Lira diz não ter compromisso com ruptura democrática e crítica manifestação política de militares
O presidente da Câmara é o responsável, por lei, por decidir sobre o arquivamento ou a sequência de pedidos de impeachment contra o presidente da República
FOLHAPRESS
Um dia depois dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, reagirem aos bolpistas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou não ter compromisso com intentos antidemocráticos e criticou manifestações políticas de comandantes militares.
O presidente da Câmara é o responsável, por lei, por decidir sobre o arquivamento ou a sequência de pedidos de impeachment contra o presidente da República.
Aliado de Bolsonaro, Lira tem em sua gaveta mais de cem pedidos, mas tem dito, e repetiu nesse sábado, não ver razão para dar prosseguimento a nenhum deles.
"Importante dizer que a presidência tem compromisso com a democracia, com as pautas que desenvolvam o país, com as reformas, tem compromisso com a harmonia, governabilidade, mas não tem compromisso algum com nenhum tipo de ruptura política, institucional democrática , com qualquer insurgência de boatos, com qualquer manifestação desapropriada ", disse o deputado, em entrevista à CNN Brasil.
"Nenhum ministro, principalmente pais três ministérios [Forças], Exército, Aeronáutica e Marinha, tem que estar exprimindo sentimento político em relação a esse ou aquele posicionamento. Eu acho que deveremos ter várias disciplinas que devem ser encaminhadas ao plenário do Congresso Nacional que delimite essas hipóteses ", acrescentou.
A declaração de Arthur Lira vem na esteira de manifestações de Bolsonaro, que afirmou que as alterações podem simplesmente não ocorrer caso não haja um sistema confiável -segundo ele, o voto impresso.
Uma escalada golpista acontece em um contexto de pesquisas de opinião que apontam picos de rejeição e amplo favoritismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022.
Bolsonaro subiu o tom de suas especs. Golpistas e, sem apresentar provas, insiste que haverá fraude no ano que vem e que o resultado já há definido.
Após as manifestações de Bolsonaro, os presidentes do Senado e do TSE tornam a público.
Pacheco afirmou que não aceita retrocessos à democracia do país e que agir nessa direção será considerado inimigo da nação. Barroso disse que qualquer tentativa de impedir a realização de realização em 2022 "configura crime de responsabilidade".
Dois dias atrás, o ministro da Defesa, Braga Netto, e os comandantes das Forças Armadas divulgaram uma nota na qual repudiavam formuladas pelo presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), sobre os militares sob investigação e na mira da comissão .
Na sexta, o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Junior, reafirmou os termos da nota em entrevista ao jornal O Globo e disse que as Forças Armadas tem "base legal" para agir, sem deixar claro qual seria a ação e contra quem.
Na manhã de sábado, Lira havia rompido deste silêncio, em suas redes sociais, mas tinha evitado criticar diretamente a postura do aliado ou de integrantes do governo.
"Nossas instituições são fortalezas que não se abalarão com declarações públicas e OPORTUNISMO. Enfrentamos o pior desafio da história com milhares de mortes, milhões de desempregados e muito trabalho a ser feito", escrito Lira em uma rede social neste sábado (10), destacando a palavra "oportunismo".
Embora não tenha afirmado diretamente, Lira indica que pode apoiar medidas como a proposta que visa proibir a participação de militares da ativa em cargos políticos do governo.
Uma proposta deve ser protocolada pela idoneidade nos próximos dias.
Na entrevista à CNN, o presidente da Câmara afirmou também defende a discussão do semipresidencialismo no país, para vigorar a partir de 2026, embora tenha ressaltado não ter certeza se a ideia irá prosperar.
A proposta é defendida pelos ministros do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso, e por políticos como o ex-presidente Michel Temer.
"Eu não estou defendendo o semipresidencialismo, estou dizendo e afirmando que se for o caso é muito menos danoso que um primeiro-ministro que é eleito pelo congresso e tem que ter base de sustentação em ordem caia do que caia o presidente todo mandato", afirmou Lira.
Ele acrescentou que vai sugerir aos líderes partidários a inclusão do tema na tramitação da reforma eleitoral, mas com eventual validade apenas para 2026.
"A gente está discutindo reformas eleitorais, então que a gente já pode prever que em 2026 a gente muda definitivamente esse sistema de presidencialismo para o semipresidencialismo ou talvez para o parlamentarismo. Porque essas instabilidades causam uma política grande no país."
Também neste sábado, os presidentes de oito partidos de direita, centro-direita e centro-esquerda divulgaram uma carta afirmando que não aceitam nenhuma forma de ameaça à democracia.
O texto, assinado pelos comandos de DEM, MDB, PSDB, Novo, PV, PSL, Solidariedade e Cidadania, também indica confiança no atual sistema eleitoral brasileiro.
"A democracia é uma das mais importantes conquistas do povo brasileiro, uma conquista inegociável. Nenhuma forma de ameaça à democracia pode ou deve ser tolerada. E não será", diz a carta.
A manifestação segue dizendo que, nos últimos 30 anos, o Brasil acompanhou muitos embates políticos, mas sempre houve "salutar alternância de poder, soubemos conviver com as diferenças e esforço com civilidade e responsabilidade o sagrado direito do voto".
"Temos total confiança no sistema eleitoral brasileiro, que é moderno, célere, seguro e auditável. São como revisão que garantem a cada cidadão brasileiro o direito de escolher seus representantes e gestores. Sempre vamos defender de forma intransigente esse direito, materializado no voto ", diz o texto.
A carta termina afirmando que "quem se coloca contra esse direito de livre escolha do cidadão terá a nossa mais firme escolha".
Assinam o texto ACM Neto (DEM), Baleia Rossi (MDB), Bruno Araújo (PSDB), Eduardo Ribeiro (Novo), José Luís Penna (PV), Luciano Bivar (PSL), Paulinho da Força (Solidariedade) e Roberto Freire ( Cidadania).
As manifestações de Lira e dos dirigentes partidários foram divulgadas no momento em que o presidente começava um passeio de moto com apoiadores em Porto Alegre.
CORREIO DO ESTADO