Saiba quem são os principais personagens na investigação sobre suposta tentativa de golpe
Ex-presidente, aliados e membros das Forças Armadas planejaram questionar o resultado das eleições de 2022, segundo a PF
Os depoimentos de comandantes das Forças Armadas trouxeram mais informações sobre a suposta tentativa de golpe que o ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados teriam tentado realizar depois das eleições de 2022.
A investigação já encontrou "minutas" em endereços do ex-ministro da Justiça e no escritório do ex-chefe do Executivo, além de ter recuperado um vídeo de uma reunião ministerial na qual Bolsonaro e integrantes de seu governo tratariam sobre ações para impedir o pleito eleitoral daquele ano. Entenda mais sobre o papel de cada um dos investigados na suposta movimentação golpista (veja a seguir).
Núcleo 1 - Palácio do Planalto e ministros
Jair Bolsonaro
Os depoimentos afirmam que o ex-presidente teria apresentado aos comandantes do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Junior, e da Marinha, Almir Garnier Santos, um documento com diversos pontos que, no fim, decretava a realização de novas eleições e a prisão de diversas autoridades do judiciário, inclusive do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.
Os relatos mostravam mudanças de humor do ex-presidente, que foi de "resignado" a "esperançoso" nas discussões, e até mesmo uma ameaça de prisão feita por Freire Gomes, que teria afirmado que caso Bolsonaro tentasse usar a GLO (Garantia da Lei e da Ordem) "teria que prender o presidente da República".
Mauro Cid
O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro é peça-chave no inquérito, principalmente por fechar um acordo de delação premiada. Em 11 de março, ele negou ter participado do encontro em que o alto escalão das Forças Armadas teria debatido os termos da minuta de um golpe de Estado, mas confirmou a reunião. Na delação premiada, Cid afirmou que Bolsonaro teria recebido a minuta do então assessor para assuntos internacionais Filipe Martins, mas não externou sua opinião sobre o documento.
Anderson Torres
O ex-ministro da Justiça foi apontado nos depoimentos como um "mentor jurídico" da tentativa de golpe. Uma das "minutas" foi encontrada na casa dele, em Brasília. O depoimento de Freire Gomes confirmou que a versão apresentada por Bolsonaro na reunião dos ex-comandantes das Forças Armadas é a mesma encontrada na casa de Torres. Ficou preso por quatro meses e negou a participação na trama.
Filipe Martins
Martins era o então assessor para assuntos internacionais de Bolsonaro e está preso preventivamente desde 8 de fevereiro. O ex-assessor ficou calado durante as oitivas. Segundo Mauro Cid, ele foi autor da minuta de golpe.
Walter Braga Netto
Seria responsável por supostos ataques virtuais a colegas militares que mostravam resistência ao plano de impedir a posse de Lula, no início de 2023. Perguntado sobre a situação, Baptista Junior afirmou reconhecer fala de Braga Netto, que pedia para que "infernizaram a vida dele [Baptista Junior] e da família."
Augusto Heleno
O ex-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) abordou o ex-comandante da Aeronáutica para aderir ao plano. Porém, teria ficado "atônito" ao receber um não como resposta.
Bruno Bianco
Uma conversa entre Bolsonaro e o então advogado-geral da União, Bruno Bianco, foi testemunhada pelo ex-comandante da Aeronáutica em 1º de novembro de 2022, em uma reunião no Palácio da Alvorada, logo após o resultado do segundo turno das eleições presidenciais.
Baptista Junior disse que, na ocasião, Bianco teria afirmado que as eleições "transcorreram de forma legal, dentro dos aspectos jurídicos, e que não haveria alternativa jurídica para contestar o resultado".
Núcleo 2 - Militares
Paulo Sérgio Nogueira
Logo após as eleições, o ministério da Defesa encaminhou ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) o relatório das Forças Armadas sobre o processo eleitoral e o sistema de votação eletrônico. Naquela ocasião, o documento já declarava que não havia irregularidades no processo eleitoral e que os boletins estavam de acordo com os dados fornecidos pelo TSE.
Nogueira também teria se reunido com os comandantes das Forças Armadas para apresentar mais uma vez a proposta golpista. Na ocasião, Baptista Junior teria questionado o então ministro se o documento previa "a não assunção do cargo pelo novo presidente eleito".
General Freire Gomes
Freire Gomes disse à PF que "inclusive chegou a esclarecer ao então presidente da República Jair Bolsonaro que não haveria mais o que fazer em relação ao resultado das eleições e qualquer atitude, conforme as propostas, poderia resultar na responsabilização penal do então Presidente da República".
Segundo o depoimento do ex-comandante da Aeronática Baptista Junior, Freire Gomes disse a Bolsonaro em reunião que, caso o ex-presidente tentasse algum ato como a GLO (Garantia da Lei e da Ordem) ou Estado de Defesa ou Estado de Sítio, teria que prendê-lo.
Brigadeiro Baptista Junior
O ex-comandante da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista Junior relatou à PF que Bolsonaro "aparentou ter esperança em reverter o resultado das eleições" após o segundo turno do pleito. Ele afirmou que o ex-presidente estava "resignado" com o resultado das urnas e consultou a AGU (Advocacia Geral da União) para uma "alternativa jurídica" que contestasse a vitória de Lula.
Freire Gomes também disse à PF que o ex-comandante da Aeronáutica e ele "afirmaram de forma contundente suas posições contrárias ao conteúdo exposto" e "que acredita, pelo que se recorda, que o almirante Garnier teria se colocado à disposição do presidente da República".
Almirante Almir Garnier Santos
O ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos teria apoiado o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na tentativa de um golpe de Estado após as eleições de 2022 e colocado a Força à disposição dele para levar o plano adiante. A afirmação foi feita pelo ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes em depoimento à Polícia Federal.
Laércio Vergílio
Um dos depoimentos tornados públicos é o do general da reserva do Exército Laércio Vergílio. Ele disse à Polícia Federal que a prisão do ministro Alexandre de Moraes seria necessária para "a volta da normalidade institucional e a harmonia entre os Poderes".
O general foi perguntado sobre os áudios que mostram conversas dele com Ailton Gonçalves Moraes Barros, major reformado do Exército, preso em operação sobre fraude em cartões de vacinação. Em uma das conversas, Vergílio comentou que Moraes deveria ser preso em 18 de dezembro de 2022 pelo comandante da Brigada de Operações Especiais de Goiânia, um dos grupamentos do Exército.
Do R7, em Brasília