Flávio Veras

Com o agravamento da crise sanitária e a falta de imunizantes para combater a pandemia do novo coronavírus (Covid-19), políticos de Mato Grosso do Sul começam a fazer um movimento no intuito de “descolar” suas imagens da do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

O chefe do Executivo Nacional também vem perdendo força no Congresso Nacional, principalmente entre aqueles que foram conquistados no fim do ano passado, durante o processo de articulação nas eleições do Congresso Nacional.

Durante o processo, o chamado “Centrão” conseguiu emplacar Rodrigo Pacheco (DEM-MG) no Senado e Arthur Lira (PP-AL) na Câmara dos Deputados.

No entanto, o senador Nelson Trad Filho (PSD), que é um dos mais importantes aliados do Planalto no Congresso Nacional, revelou ao Correio do Estado que esse negacionismo do presidente chegou ao limite e esgarçou o tecido institucional de qualquer tipo de articulação.

Esse agravamento se tornou ainda pior, por conta da consternação com a morte do senador Major Olimpio (PSL), na quinta-feira (18).

Segundo o senador, mesmo com o luto no Congresso, Bolsonaro continuou “esticando cada vez mais a corda”, dizendo até em decretar estado de sítio contra as medidas de isolamento social, que, neste cenário, nem teria base constitucional.

“Quando você coloca café dentro de um bule com água, uma hora essa fervura sobe e se esparrama por toda a cozinha. Ou seja, o presidente nesse processo vem esquentando demais a fervura no Congresso Nacional e isso está deixando muito descontente a sua base aliada".

"Estamos tendo diversas reuniões com os líderes de partidos, pois a única solução para essa crise sanitária, econômica e política é a vacinação em massa. Precisamos de um combate mais incisivo do governo para aquisição desses imunizantes, que alegam não ter no mercado. Não tem desculpa, temos de achar e comprar”, explicou.

Já a senadora Soraya Thronicke (PSL), que foi alavancada pela onda Bolsonaro em 2018 e conseguiu ser eleita, diminuiu o tom das críticas que tem feito ao governo federal nos últimos meses. Segundo ela, é normal que, em meio a maior crise sanitária dos últimos tempos, os ânimos de todos estejam exaltados.

“Ninguém no mundo estava preparado para essa pandemia. Mas, nós do Congresso Nacional, temos agido em conjunto com o Planalto, para aprovar com urgência todas as medidas enviadas pelo presidente Bolsonaro para enfrentamento da pandemia. Destinamos recursos, aprovamos projetos que facilitam a aquisição de vacinas, e estamos dando todo o suporte necessário ao governo neste momento, inclusive com ampla participação da oposição".

"Então, acredito que não deveríamos tratar o enfrentamento da pandemia do ponto de vista de ganhar ou perder apoio político. A política está em tudo, mas deveríamos neste momento nos preocupar menos com a politicagem e focar mais na raiz do problema, o vírus e as consequências dele”, concluiu.

Outro político que também costumava se aproximar do discurso de Bolsonaro e agora faz o oposto é o deputado estadual Eduardo Rocha (PMDB). Ao Correio do Estado, o deputado confessou que votou no segundo turno no presidente e visualizava uma gestão melhor para o País em relação ao PT de Fernando Haddad.

Porém, com o agravamento da crise da pandêmica e a persistência do presidente em negar a ciência, fez com que ele revisse esse voto, e avalia que muitos de seus colegas que tinham empatia por Bolsonaro hoje também têm essa avaliação e se dizem arrependidos em tê-lo apoiado um dia.

“Todos os líderes mundiais têm baseado o enfrentamento à Covid-19 de forma científica, porém, o nosso presidente é o único que a nega. Estimula aglomerações, rechaça medidas de distanciamento, entre outras. Ele tem combatido governadores como se fossem inimigos, até aqueles que um dia foram aliados, como Ibaneis Rocha [MDB] do Distrito Federal".

"Até o governador de Minas Gerais, Romeu Zema [Novo], que sempre foi um dos mais ligados ideologicamente a Bolsonaro, hoje diz que ‘quem promove aglomeração e as incentiva é assassino’. Ou seja, o Planalto precisa analisar que não temos abertura para brigas, mas, sim, precisamos de união para enfrentarmos essa crise, queria muito uma mudança de postura por parte do Executivo nacional”, afirmou.

Outro político que também segue uma linha mais de centro-direita, porém nos últimos meses tem intensificado críticas ao presidente, é o deputado federal Beto Pereira (PSDB), em que avalia que a postura do chefe da nação vem desgastando a relação com o centro-democrático.

“A relação de Bolsonaro com o Centro vem se desgastando gradativamente há algum tempo. Porém, pela falta de diálogo e pelas ações impensadas do presidente, a situação desta vez tornou-se quase insustentável”, lamentou.

CORREIO DO ESTADO