Podemos deve perder até 31 vereadores caso Soraya assuma presidência em MS
Debandada de parlamentares e de militantes do partido é motivada pela troca de comando autorizada pela executiva nacional
Caso a senadora Soraya Thronicke assuma mesmo a presidência do Podemos em Mato Grosso do Sul no fim deste mês, o partido corre sério risco de perder pelo menos 31 dos 40 vereadores eleitos e ter ainda uma possível desfiliação em massa do diretório municipal de Campo Grande e da maioria dos demais 39 diretórios no Estado.
Segundo apurou o Correio do Estado, a decisão foi tomada durante reunião de mais de duas horas no diretório estadual do Podemos em Campo Grande, com a participação do atual presidente, Sérgio Murilo, e de vereadores e militantes de várias partes de Mato Grosso do Sul.
O motivo, conforme informações obtidas pela reportagem, é que os filiados com mandatos e os demais filiados ingressaram na legenda com a indicação de Sérgio Murilo, e a provável troca de comando da sigla no Estado estaria sendo vista como uma traição.
Afinal, quando Sérgio Murilo assumiu o Podemos, o partido tinha apenas um vereador eleito e, em 2020, esse número aumentou para 40. Além disso, foram eleitos dois prefeitos, em Aparecida do Taboado e em Santa Rita do Pardo, porém, ambos já migraram para o PSDB.
Outro dado interessante é que a legenda tinha dois mil filiados e, atualmente, conta com 12 mil em 40 municípios de Mato Grosso do Sul. Procurado pelo Correio do Estado, Sérgio Murilo confirmou a reunião, mas não quis dar detalhes, falando apenas que espera um comunicado oficial da executiva nacional sobre a troca de comando.
“Fiquei sabendo que a senadora Soraya Thronicke vai assumir a presidência do Podemos pela imprensa e preciso escutar isso da boca dela ou de alguém da executiva nacional. Quando ela se filiou ao Podemos, as lideranças nacionais da legenda tinham me dito que era para eu ficar tranquilo, que não abririam mão de tudo aquilo que construí à frente do partido”, declarou o atual presidente estadual.
A reportagem verificou, junto a outros filiados ao Podemos, que o fato de a senadora assumir a presidência da sigla pode desagregar tudo aquilo que foi construído ao longo dos anos no Estado. Eles citaram que é bem provável que ocorra o mesmo que aconteceu quando ela assumiu o comando do União Brasil, fruto da fusão entre DEM e PSL.
Na época, a maioria dos filiados com mandato, incluindo muitos prefeitos e vereadores que eram do DEM, migraram para outro partido porque não aceitaram o fato de a presidência do novo partido ficar nas mãos de uma pessoa sem base política e estando ainda em seu primeiro mandato.
Outro agravante para a provável debandada de filiados do Podemos seria a possibilidade de a legenda formar uma federação com o PSDB, o que, em Mato Grosso do Sul, significaria o não lançamento de candidatos na majoritária em benefício de nomes do ninho tucano.
De acordo com esses militantes, além de a senadora Soraya Thronicke ser uma liderança tóxica, que destrói tudo em que põe as mãos, uma aliança entre o Podemos e o PSDB em nível nacional resultaria no enfraquecimento da legenda em Mato Grosso do Sul.
Para eles, a executiva nacional não teve escrúpulos ao abrir mão do diretório estadual para fechar essa possível aliança com os tucanos, pois, em muitos municípios do Estado, como Angélica e Selvíria, caso o Podemos não possa lançar candidatos a prefeito, o PSDB terá candidatura única na majoritária.
Já Sérgio Murilo disse ao Correio do Estado que, confirmada a troca de comando, não terá mais motivos para ficar no Podemos. “O meu projeto para 2024 era lançar candidatos a prefeito nos 40 municípios onde temos diretórios. Agora, devo repensar minha trajetória política, pois meus planos são para 2026, quando posso tentar uma cadeira como deputado estadual ou federal. Vou me estrutura politicamente”, projetou.
Sobre o fato de os vereadores realmente decidirem deixar o Podemos, Sérgio Murilo explicou que, como a janela partidária abre no próximo ano, por conta das eleições municipais, eles não terão problemas. Já quanto ao deputado estadual Rinaldo Modesto, único do partido no Estado, a alternativa para a troca partidária seria a expulsão ou esperar a janela de 2026.
A assessoria de imprensa da senadora Soraya Thronicke foi procurada, mas informou apenas que ela vai mesmo assumir a presidência do partido nos próximos dias. Ainda conforme a assessoria, a parlamentar não pretende comentar a provável debandada de filiados quando ela assumir o comando da sigla.
DANIEL PEDRA
CORREIO DO ESTADO