Senadora de MS, Soraya Thronicke, defender limites à liberdade de expressão, Estado laico e direita sem extremistas

11/01/2022 08h35 - Atualizado há 2 anos

Senadora pelo PSL de Mato Grosso do Sul, mas não prometeu apoio ao presidente caso se candidato a reeleição

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Agência Senado

Estadão Conteúdo

Vice-líder do governo no Congresso e crítica da gestão Jair Bolsonaro, a senadora Soraya Thronicke (PSL-MS) tem batido na tecla de que é preciso construir uma “direita racional”. Ao Estadão, um parlamentar defendeu os limites à liberdade de expressão, um Estado laico e uma direita sem extremistas – classificados por ela como “camicases”.

A postura tem o apoio prestado, mas também xingamentos, ataques e ameaças virtuais. “Não sou uma bajuladora de manda. Não serei jamais”, afirma.

Aos 48 anos, a advogada e empresária estreou na política em 2018, na onda bolsonarista, mas não promete apoio à reeleição do presidente.

“Se ele estiver do lado das (nossas) bandeiras, de repente eu estarei (com ele). Eu sou fiel aos princípios. Se ele não é, ele é que não estará ao nosso lado”, diz.

O tom crítico a Bolsonaro não foi impeditivo para que ela assumisse uma das vice-lideranças do governo no Congresso.

Seu papel a tempo de outros deputados e senadores é fazer projetos políticos designados pelo líder Eduardo Gomes (MDB-TO) e acompanhar assuntos de interesse do Palácio do Planalto para votações no Congresso. Na prática, os vices são auxiliares do líder.

O que é “direita racional”?

Nós fomos escolhidos (em 2018) levando a bandeira da direita, que estava adorado e emergiu. Mas misturaram os assuntos. Eu entrega a essas lacunas na compreensão, coisas esdrúxulas. Eu tenho falado em direita responsável porque a gente está vendo que ficou pejorativo ser de direita. Um monte de gente não sabe o que é ser de direita, não sabe quais são as bandeiras que nós carregamos, não age dentro de uma economia liberal que era a nossa proposta maior. Se somos Estado mínimo, o que a sexualidade das pessoas tem a ver com o Estado? Esses malucos que falam pela direita, para mim, nem de direita são.

Quais coisas esdrúxulas?

Não é uma pauta racional e de democracia essas questões de fechar o STF, atacar os Poderes. Nós compramos num Estado laico. Eu sou religiosa, mas isso é coisa minha, particular.

Ainda apoia o presidente?

Nas bandeiras às quais ele se mantém fiel, sim. Eu sou fiel às bandeiras da direita de verdade, como Estado mínimo, liberdade econômica, até mesmo a bandeira armamentista. Mas, acima de tudo, defendo a anticorrupção, que foi mantido de lado. A fidelidade tem que ser aos princípios e às bandeiras. Foi com isso que eu me comprometi e foi com isso que lá na campanha nós nos unimos. Essa 'direita camicase' se autodestrói.

Após critico o blogueiro Otávio Fakhoury na CPI da Covid, a senhora foi atacada nas redes sociais.

Eu não quero ser confundida com essas pessoas, quero ter uma conduta equilibrada e firme. Eu falo o que eu tenho que falar. Não vou na onda, só porque eu sou vice-líder do governo no Congresso. Não tenho apego nenhum a esses crachás e voto do jeito que eu quero. Eu não sou uma bajuladora de manda. Não serei jamais.

Bolsonaristas a atacam por ser dona de motéis.

Não são liberais na economia? Eu pago imposto, eu emprego, inclusive presidiárias. Minha atividade é legal. Os liberais da economia me criticam e querem usar (isso) contra mim. E aí também entra outra questão: o que é liberdade de expressão? Quer dizer que eu tenho liberdade de expressão – e ainda tenho imunidade parlamentar – posso te xingar à vontade? Venha atitude com uma que soma. Essa não é solução para absolutamente nada.

Como lidou com as críticas durante a CPI da Covid?

Eu mirei no que eu entendo, na minha criação do que é certo. Teve um dia que eu entrei numa reunião da ala governista e estava o (Eduardo) Pazuello, já não era mais ministro (da Saúde), explicando como ia defender o tratamento precoce. Do jeito que eu cheguei, eu falei: 'É disso que vocês estão falando? Não é possível. Alguém está louco aqui. Alguém está muito fora da casinha'. Ao mesmo tempo em que fui atacada, pessoas que não imaginavam que eu tinha esse pensamento começaram a prestar atenção.

É favorável ao orçamento secreto?

É um absurdo, está errado. Nada pode ser secreto.

Apoiará a reeleição de Bolsonaro?

Se ele estiver do lado das bandeiras, de repente eu estarei. Eu sou fiel aos princípios. Se ele não é, ele é que não estará ao nosso lado.

CORREIO DO ESTADO