Goiás: Caiado defende lockdown de 14 dias e oferece polícia a prefeitos

29/06/2020 09h29 - Atualizado há 4 anos

Em discurso duro nesta segunda-feira, o governador afirmou que é preciso assumir responsabilidade sem pensar em pressão ou votos

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Ronaldo Caiado, governador de Goiás

Reprodução/Facebook

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), afirmou nesta segunda-feira (29) que, se dependesse exclusivamente dele, todos os 246 municípios do Estado entrariam hoje no sistema 14x14, com todas as atividades econômicas não essenciais paralisadas por duas semanas.

"A responsabilidade é de todos nós. Cada prefeito e cada prefeita vai responder pelos casos de seus municípios", declarou na videoconferência que contou com profissionais de saúde, deputados federais goianos, representantes das cidades e de órgãos públicos.

Goiás tem hoje 21.984 casos, com 435 mortes registradas. Apesar de, na comparação com os outros Estados, os números serem baixos, a curva de novas infecções é a que mais cresce no país, enquanto os óbitos seguem estáveis.

Caiado disse que não se pode pensar em eleições nesse momento. "Ah, não fica bem pra mim. O comerciante não vai gostar, eu vou perder voto. Eu não transijo da minha posição. Fornecerei as minhas polícias a todos os prefeitos que querem que haja o comprimento do isolamento. Porta de supermercado não sera o que é hoje, em que famílias vão inteiras para a frente da lojas."

O nível de isolamento no Estado varia atualmente entre 33% e 37%.

O sistema 14x14 foi sugerido pouco antes da fala de Caiado pelo professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) Thiago Rangel.

Segundo Rangel, professor do departamento de Ecologia da UFG, baseando-se em um detalhado estudo da instituição, fechar todas as atividades econômicas não essenciais por 14 dias e logo em seguida retomá-las por igual período até o fim do ano evitaria 8.360 mortes no Estado nos próximos três meses.

"Um fechamento desse tipo é mais eficiente em óbitos e para a economia. Fica 50% do tempo fechado, mas salva 61,5% das pessoas que poderiam ser salvas."

Monitoramento

Caiado disse concordar 100% com o estudo da UFG sobre as melhores ações necessárias, inclusive com relação ao rastreamento de infectados e das pessoas a sua volta.

O professor defende o isolamento imediato de todas as pessoas que adquirirem a covid-19 e de parentes e contatos que essa pessoa tenha tido nos dias anteriores à infecção. 'Assim, nós quebramos essa rede de contato que o vírus usa para se espalhar', explica.

De acordo com eles, todos devem passar por uma quarentena de 10 dias. "Essa estratégia não demanda novos testes, mas se tiver testes, melhor ainda. O importante dela é que não é preciso colocar em quarentena a população inteira."

O secretário de Saúde do Estado, Ismael Alexandrino, admitiu que a situação de Goiás está a beira do colapso. E que faltam recursos.

"O estudo da UFG aponta a necessidade de 2 mil leitos disponíveis, mas isso é impossível." A expectativa de Alexandrino é fechar junho com 500 leitos.

O secretário destacou também outro ponto, que deve ser responsável por elevar o número de óbitos por causa da covid-19. "A capacitação dos profissionais de saúde é cada vez menor. Faltam pessoas. O MEC chegou a formar pessoas com seis meses antes da conclusão dos cursos. Essa qualidade certamente vai impactar na letalidade.

Testes

O governador de Goiás defendeu também que o dinheiro que os prefeitos receberam e vão receber do governo federal para o combate à pandemia seja utilizado principalmente na testagem da população, de preferência em regiões com altos números de doentes.

"O que eu sugiro agora é um sistema de mutirão com todas as nossas forças convergindo para um único objetivo: não atingirmos o número de óbitos projetado pela UFG. Eu concordo com o professor Thiago Rangel: 'Isso é imoral, desumano'. Eu não posso aceitar omissão de qualquer uma das autoridades nesse momento", afirmou Caiado.

Para o governador, o ideal seria a testagem, semanalmente, de todos os servidores e trabalhadores de empresas privadas que tenham que se deslocar para a função. "A melhor utilidade das verbas seria a contratação de exames mais conclusivos, como o PCR-RT."

O estudo da UFG apontou que, se nada for feito no Estado de Goiás para aumentar o isolamento e o monitoramento de casos, morrerão 13.530 pessoas por causa do novo coronavírus nos próximos três meses.

BRASIL

Marcos Rogério Lopes, do R7