Lula e Blinken concordaram com necessidade de criar Estado palestino, diz Planalto
Secretário norte-americano agradeceu atuação do Brasil pelo diálogo entre Venezuela e Guiana, segundo comunicado
Após a reunião realizada nesta quarta-feira (21) entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, o Palácio do Planalto afirmou em comunicado que Brasil e Estados Unidos concordam com a necessidade de criação de um Estado palestino. O texto não menciona Israel, tampouco as declarações feitas pelo líder brasileiro que culminaram na abertura da crise diplomática com o país que tem Benjamin Netanyahu como primeiro-ministro.
"O secretário agradeceu a atuação do Brasil pelo diálogo entre Venezuela e a Guiana. O presidente Lula reafirmou seu desejo pela paz e fim dos conflitos na Ucrânia e na Faixa de Gaza. Ambos concordaram com a necessidade de criação de um Estado palestino", diz o comunicado do Planalto. O encontro durou 1h50 e foi realizado no Palácio do Planalto, em Brasília. A reunião contou com a participação da embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Elizabeth Frawley Bagley, e o assessor especial para assuntos internacionais, Celso Amorim.
Na reunião, Lula agradeceu o apoio dado pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, "por sua postura em defesa da democracia e pelas medidas que tem adotado em prol dos trabalhadores". O secretário e o petista abordaram temas como a iniciativa para trabalho decente lançado pelos dois chefes de Estado, em setembro do ano passado, e a cooperação na área ambiental, na transição energética e em infraestrutura.
Blinken informou que os EUA estudam realizar um novo aporte ao Fundo Amazônia, mas o texto não menciona cifras. O secretário e o presidente discutiram sobre parcerias trilaterais em agricultura, segurança alimentar e infraestrutura na África. Lula ressaltou a urgência em abordar o tema da dívida externa dos países africanos.
Após a agenda, Blinken afirmou que a reunião foi "ótima" e destacou que a parceria entre os dois países é "muito importante". A autoridade norte-americana evitou comentar mais uma vez o conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas. "Foi uma ótima reunião. Sou muito grato ao presidente pelo seu tempo. Ótima reunião. Os Estados Unidos e o Brasil estão fazendo coisas muito importantes juntos. Estamos trabalhando juntos bilateralmente, regionalmente, mundialmente. É uma parceria muito importante e somos gratos pela amizade", disse.
Segundo o porta-voz do governo norte-americano, Mathew Miller, Blinken discutiu o empenho dos EUA em relação ao conflito em Gaza, incluindo o trabalho urgente com parceiros para facilitar a libertação de todos os reféns e para aumentar a assistência humanitária e melhorar a proteção dos civis palestinianos.
A conversa ocorreu em meio à crise diplomática entre Brasil e Israel. O país, localizado no Oriente Médio, classificou Lula como 'persona non grata' pelas declarações em que comparou as ações de defesa israelense no conflito contra o grupo terrorista Hamas ao nazismo. Em reação, o presidente brasileiro chamou de volta o embaixador do Brasil em Tel Aviv, Frederico Meyer, para consultas. Nas relações internacionais, o termo é usado para demonstrar descontentamento.
O porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Mathew Miller, afirmou nesta terça (20) que os EUA discordam do comentário de Lula e que Blinken iria informar essa posição ao presidente brasileiro na reunião.
"Obviamente, nós discordamos desse comentário [de Lula]. Fomos bem claros em dizer que não acreditamos que um genocídio ocorreu em Gaza. Queremos ver o conflito terminar quanto antes. Queremos ver a assistência humanitária aumentar de forma sustentada para os civis inocentes de Gaza, mas não concordamos com aqueles comentários", disse.
O secretário enfatizou o apoio norte-americano à presidência do Brasil no G20 e a parceria Brasil-EUA pelos direitos dos trabalhadores. Blinken vai manifestar suporte à cooperação na transição para a energia limpa e às comemorações do bicentenário das relações diplomáticas entre o Brasil e os EUA, completados em 2024.
Agora, Blinken segue para o Rio de Janeiro, onde vai participar da reunião de ministros das Relações Exteriores do G20. Um dos objetivos é engajar líderes mundiais para "aumentar a paz e a estabilidade, promover a inclusão social, reduzir a desigualdade, acabar com a fome, combater a crise climática, promover a transição para a energia limpa e o desenvolvimento sustentável e tornar a governança global mais eficaz".
O secretário norte-americano segue depois para Buenos Aires. Na capital argentina, Blinken vai discutir questões bilaterais e globais com o presidente Javier Milei. Entre os temas estão crescimento econômico sustentável, direitos humanos, governança democrática, minerais críticos, fortalecimento de investimentos e comércio que beneficiam ambos os países.
Plínio Aguiar, do R7, em Brasília