Mandetta afirma que continua no cargo, mas quando sair leva equipe

08/04/2020 08h08 - Atualizado há 4 anos

Após dia turbulento, ministro diz que fica para derrotar inimigo: a Covid-19

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Foto: Marcello Casal Jr. / Agência Brasil

A semana começou "turbulenta", como classificou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS). Ameaçado com a possível exoneração do cargo pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em meio a pandemia do novo coronavírus (Covid-19), o sul-mato-grossense afirmou em pronunciamento na noite de ontem que vai permanecer à frente da pasta para derrotar o inimigo.

"Nós vamos continuar porque continuando a gente vai enfrentar o nosso inimigo. O nosso inimigo tem nome e sobrenome nome: é o Covid-19. Temos uma sociedade para tentar lutar, para tentar proteger. Médico não abandona paciente e eu não vou abandonar", ressalto Mandetta.

No domingo o presidente Jair Bolsonaro apareceu em um vídeo afirmando que a "caneta dele ainda funciona" e complementando que "ainda não chegou a hora". "Eram pessoas normais, mas de repente viraram estrelas, falam pelo cotovelos. Mas a hora deles não chegou ainda não, vai chegar a hora deles porque a minha caneta funciona, não tenho medo de usar a caneta e nem pavor", disse o presidente em vídeo publicado nas redes sociais se referindo aos ministros, mas sem citar nomes.

As diferenças entre o presidente e o ministro começaram com as estratégias para combater a transmissão do Covid-19. Mandetta defende o isolamento social horizontal, seguindo recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), e Bolsonaro tem feito declarações minimizando o vírus, tratando como "gripezinha ou resfriadinho" e ainda pedindo para que seja feita um isolamento vertical, onde apenas pessoas com mais de 60 anos ou grupos de risco permaneçam em casa.

Ontem os bastidores da política davam como certa a exoneração de Mandetta até o fim da tarde. O ministro não participou da coletiva feita pela pasta todos os dias às 17h (horário de Brasília) porque estaria reunido com o presidente e demais integrantes do primeiro escalão do Governo Federal.

Por volta das 20h (horário de Brasília), Mandetta foi recebido sob aplausos para um pronunciamento. O ministro começou falando sobre o seu um ano e quatro meses a frente da pasta e ressaltou que sua equipe é técnica e ele é apenas o porta voz dos dados técnicos. "Sabemos da nossa responsabilidade, quis o destino que a melhor equipe técnica tivesse sido formada nesse intervalo de tempo. Procuramos ser a voz da ciência. Nós abrimos o Ministério da Saúde para todos os outros ministérios, são todos convidados para vir e ampliar. Não temos nenhum receio na crítica. A crítica construtiva enobrece e nos faz rever e das passos à frente. O que temos muita dificuldade é quando em determinadas situações, impressões, as críticas não vêm no sentido de construir, mas vem para trazer dificuldade no ambiente de trabalho. E isso eu não preciso traduzir, vocês todos sabem que tem sido uma constante", disse sem citar nomes.

Mandetta disse ainda que o dia não rendeu no ministério porque os servidores estavam preocupados se ele ia permanecer na pasta ou sair. O ministro afirmou que chegaram a limpar suas gavetas e alguns prestaram solidariedade afirmando que saem junto com ele. "Gente aqui dentro limpando gaveta, limpando as coisas. Até as minhas gavetas vocês ajudaram a fazer a limpeza".

Ainda durante o pronunciamento o ministro disse que quando sair sua equipe vai sair com ele, mas que estão dispostos a ajudar quem assumir a pasta. "Não é para parar enquanto eu não pedir, aqui entramos juntos, estamos juntos mas vamos sair juntos. Aqui nós estamos juntos e quando eu sair do ministério vamos colaborar com a equipe que chegar".

Apoiado pelo Senado Federal e pela Câmara dos Deputados, os generais que assessoram o presidente, no Palácio do Planalto, atuaram para apaziguar os ânimos e evitar a demissão. Conforme o Estadão Conteúdo, "assim como Bolsonaro, os militares também têm reparos à forma como o ministro se comporta. Eles consideram que Mandetta tenta capitalizar as ações da pasta. Mas avaliam que uma demissão, neste momento, fortaleceria os governadores que hoje travam uma queda de braço com o presidente".

Antes da reunião com Mandetta, o presidente Bolsonaro se reuniu com dois médicos que pretendem assumir a pasta. Ainda de acordo com a Agência Estado Bolsonaro excluiu o auxiliar novamente de uma reunião para discutir o uso da cloroquina em pacientes contaminados pelo Covid-19. No encontro, um almoço no Palácio do Planalto, estavam dois dos cotados para assumir a pasta em caso de demissão de Mandetta, o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), ex-ministro da Cidadania, e a médica imunologista Nise Yamaguchi, que tem sido elogiada por bolsonaristas nas redes sociais pela defesa do tratamento precoce com o medicamento.

Ao fim de seu pronunciamento, Mandetta disse que sabe do momento que o país está passando e está todo mundo fazendo seu sacrifício. "Nós também daremos o nosso sacrifício até quando formos importantes, nominados, fizermos alguma diferença. Ou até quando o presidente entender que outra equipe, para outro lado, que não queira esse tipo de trabalho, que encontre as pessoas certas e substitua".

Yarima Mecchi

CORREIO DO ESTADO