Relatora da CPMI rebate versão de coronel sobre mensagens a Mauro Cid
Jean Lawand Júnior prestou depoimento à comissão dos atos golpistas
Por Lucas Pordeus León – Repórter da Agência Brasil - Brasília
“Não infantilize essa Comissão”. Com essas palavras, a relatora da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Atos de 8 de Janeiro de 2023 (CPMI do Golpe), senadora Eliziane Gama (PSD-MA), rebateu as afirmações do coronel do Exército Jean Lawand Júnior, ouvido nesta terça-feira (27).
Lawand foi convocado pela comissão devido ao conteúdo de mensagens trocadas com o ex-ajudante de ordens da Presidência da República do governo Bolsonaro, o tenente-coronel do Exército Mauro Cid. Nas mensagens colhidas pela Polícia Federal, o coronel pede a Cid que solicite a Bolsonaro que “dê a ordem”.
“Cidão [referência a Mauro Cid], pelo amor de Deus, faz alguma coisa, cara. Convence ele [ex-presidente Bolsonaro] a fazer. Ele não pode recuar agora. Ele não tem nada a perder. Ele vai ser preso. O Presidente vai ser preso. E pior, na Papuda, cara”, disse Lawand no dia 1º de dezembro de 2022.
Em resposta, o ex-ajudante de ordens disse que Bolsonaro não pode dar a ordem porque “ele não confia no ACE [Auto Comando do Exército]”. “Então ferrou. Vai ter que ser pelo povo mesmo”, concluiu Lawand.
Na justificativa apresenta à CPMI, o militar disse que a ideia dele era de que o então presidente Jair Bolsonaro pudesse "apaziguar" os ânimos diante dos atos golpistas que pediam intervenção militar em frente aos quartéis e nas rodovias do país.
“A minha ideia, desde o começo, desde a primeira mensagem com o tenente-coronel Cid, foi que viesse alguma manifestação para poder apaziguar aquilo e as pessoas pudessem voltar às suas casas e seguirem a vida normal. O ex-presidente tinha uma liderança sobre a população, pelo menos seu eleitorado”, explicou o militar.
Em seguida, a relatora interpela o coronel sobre outra mensagem. “O senhor diz o seguinte: ‘ele tem que dar a ordem, irmão. Não tem como não ser cumprida’. Mais adiante o senhor diz: ‘de modo próprio o Exército Brasileiro nada vai fazer porque será visto como golpe; então está nas mãos do presidente’. O senhor poderia explicar a razão pela qual entende que o golpe seria legitimado se viesse pelas mãos do então presidente?”, questionou a senadora.
O coronel voltou a defender que não se tratava de um pedido de golpe. “Em nenhum momento eu previ esse golpe. A minha missão, a minha intenção foi sempre fazer com que o coronel Cid entendesse que viria uma manifestação do presidente e aquela manifestação faria com que as pessoas retornassem às suas casas”, reafirmou.
A senadora, então, questiona a veracidade dessas informações. “O senhor não pode infantilizar essa comissão. Aqui, como se diz no meu Maranhão, o mais besta conseguiu se eleger deputado federal, senador ou senadora. As colocações são incompatíveis com o conteúdo das mensagens que o senhor mesmo escreveu”, disse Eliziane.
Sem tropas
Lawand justificou ainda que ele não teria tropas, nem influência política para tentar promover um golpe de Estado no Brasil.
“A minha função é uma função burocrática. Eu tinha quatro subordinados. A única coisa é que eu tinha contato com o Cid pra entender o que estava acontecendo. Eu não tinha nem motivação, nem capacidade, nem força para fazer qualquer atentado e muito menos motivar as pessoas a fazê-lo.”
O coronel é chefe do escritório de Projetos do Exército. “Minha missão é, de uma mesa com computador, comandar quatro subordinados para fazer esse programa progredir”, completou. Jean Lawand havia sido selecionado para ser adjunto do Adido Militar do Exército Brasileiro em Washington. A ida dele à capital dos Estados Unidos, no entanto, foi suspensa após a descoberta das mensagens trocadas com o tenente-coronel Cid.
Tal argumento do coronel também foi rebatido pela relatora Eliziane Gama. “O senhor estava há um ano e seis meses da posição para assumir, por exemplo, a patente de general. O seu escritório, o qual o senhor, na verdade, integrava no Estado-Maior, tem uma função estratégica: a de planejar e coordenar ações de relações institucionais, ou seja, o senhor não pode colocar que a sua posição não tinha qualquer influência. Quer dizer, as suas falas e os seus posicionamentos se desfazem com as informações que estão diante de nós”, rebateu a parlamentar.
Empresa em Atibaia
A relatora Eliziane Gama, ao final do interrogatório, afirmou que um dos endereços pessoais do coronel Jean Lawand, localizado no município de Atibaia (SP), é o mesmo de uma empresa ligada a outras companhias que tem Argino Bendin e uma das filhas de Lawand como proprietários. Bedin é investigado por financiar os atos golpistas. O militar disse nunca ter ouvido falar da empresa citada pela relatora.
Segundo Eliziane Gama, “o endereço desta empresa, que, pelos levantamentos que nós temos, de fato, não é uma empresa de sua propriedade, mas o endereço desta empresa, o senhor utiliza como elementos de informações ao longo de alguns momentos da sua história”,
O coronel colocou os seus sigilos à disposição para esclarecer esse fato. “Eu não me recordo. Eu coloco à disposição a quebra do meu sigilo bancário, fiscal, telefônico, tudo, porque, realmente, em nenhum momento eu associei um endereço meu a essa... não sei nem que empresa é essa”, finalizou.
Edição: Denise Griesinger