REPRESENTATIVIDADE: Vereadores negros vão ocupar 17% das vagas da Câmara de Campo Grande
Nas eleições do dia 15, cinco candidatos que se declararam negros foram eleitos para a próxima legislatura
Da Redação
De acordo com dados preliminares do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nas eleições 2020 os negros aumentaram sua participação no comando das prefeituras e no número de cadeiras nas Câmaras Municipais; no entanto, Mato Grosso do Sul caminha no sentido contrário, com 52,25% de candidatos brancos e 42,96% pardos ou pretos eleitos.
A participação de negros na política ainda encontra obstáculos, assim como em diversos setores da sociedade. Em Campo Grande, dos 29 parlamentares eleitos, cinco declararam ser negros, sendo eles: Ayrton de Araujo (PT), Junior Coringa (PSD), Papy (Solidariedade), Riverton Franscisco (DEM) e Ronilço Guerreiro (Podemos).
Riverton Francisco foi eleito ao cargo de vereador de Campo Grande com 3.987 votos. Como principal projeto, ele garante que a educação é o caminho fundamental para vencermos a desigualdade, sendo essencial a participação de negros em cargos políticos, a fim de garantirmos cada vez mais representatividade na sociedade. “A Câmara Municipal, sendo uma instituição de representatividade popular, através do vereador eleito, deve obrigatoriamente resguarda os princípios concebidos pela Constituição, como por exemplo o princípio da igualdade entre todos os cidadãos, independente da raça ou cor”.
Candidatos negros passaram a ser o maior grupo de postulantes a cargos eletivos no País desde que o TSE passou a coletar informações de raça, em 2014. Ao todo, 276 mil candidatos pretos ou pardos se registraram para concorrer no pleito em 2020, o que equivale a 49,9%, enquanto 48,1% se autodeclararam brancos.
Uma novidade nestas eleições, além do período atípico de pandemia, é que 30% dos recursos deveriam ser destinados a candidaturas femininas, e um valor proporcional ao número de candidatos negros.
Junior Coringa (PSD) obteve 3.716 votos e também garantiu uma cadeira na Câmara Municipal de Campo Grande. Ele declara que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) a favor de verba proporcional para candidatos negros na eleição deste ano é uma importante conquista. “Essa medida é uma vitória no enfrentamento ao racismo na política, ainda temos muito para evoluir neste quesito da conscientização da população, e um ponto fundamental para a evolução deste tema, assim como temos campanhas de mais mulheres na política, é termos da mesma forma o movimento de mais negros na política”.
REPRESENTATIVIDADE
Doutor em Ciência Política, o professor do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) Daniel Estevão Ramos de Miranda destaca que a representatividade é importante para o eleitorado também, pois essa é uma maneira de a população estar “conectada” com seus representantes. “A representatividade negra é importante na medida em que há determinadas pautas legislativas que são melhor compreendidas por quem vivenciou problemas que ou são exclusivos ou são mais intensamente vividos por parte da população”.
Agnes Viana é estudante do curso de Pedagogia da UFMS e foi candidata a vereadora pelo Partido Socialismo e Liberdade (Psol). Ela afirma que é necessário que se tenha projetos políticos que representem o povo negro. “Para falar de representatividade, é fundamental a gente entender que é necessário ocuparmos o espaço político com o nosso corpo e lutar de fato pelos nossos ideais. É urgente que as ocupações nesses espaços sejam feitas por pessoas que tenham o compromisso com o povo negro, porque senão será uma representatividade vazia”, diz.
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