Hacker diz à PF que entrava pela porta de trás da Defesa de máscara para evitar identificação

22/08/2023 04h00 - Atualizado há 1 ano

Segundo advogado, em novo depoimento, Delgatti também deu detalhes da sala em que se encontrava com militares e técnicos

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FOTO: EDILSON RODRIGUES/AGÊNCIA SENADO

O hacker Walter Delgatti contou à Polícia Federal que nas idas ao Ministério da Defesa era orientado a entrar pelas portas dos fundos e usando máscara de proteção para evitar ser identificado. Ele também deu detalhes da sala onde se encontrava com técnicos e militares durante um novo depoimento prestado à corporação, na sexta-feira (18), após participação na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro. As informações foram confirmadas ao R7 pelo advogado do hacker, Ariovaldo Moreira.

Delgatti confessou na CPMI ter ido à Defesa cinco vezes, por determinação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e com o objetivo de pôr em prática um plano de divulgar à população questionamentos sobre a segurança do sistema eleitoral brasileiro. Nas idas à Defesa, o hacker disse ter sido recebido pelo ex-ministro Paulo Sérgio Nogueira e se encontrado com a equipe técnica da pasta.

O hacker afirmou que orientou o relatório feito pelo ministério sobre o sistema de votação. "Posso dizer que, de forma integral, aquele relatório tem exatamente o que eu disse", afirmou Delgatti aos parlamentares. O referido relatório sugere dúvidas sobre o sistema eleitoral, já que diz não ser possível atestar a "isenção" das urnas. Essa foi a primeira vez que a pasta fez um documento do tipo. Até então, as Forças Armadas apenas participavam da logística do processo eleitoral.

No novo depoimento à PF, o hacker confirmou a versão dada na CPMI. Os investigadores querem provas por meio de imagens das entradas de Delgatti na Defesa. Por isso, ele detalhou a forma com que entrava no local. Segundo ele, ao passar pelos fundos, não havia o registro formal exigido na portaria. Ele também usava máscara de proteção por orientação da equipe de Bolsonaro, mesmo sem haver obrigatoriedade do uso e como forma de dificultar a identificação.

Na avaliação do advogado, essas informações trazem mais elementos para a investigação e corroboram para mostrar que Delgatti "está falando a verdade". Moreira alegou que a versão do hacker tem se mostrado consistente e faz com que Bolsonaro e a deputada Carla Zambelli (PL-SP) voltem atrás de versões anteriormente apresentadas. "Antes negavam pagamentos, o encontro no Palácio, as idas à Defesa, a invasão ao sistema do CNJ [Conselho Nacional de Justiça]. Isso tudo se confirmou", afirmou Moreira.

A defesa do ex-presidente Bolsonaro chamou as declarações do hacker à CPMI do 8 de Janeiro de "falsas e totalmente desprovidas de qualquer tipo de prova". Em nota, os advogados informaram que vão adotar "as medidas judiciais cabíveis".

"Quando de sua passagem pelo Palácio da Alvorada, acerca de suposta vulnerabilidade no sistema eleitoral, o então presidente da República, na presença de testemunhas, determinou ao Ministério da Defesa a apuração das alegações, de acordo com os procedimentos legais e em conformidade com os princípios republicanos, seguindo o mesmo padrão de conduta observado em todas as suas ações enquanto chefe de Estado", disse a defesa de Bolsonaro.

Já o advogado de Zambelli, Daniel Bialski, disse que "refuta e rechaça qualquer acusação de prática de condutas ilícitas ou imorais pela parlamentar". O comunicado alega ainda que a versão de Delgatti é "totalmente despida de credibilidade".

 Bruna Lima, do R7, em Brasília