Mandetta focará campanha em saúde e orienta Marquinhos a não renunciar
Ex-ministro é primo do prefeito de Campo Grande e, por enquanto, segue caminho distinto do dele no pleito de outubro
CELSO BEJARANO, NYELDER RODRIGUES
Depois de se destacar nacionalmente como provável alternativa da chamada terceira via para enfrentar Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) na polarizada disputa pela Presidência da República, opção esta já derretida, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, do União Brasil – legenda que surgiu da fusão de DEM e PSL –, baixou a bola, mas ergueu o tom crítico.
Agora, na briga para se tornar pré-candidato ao Senado ou por uma das oito vagas na Câmara dos Deputados, já fez avaliação negativa da gestão do primo, o prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad (PSD), e também disse ser “frágil” a atenção dada à saúde pelo governo de Reinaldo Azambuja (PSDB).
Mandetta ainda não definiu se concorre ao Senado ou à Câmara. Ele assegurou à reportagem apenas que o Congresso Nacional “é o seu lugar”.
Em entrevista ao Correio do Estado no sábado (12), o ex-ministro falou de sua relação com os Trad, primos de primeiro grau, como viu o enfrentamento da Covid-19 no Estado e também disse que Marquinhos não deveria renunciar à prefeitura da Capital.
Mandetta afirmou que, antes de anunciar a pré-candidatura ao governo, Marquinhos perguntou a ele o que achava da possível renúncia.
“Acho que deve concluir o seu mandato [Marquinhos], foi eleito, não se deve renunciar a mandato”, esta foi a resposta dada ao prefeito de Campo Grande, que prevê sua saída antes do dia 2 de abril.
Ainda segundo Mandetta, a conversa parou por aí: “Mas desejo muito boa sorte a ele”.
Para concorrer ao governo, o prefeito tem de deixar o mandato seis meses antes do pleito, no caso, no início de abril. E, se perder, não pode mais assumir a prefeitura nessa gestão nem concorrer a outra em 2024.
Depois deste comentário, o ex-ministro disse que o convívio com os primos Trad “é normal”, ao contrário de informações de bastidores, que indicam um rompimento.
Mandetta recordou que politicamente já não participa de eleições ao lado dos parentes há quase oito anos, período que apoiou o então candidato Reinaldo Azambuja na campanha ao governo estadual.
“Em 2014, realizei a campanha do Reinaldo. Nelsinho [hoje senador] era candidato a governador. Temos maturidade suficiente para entender e lidar com isso”, afirmou.
O primeiro cargo público do ex-ministro foi exercido em 2005, período em que Nelsinho, então prefeito da Capital, o empregou como secretário municipal da Saúde.
Ao falar sobre a situação da saúde em Mato Grosso do Sul, ele reprovou a atual política aplicada ao segmento e deu uma dica acerca do mote de sua campanha, caso entre na disputa proporcional.
“Saúde é sempre um tema de preocupação. Até agora, nenhum governador de Estado executou o plano estadual de saúde. Estamos, infelizmente, 20 anos atrasados em relação a vários estados do Brasil”, criticou o ex-ministro.
Mandetta comentou ainda o enfrentamento da Covid-19, doença que já matou mais 10 mil pessoas em Mato Grosso do Sul de dois anos para cá.
“O SUS [Sistema Único de Saúde] mostrou muito sua força orgânica, que é a força dos agentes comunitários, a força do trabalho de mais de 30 anos de vacinação. A população conhece o sistema, então, mesmo com todos os negacionistas, a população se apropriou e o SUS deu a sua resposta e nós atingimos um bom índice de vacinação”, afirmou Mandetta, que em seguida apontou situações que ele classificou como “frágeis”, desta vez atingindo o governo de Azambuja.
Mandetta disse que o último hospital de “grande porte” construído no Estado foi o Hospital Regional, em Campo Grande, erguido ainda na gestão do ex-governador Pedro Pedrossian, na primeira metade dos anos 1990.
Ele afirmou também que é “frágil” a qualidade da saúde em Dourados, “que ancora em torno de 1,1 milhão de sul-mato-grossenses”, em Aquidauana, Jardim, Bonito, Bodoquena, Corumbá e Três Lagoas.
“Eu, como ministro, liberei equipamento para ativar hospital em Três Lagoas, mandei fazer o hospital de Dourados, que era pequeno, mandei fazer hospital do tamanho do Regional em Campo Grande”, disse o ex-ministro.
Mandetta afirmou ainda que, em 2009, Campo Grande aparecia como a capital com a “menor taxa” de mortalidade infantil do Brasil.
Já hoje, segundo ele, a cidade amarga uma dura estatística. Das 28 maiores regiões do Brasil, a capital sul-mato-grossense é a 27ª com maior número de mortalidade infantil.
O ex-ministro é uma das lideranças que continuam à frente do União Brasil após a fusão do DEM, seu partido original, com o PSL – de onde vem a atual líder da sigla, a senadora Soraya Thronicke.
Ao fim da conversa com a reportagem, ele ainda foi questionado sobre os motivos que levaram sua pretensão de candidatar-se a presidente a ruir. Em tom irônico, ele respondeu que “isso é história”.
CORREIO DO ESTADO