoras, deputadas e senadoras, teremos ainda mais voz no debate político, pois somos a maioria da população e precisamos estar no debate da construção do nosso País ”, concluiu Modesto.
CORREIO DO ESTADO