MPF quer celeridade em investigação de compra de votos para Bolsonaro denunciada por Caco Barcellos
Denúncia foi exibida em programa de 2022 e já houve depoimentos e indiciamentos, mas as investigações policiais ainda não foram finalizadas
Quase dois anos após da denúncia de compra de votos em Coronel Sapucaia, em reportagem exibida no programa Profissão Repórter, o Ministério Público Federal pediu celeridade nas investigações policiais, devido a proximidade das eleições municipais deste ano.
Na ocasião, em 2022, o jornalista Caco Carcellos chegou a ser ameaçado ao flagrar uma suspeita de compra de votos para o então candidato a presidência Jair Bolsonaro, as vespéras do segundo turno das eleições. No primeiro turno, Bolsonaro e Lula empataram no municípios, com exatamente 4.254 votos cada um.
Conforme a denúncia, eleitores beneficiários de programas de auxílio do governo federal foram convocados para uma reunião, encabeçada pelo prefeito, onde teriam sido coagidos a votar em Bolsonaro ou então perderiam os benefícios.
Ainda em 2022 foi instaurado inquérito policial para investigar as denúncias, a pedido do juízo da 19ª Zona Eleitoral de Mato Grosso do Sul.
Conforme relatório do MPF, já foram colhidos depoimentos de participantes da reunião, servidores públicos e o responsável pela convocação.
Em último despacho, foi determinada a juntada do depoimento de Caco Barcellos, que foi o responsável pela matéria que deu origem as investigações.
Na mesma oportunidade, foi determinado o indiciamento formal do prefeito de Coronel Sapucaia, Rudi Paetzold, da secretária municipal de Assistência Social, Ivone Paetzold, e a servidora Simone de Fátim Nunes de Oliveira, pelo crime de coação eleitoral mediante grave ameaça.
Isto porque, conforme o relatório, com a análise ao material coletado na investigação, restou claro que as reuniões realizadas nos dias 26, 27 e 28 de outubro de 2022, "às vésperas das do segundo turno das eleições para governador e Presidente da República, tinham o claro objetivo de aliciar e coagir os eleitores locais a votar nos candidatos da situação, utilizando-se da grave ameaça de não haver continuidade de programas sociais tanto estaduais quanto federais".
No entanto, apesar das medidas já adotadas, conforme o MPF, durante o inquérito, foram pedidos e deferidos várias prorrogações de prazos, para novas diligências. Desta forma, as investigações se arrastam até hoje, sem um desfecho.
Com a iminência das eleições municipais deste ano, que serão realizadas em outubro, e o potencial envolvimento do prefeito de Coronel Sapucaia nos fatos sob investigação, o Ministério Público solicitou que a autoridade policial tenha celeridade, "a fim de que as diligências sejam ultimadas com a maior brevidade possível".
Denúncia
No programa Profissão Repórter, a reportagem exibida mostrava Caco Barcellos indo até uma reunião de moradores na qual ocorria a compra de votos para Bolsonaro, em uma ação encabeçada pelo prefeito, segundo uma das entrevistadas.
Quando a equipe da TV chega no local, quase nenhum dos presentes quer falar com Barcellos, enquanto os poucos que topam dar entrevista desconversam e não respondem às perguntas diretamente.
Uma das pessoas entrevistada revelou que foi dito aos presentes que eles teriam que votar em Bolsonaro ou não teriam mais a verba de benefícios federais e municipais aos quais tinham direito, o que constitui assédio eleitoral.
O jornalista chegou a ser intimidado por alguns dos presentes no local, e também foi ameaçado por telefone.
"Eu sugiro a vocês terminar a pauta o quanto antes. Se você quiser continuar aqui na cidade, fazendo o seu trabalho, é por sua conta em risco, mas eu conheço bem a cidade. É complicado", diz um homem em uma ligação para o repórter, mostrada no programa.
GLAUCEA VACCARI
CORREIO DO ESTADO