O peso do voto feminino e negro nas eleições

04/10/2024 04h33 - Atualizado há 1 mês
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Cabina de votação com a nova urna modelo UE2020 é apresentada em seção eleitoral simulada no Tribunal Regional Eleitoral, no centro do Rio de Janeiro. • 29/09/2022- Fernando Frazão/Agência Brasil

Uma fala do candidato Pablo Marçal esta semana chamou atenção não só por conta da contundência, do tom preconceituoso e discriminatório, mas também por constatar uma realidade quando se observa a presença negra e feminina nas câmaras legislativas ou no Poder Executivo brasileiro.

Disse o candidato: “Mulher não vota em mulher porque é inteligente. Se fosse assim, pobre votaria em pobre e negro votaria em negro”.

A presença de negros, mulheres ou pessoas vindas das camadas mais simples da nossa sociedade é quase nula nos postos de decisão nos espaços de poder político no Brasil.

O que o candidato, além da ofensa machista com relação às mulheres, esqueceu de dizer é que as eleições em nosso país têm um histórico de exclusão, de discriminação, seja pela ação masculina presente na direção de grande parte das lideranças partidárias, seja pelo poder financeiro que ainda é masculino e branco, o que leva a processos de exclusão já na largada, onde mulheres, negros e pobres raramente são alçados a concorrer com chances de vitória, retroalimentando um sistema de exclusão onde, de forma simplista, políticos em geral de direita disseminam esse tipo de frase altamente preconceituosa e hostil.

Esse processo excludente já foi analisado, estudado e até apontado como uma das deficiências da nossa democracia. Estudos realizados com base na falta de representatividade nos espaços de poder político apontam inclusive uma das vulnerabilidades e descrédito em nossa democracia.

Essa ausência das parcelas expressivas da nossa sociedade resultou há algumas décadas nas cotas para mulheres nas disputas eleitorais, obrigando os partidos a lançarem no mínimo 30% de candidaturas femininas em todas as eleições, o que também gerou o jeitinho brasileiro de solucionar o problema, colocando mulheres nas disputas sem nenhuma condição financeira e política de vencer uma eleição, onde elas aparecem muitas vezes como figurantes para cumprir as cotas sem nenhuma condição de vitória, fato ignorado pelo candidato Marçal em sua fala.

Cientes desses problemas e mais uma vez na tentativa de equacionar o problema central, que é o econômico, foi criada a lei que obrigava os partidos políticos a aumentarem e priorizarem o financiamento das campanhas para mulheres e pessoas negras nas campanhas, o que foi ignorado e recentemente os partidos que burlaram essa lei foram anistiados e apenas um partido votou contra a anistia.

Por essas e outras razões a fala do candidato se torna rasa, inapropriada, preconceituosa e acima de tudo antidemocrática, proporcionando mais preconceito e machismo no mundo já altamente excludente da política brasileira.

Coluna Maurício Pestana - CNN