Família de Cid diz que defesa de Bolsonaro ligou para filha de delator

27/06/2025 05h38 - Atualizado há 7 dias

Mãe e esposa de delator prestaram depoimento à Polícia Federal; elas também relataram que advogados do ex-presidente pressionaram por "defesa conjunta" na ação penal que apura golpe de Estado

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Então presidente Jair Bolsonaro e seu então ajudante de ordens, Mauro Cid • 18/06/2019REUTERS/Adriano Machado

A família do ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tenente-coronel Mauro Cid, afirmou em depoimento à PF (Polícia Federal) que a defesa do ex-presidente ligou para a filha do delator da ação penal que apura uma tentativa de golpe de Estado no país.

“No ano de 2023, provavelmente nos meses de agosto e setembro, o advogado Fábio Wajngarten me telefonou diversas vezes. Eu não atendia essas Ligações. Atendi a ligação, após pedido de minha filha [...] que era alvo de ligações constantes e insistentes por parte dele”, afirmou Gabriela Cid, esposa do ex-ajudante de ordens.

Na ocasião, Wajngarten era advogado de Bolsonaro, mas deixou a defesa do ex-presidente em julho do ano passado.

De acordo com a esposa, o motivo da ligação seria para “persuadir” a família para que o Mauro Cid trocasse de advogado no inquérito.

“Nessa oportunidade, fiz uma gravação em vídeo da ligação onde ele tenta me persuadir a trocar de advogado”, afirmou Gabriela.

De acordo com a esposa, as ligações começaram após o tenente-coronel decidir trocar de advogado para ser defendido por Cezar Bitencourt, que após assumir a defesa de Cid costurou junto à PF um acordo de colaboração premiada para o ex-ajudante de ordens.

À PF, a mãe do delator, Agnes Barbosa Cid disse que foi procurada em três ocasiões, entre agosto e dezembro de 2023, pelo advogado Eduardo Kuntz, que defende Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro.

Segundo a mãe de Cid, na primeira e terceira vezes, ele foi sozinho à Hípica, em São Paulo, onde a filha de Cid competia. Na segunda, o advogado estava acompanhado de Paulo Bueno, defensor de Jair Bolsonaro.

"Essas tentativas de aproximação eram muito constrangedoras, porque eu sabia o que eles queriam, basicamente, que trocássemos de advogados e que fossem todos ligados a uma única defesa", relatou.

Obstrução de investigação

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), disse haver indícios de que advogados de Bolsonaro também tenham tentado obstruir a investigação sobre o golpe de Estado.

Ele determinou que Wajngarten e Paulo Costa Bueno sejam ouvidos pela Polícia Federal (PF) em até cinco dias.

A medida foi tomada depois que a defesa do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator do esquema, entregou uma série de documentos à PF.

Os materiais buscam contestar informações prestadas por Eduardo Kuntz, advogado do coronel Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro que já se encontra preso por tentar atrapalhar a investigação.

Kuntz informou ao STF ter sido ele o interlocutor de Cid em uma série de mensagens trocadas nas redes sociais e tornadas públicas pela revista Veja. O advogado passou a ser investigado por obstrução.

Ele afirmou que nunca havia tomado a frente de procurar Cid ou seus familiares e atribuiu ao tenente-coronel a iniciativa de tentar contato por meio das redes sociais.

Jussara Soares, Teo Cury e Luísa Martins, da CNN, Brasília