Presidente da CPI do MST corta microfone de deputada que lia notícia sobre investigação aberta contra ele

24/05/2023 04h20 - Atualizado há 1 ano

Ministro do STF autorizou retomar investigação por suspeita de patrocinar e incentivar atos golpistas. Tenente Coronel Zucco disse que tema 'não é pauta' da CPI.

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Divulgação

O presidente da comissão parlamentar de inquérito (CPI) que investiga a atuação do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Tenente Coronel Zucco (Republicanos-SP), cortou a fala da deputada Sâmia Bomfim (PSOL-RJ) enquanto ela lia notícia de que seu nome foi incluído na investigação da Polícia Federal sobre os atos antidemocráticos.

Segundo Sâmia, ela ainda teria 30 segundos de fala, mas foi cortada por Zucco sob o argumento de ter acolhido uma "questão de ordem" para que não houvesse injúrias contra integrantes do Legislativo na CPI.

A decisão de retomar a investigação foi dada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes na última sexta-feira (19). O caso envolve suspeita de patrocínio e incentivo a atos antidemocráticos no Rio Grande do Sul e em Brasília contra o resultado das eleições de 2022.

Integrante da comissão, Sâmia lia a notícia de que Moraes determinar que a Polícia Federal retome as investigações sobre a suposta participação do deputado.

"Acabou de sair a notícia que o Moraes autoriza a Polícia Federal a retomar a investigação do presidente da CPI do MST pela participação nos atos antidemocráticos. Que até agora o senhor estava dizendo que era mentira", disse a deputada, quando foi cortada.

Zucco rebateu afirmando que o tema "não é pauta da CPI".

"Deputada Sâmia, eu aceitei a questão de ordem do deputado Kim [Kataguiri]. Nós não vamos permitir ataques pessoais. Sobre essa nota que a senhora falou, já tinha sido publicado. Isso não é pauta dessa CPI", afirmou.

O presidente da CPI se refere a uma questão de ordem apresentada mais cedo pelo vice-presidente do colegiado, Kim Kataguiri, que interrompeu a fala da deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ) após ela lembrar que o relator da CPI, Ricardo Salles (PL-SP), era investigado pela Polícia Federal. Kim lembrou que, de acordo com o regimento da Casa, nenhum deputado poderia se referir de "forma injuriosa" a membros do Legislativo.

Segunda interrupção

Após alguns minutos, a deputada retornou ao microfone para apresentar questão de ordem por ter sido interrompida.

"Eu tive o microfone cortado quando ainda havia 30 segundos para eu concluir meu tempo de líder. Uma coisa é fazer interrupções, pedir ordem, quando há ofensas, quando parte para agressão física ou verbal. Eu não estava fazendo nada disso. Eu estava lendo uma reportagem da imprensa", começou a deputada.

Antes de concluir, contudo, seu microfone foi cortado mais uma vez, quando ela tinha cerca de 2 minutos para falar pelo tempo da liderança.

Zucco disse que não aceitava a questão de ordem da Sâmia porque já havia decidido que deputados não poderiam se referir de forma "descortês" ou "injuriosa" aos integrantes da CPI.

Houve um início de bate-boca, com Sâmia alegando, fora do microfone, que não havia concluído a fala e que o presidente da CPI precisava cumprir o regimento. Por fim, Zucco concedeu tempo à deputada.

"Se vossa excelência não tivesse interrompido o meu direito regimental de usar o tempo de líder do meu partido, nada disso teria acontecido. Mas o autoritarismo e a gana de calar as nossas vozes é tão grande que o senhor cria uma situação absolutamente constrangedora para o senhor e depois foi obrigado, evidentemente, a cumprir aquilo que diz o nosso regimento", afirmou.

"Eu nunca faltei com respeito com o senhor, não utilizei elogio ou palavrão. Eu li uma manchete. Por que lhe incomoda tanto uma manchete de jornal? A manchete está pública, qualquer cidadão brasileiro pode ter acesso a esses fatos. Para mim, o senhor não tem que prestar depoimento nenhum, é para a Polícia Federal."

Por Elisa Clavery e Luiz Felipe Barbiéri, TV Globo e g1 — Brasília