Mesmo quem não foi às manifestações espera renovação na política
Manifestações a favor do impeachment e contra o governo levaram muitas pessoas às ruas no domingo passado (13) . Outros protestos a favor da democracia e do Estado de Direito e contra o impeachment levaram muitos outros às ruas nessa sexta-feira (18). Apesar da polarização existente no país, com manifestantes dos dois lados ocupando as ruas em diferentes cidades, muita gente não se sentiu motivada a aderir a nenhum dos protestos.
É possível notar o acirramento das opiniões durante a entrevista com o vigilante Francisco Manuel. Apesar de não participar de nenhuma das manifestações, ele explicava que defende a saída da presidenta Dilma Rousseff da presidência, quando foi interrompido por um grito de “Dilma fica, Cunha sai!” (em referência à presidenta e ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha) . O diálogo aconteceu na Rodoviária do Plano Piloto de Brasília, a poucos metros do Museu da República, onde os manifestantes a favor do governo se concentravam na noite de ontem.
Muitas pessoas dizem que não dá para ter um lado, pois há corruptos em todos os partidos. É o caso da estudante de nível médio Bárbara Elisabeth. “Eu acho que nem um lado se salva pra ser escolhido. Nenhum lado é bom. Eu acho que o sistema está errado”, diz. A estudante tem dificuldade em se informar por meio da imprensa sobre qual direcionamento político adotar. “Eu acho que a mídia monopoliza, escolhe só um lado e as pessoas na verdade não sabem o que está acontecendo, só o que a mídia disponibiliza pra elas”.
O fato de a corrupção ser um problema histórico no Brasil também foi citado por quem não aderiu a nenhum dos lados de protesto. João José da Silva, que trabalha na construção civil como ajudante de carpinteiro, se diz indeciso e envergonhado por “tanta roubalheira”. “Isso já vem de longe, não é de agora. Eu, como cidadão brasileiro, entendo pouco de política. Mas pelo que a gente vê, não é de agora. Outro entra e acontece a mesma coisa, a gente fica desanimado, dá até vontade de não votar mais”, afirma, apesar de o voto no Brasil ser obrigatório.
Silva considera que a saída do atual governo não resolve a situação, mas torce pela melhora do país, seja qual for o desfecho da crise. “Se o partido tal sair e outro entrar, não vai ter melhora assim de imediato, não é da noite pro dia, mas a gente torce pra o que estiver (no poder) ou o próximo que entrar, se entrar, melhore pra todos nós”.
A melhora da economia e da situação do desemprego no país é uma das principais expectativas de Maria dos Reis. Ela está insatisfeita com o atual governo, mas acha que uma troca não resolveria o problema e se preocupa com o nível de desemprego. “É, o governo que tem melhorar. Hoje, do jeito que está, a tesourinha cortou demais, o que vai fazer com esse tanto de gente desempregada?” Ela também manifestou dificuldade de votar ou escolher um lado nas manifestações. “Não apoio nem sou contra. A gente nunca sabe quem vai fazer alguma coisa. Na hora de votar é uma dificuldade terrível”.
Para quem ainda não vota, ficar neutro frente a essas manifestações parece uma boa opção. É o caso do estudante de nível médio Marcelo Alves, que só vai ter direito a voto nas eleições de 2018. “Como sou menor de idade na próxima eleição que eu vou votar, então no momento ainda não tenho”.
Além da dificuldade de votar e do entendimento de que a corrupção é histórica no Brasil e está em diversos partidos, aqueles que não optaram por nenhum dos lados citam a necessidade refundar a política para que não haja mais desvios.
O sapateiro e engraxate Luiz Carlos Alves Correia diz que a corrupção é um problema enraizado no sistema político brasileiro mas que o povo não é assim e que o combate deveria ter começado há mais tempo. “Já virou costume (pensar) que roubar faz parte da cultura dos políticos, mas não da população brasileira. O brasileiro tem uma opinião de que tem que mudar, o povo quer mudança, mas os caras não querem mudar. Tinha que cortar o mal pela raiz desde quando começou lá no início, mas está enraizado”. Para ele, há erros políticos nos dois pontos de vista. “Tanto o lado do Aécio [Neves], que não concorda em ter perdido as eleições, quanto o lado do PT, que não quer entregar o país de mão beijada para a direita”.
A estudante Fernanda Vila Verde concorda e vê interesses partidários no pedido de impeachment. “Tanto o partido da oposição, que quer que tudo aconteça, quanto o partido que está no governo roubam. Então não tem sentido um que rouba sair pra outro que rouba entrar. Eu acho que deveria sair todo mundo, limpar todo mundo e colocar todo mundo numa escola pra uma conscientização de o que é democracia, o que é ser cidadão, o que é não ser corrupto, pra aí conseguir alguém que talvez desenvolva um bom pensamento com o próximo para governar”. Com informações da Agência Brasil.