Parlamentares de MS pedem rigor na investigação do caso das joias árabes
Joias avaliadas em mais de R$ 16 milhões teriam sido um presidente dado pela Arábia Saudita para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, mas não foram declaradas
Os parlamentares da bancada federal de Mato Grosso do Sul ouvidos pelo Correio do Estado são favoráveis que haja uma investigação mais aprofundada sobre a doação de joias pelo regime da Arábia Saudita para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
A senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS) disse que ninguém está acima da lei.
“Sou a favor de uma investigação mais a fundo deste caso. Não vou julgar ninguém antes disso”, declarou.
Já o deputado federal Dagoberto Nogueira (PSDB-MS) declarou que isso deve ser tratado de acordo com as normas.
“Serve para todos, inclusive para a família Bolsonaro. Lamentável que tenham mostrado ignorância sobre o assunto”, pontuou.
A deputada federal Camila Jara (PT-MS) destacou que há fortes indícios de irregularidade nessa questão, tendo em vista que as empresas brasileiras adquiridas pela Arábia Saudita foram compradas abaixo do valor de mercado.
“Isso precisa ser investigado, e as autoridades competentes já estão de olho nisso e se posicionando para apurar”, afirmou.
Camila Jara revelou ainda que, quanto à Câmara dos Deputados, já existe um pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar esse caso.
“Afinal, a procuradora da República Gabriela Saraiva Vicente de Azevedo Hossri, que foi designada para assumir as investigações sobre o caso das joias, tem laços com o bolsonarismo”, reforçou.
ENTENDA O CASO
O caso teve início com o então ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque.
Almirante de esquadra, ele representava Jair Bolsonaro na comitiva que, em outubro de 2021, esteve em Riad, na Arábia Saudita, e recebeu os presentes que seriam entregues, como ele declarou, ao então presidente e à primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Com Albuquerque estava Marcos André dos Santos Soeiro. Tenente da Marinha, Soeiro era o assessor naquela comitiva e foi quem teve as joias apreendidas em Guarulhos, pela Receita, ao tentar entrar no País sem declarar os bens.
Depois da apreensão, um novo bloco de militares foi acionado por Bolsonaro para tentar recuperar as joias.
José Roberto Bueno Júnior, contra-almirante da Marinha, foi chefe de gabinete de Bento Albuquerque e assinou ofícios da Pasta tentando liberar os diamantes retidos em Guarulhos.
Na Receita Federal, o caso chegou ao então chefe do órgão Julio Cesar Gomes. Ex-oficial da Marinha, ele chegou ao cargo um mês depois de as joias terem sido apreendidas. Próximo da família Bolsonaro, Gomes fez diversas incursões para tentar resgatar os itens estimados em R$ 16,5 milhões.
O ex-secretário da Receita Federal pressionou servidores de vários departamentos do órgão, por meio de mensagens por WhatsApp, e-mails e telefonemas.
Dentro do Planalto, Bolsonaro também acionou militares. Mauro Cid, tenente-coronel do Exército, solicitou que as joias fossem cadastradas no sistema federal como “acervo privado”.
Cid teve apoio de Cleiton Henrique Holzschuk, segundo-tenente do Exército. Cid também enviou um emissário a Guarulhos, em avião da FAB, para tentar retirar as joias para Bolsonaro.
A tarefa foi dada a Jairo Moreira da Silva, primeiro-sargento da Marinha.
Em nota, a Marinha disse que “o assunto está sendo apurado”.
DANIEL PEDRA
CORREIO DO ESTADO