Eduardo Cunha dá últimos retoques em delação, diz revista

11/07/2017 00h00 - Atualizado há 4 anos
Cb image default
Divulgação

O presidente Michel Temer vai ter sua situação política piorada à medida em que o setor do empresariado entender que o melhor é a retirada do presidente. A análise é de Clarisse Gurgel, cientista política e professora da UniRio ao comentar reportagem da revista Veja sobre os preparativos finais da delação do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Na edição deste fim de semana, a publicação informa que a delação de Cunha tem dez capítulos dedicados exclusivamente a Temer, a quem vai acusar de ser o verdadeiro chefe da organização criminosa formada pelo chamado PMDB da Câmara. A delação, ainda segundo a Veja, vai citar 50 parlamentares envolvidos em recebimento de propina por parte de empresas.

PF reforça ao STF que não houve edição em áudio de Temer e Joesley

A cientista política observa que Temer é alvo de várias ações, entre elas o vazamento da conversa entre ele e Joesley Batista, do JBS. Segundo ela, todas essas ações já poderiam ser suficientes para tirar o presidente, algo mais grave do que os motivos (pedaladas fiscais) que levaram ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016.

O que derruba um presidente não é uma denúncia de corrupção. É quando o setor do empresariado, que hegemoniza a política no Brasil, sentar e entender que o melhor é derrubar esse presidente ou um outro. A delação do Eduardo Cunha pode ser no mesmo nível da gravação com o Joesley Batista, mas se o empresariado entender que é melhor um segundo impeachment, porque o presidente não está conseguindo implementar as reformas, aí ele vai para derrubar. Poderia ser uma delação bombástica ou insignificante, diz Clarisse.

Para a cientista social, esse comportamento já pode ser visto na grande mídia, principalmente da parte da Rede Globo, que se converteu no principal termômetro desse processo. Na visão de Clarisse, se a emissora ainda não desistiu e porque alguma chance (a saída de Temer) ela tem.

Essa delação (de Cunha) não é qualquer uma. É de quem tem muita entrada no mercado político. Se ele vai dizer muito ou pouco não importa muito. Importa muito mais se o empresariado já tomou uma decisão. Enquanto o empresariado não tiver um nome, ele segue na indecisão, porque ainda não apareceu um nome para substituir o Luiz Inácio Lula da Silva. Quando aparecer esse nome, se aparecer, aí o empresariado vai ficar mais à vontade para tomar a decisão (se mantém ou retira Temer), afirma a professora da UniRio, lembrando que também houve uma tentativa de intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para impugnar a chapa Dilma-Temer.

Clarisse diz que vários planos estão sendo formados, mas que ainda não conseguiram ser a gota d´água, como tem tentado fazer a mídia, e, em especial, a Globo. Para a cientista social, ao acusar o envolvimento de Temer com a organização criminosa formada pelo chamado PMDB da Câmara, Cunha ostenta um cinismo cirúrgico.

Toda a aparência carrega nela uma essência. Há algo de verdadeiro no que Cunha fala, quando ele diz que é um crime organizado. Ele fala da forma que precisa falar, quando é preciso falar. Há uma tarefa que ele precisa cumprir, como ele cumpriu quando ele ocupou a presidência da Câmara e aceitou sair preso. Essa disciplina que Cunha tem, apesar de parecer performático, não é a cara do Eduardo Cunha. A verdadeira é a do soldado do mercado político, que diz o que é preciso ser dito, na hora em que é preciso ser dito. Para ele, é preciso ser salva uma parte do PMDB. Rodrigo Maia (presidente da Câmara) está poupado do rol dos corruptos, afirma a professora.

O deputado federal Ênio Verri (PT-PR) tem opinião contrária à da cientista social.

Uma delação de Cunha, depois que foi cassado, não tem peso nenhum. Ele acha que com isso ele vai ganhar mais benesses, como redução da pena, ou algo do gênero. Segundo porque ele já mandou dizer que tem uma página da delação endereçada ao Rodrigo Maia. Com relação à chamada organização criminosa, Eduardo Cunha é sócio aí junto com o Temer. Isso vai sobrar também para o Rodrigo Maia, não tenho dúvida, e vai aprofundar ainda mais a crise política que vivemos. Também estou convencido que o chamado PMDB da Câmara, que conhecemos há muito tempo, é uma bancada que apoia o governo, não importa se à direita ou à esquerda, e que, para apoiar, cobra a sua caixa, via ministérios ou cargos estatais, diz o deputado.

Para Verri essas denúncias vão enfraquecer ainda mais o PMDB, hoje já bastante fragilizado, e ajudarão a população a ver como age o partido. E com isso reduzirá o número do perfil desses deputados que vêm para a Câmara não para defender projetos, mas para defender projetos individuais e contra os interesses do povo brasileiro, finaliza. (Sputnik News Brasil)

Imagem ilustrativa  Eduardo Cunha - ano-zero.com