Deputado eleito diz que seu nome foi citado "indevidamente" por suspeito de terrorismo
George Washington de Oliveira, preso por tramar atentado a bomba em Brasília, pediu para ligar para Marcos Pollon (PL-MS); deputado eleito diz que não conhece suspeito, e que muitos o procuram sem conhecê-lo
O deputado estadual eleito e diplomado, Marcos Pollon (PL), informou ao Correio do Estado que a Associação Nacional Movimento Pró Armas (AMPA), instituição que ele preside, não tem nenhuma relação com o atentado à bomba que o gerente de posto de combustível no Pará, George Washington de Oliveira Sousa, pretendia fazer em Brasília (DF).
George está preso desde o dia 25 em Brasília, depois de tentar explodir um caminhão tanque com combustível. O nome de Pollon foi citado pelo pré-candidato ao governo do Pará pelo Pros, Ricardo Cunha, que é apontado como um dos financiadores de George Washington, conforme reportagem publicada pelo site O Antagonista.
Cunha manteve contato com George, que logo depois de ser preso, ainda na delegacia, havia perguntado a ele sobre o telefone de Marcos Pollon.
“Não há qualquer relação com este atentado”, disse o deputado federal eleito ao Correio do Estado. Pollon também enviou uma nota do Movimento Pró Armas, em que o movimento reitera seu compromisso com os preceitos estabelecidos pela Constituição Federal.
“Em especial o de se reunir pacificamente, SEM ARMAS, em locais abertos ao público”, afirma a nota do Pró Armas.
Em outro tópico, o Pró Armas acrescenta: “repudia toda e qualquer conduta que vise incentivar a pauta Pró Armas por meio de atividades criminosas ou artifícios totalitários, pois imputa a todos aqueles que defendem seu direito natural à vida e à liberdade o rótulo de criminosos”.
Pollon reconheceu que, por ser uma liderança muito conhecida em todo o Brasil, muitos o procuram, sem sequer conhecê-lo. “As pessoas simplesmente pedem para falar com a gente, mas não temos relações com nada disso que está acontecendo”, disse ao Correio do Estado.
A citação
O site O Antagonista entrevistou Ricardo Cunha, que descreveu um telefonema de George Washington na madrugada, quando o suspeito de atentado a bomba em Brasília já estava preso.
“Eu estava chegando em Redenção, uma cidade vizinha da minha. Já era 1:30 da manhã quando George ligou da delegacia, pedindo que eu procurasse uma pessoa chamada Pollon [Marcos Zborowski Pollon], do Pró Armas. Que avisasse pra mulher dele que ele estava preso, mas estava bem“, disse Cunha, que nega ter enviado qualquer valor para o empresário preso para pagar advogados ou qualquer outra despesa.
Ao Antagonista, Cunha disse que Washington é uma pessoa boa, e acredita que a culpa são dos “remédios controlados”. Os autos da prisão citam que o empresário preso faz uso de Vervanse, uma medicação controlada usada para Transtorno de Déficit de Atenção por Hiperatividade (TDAH).
“O Washington é uma pessoa boa. O problema dele são os remédios controlados que ele toma”, disse Cunha a este site.
Pollon
Marcos Pollon (PL) foi o deputado federal mais votado por Mato Grosso do Sul nas Eleições 2022. Ele conquistou 103.111 votos nas urnas.
Advogado por profissão, e fundador do Pró-Armas, movimento que tem como garoto-propaganda e entusiasta o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), Pollon apoiou-se no discurso bolsonarista e na pauta armamentista para se eleger.
O Correio do Estado fez contato com Marcos Pollon, mas não teve retorno até a publicação da reportagem.
Entenda
Após a prisão de um homem na véspera de Natal, a Polícia Civil do Distrito Federal investiga a participação de outras pessoas na tentativa de explosão de uma bomba em área próxima ao aeroporto de Brasília.
No sábado, um manifestante ligado aos protestos de apoiadores de Jair Bolsonaro no Quartel General do Exército, em Brasília, confessou ter armado o artefato, alegando que queria “provocar o caos” para levar à intervenção das Forças Armadas e impedir a posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.
George Washington de Oliveira Sousa, de 54 anos, gerente de um posto de combustível no Pará, é defensor do atual presidente e tem conexões com outros bolsonaristas que acampam em frente ao QG do Exército.
À polícia, ele afirmou que o plano era atingir também um poste duplo de uma subestação de energia em Taguatinga, região administrativa do Distrito Federal, para provocar falta de energia e dar “início ao caos que levaria à decretação do estado de sítio”.
O plano ainda envolveria explodir uma bomba no estacionamento do aeroporto de Brasília durante a madrugada e, em seguida, seria feita uma denúncia anônima de que outras duas bombas estariam no interior da área de embarque.
O Tribunal de Justiça do DF autorizou a prisão preventiva do suspeito no fim da manhã de domingo. “Tem outras pessoas envolvidas que serão identificadas e presas”, disse o diretor-geral da Polícia Civil do DF, delegado Robson Cândido, em entrevista coletiva.
“Ele queria, o grupo dele, gostaria de chamar a atenção, justamente ir para o aeroporto explodir lá esse artefato para causar um tumulto dentro da nossa cidade com esse objetivo ideológico deles, político.”
De acordo com a polícia, o manifestante que confessou ter montado o explosivo, retirado da Estrada Parque Aeroporto, viajou de Xinguará, no Pará, a Brasília para participar das manifestações em apoio a Bolsonaro “por acreditar que ele é um patriota e um homem honesto”.
O artefato explosivo foi encontrado à margem da pista de rolamento, no gramado de um canteiro central da via de acesso ao aeroporto.
À Polícia Civil, George Washington afirmou que fabricou a bomba com a dinamite que tinha, mais espoleta e detonador entregues a ele no dia 23, por volta de 11h30, por um “manifestante desconhecido” que estava acampado no QG.
A bomba poderia ser disparada por um controle remoto a cerca de 50 metros de distância.
George Washington disse que sugeriu que o artefato fosse usado na subestação em vez do aeroporto.
De acordo com o delegado, houve a tentativa de acionamento da bomba, mas o artefato não explodiu. Para ele, o homem queria implantar o “caos”.
“Ele faz parte desse movimento de apoio ao atual presidente e estão imbuídos nessa missão, segundo eles ideológica. Isso é um ato que nunca existiu em Brasília. Se esse material adentrasse o aeroporto seria uma tragédia jamais vista. A intenção deles era explodir (a bomba) e causar esse tumulto baseado nessa ideologia”, afirmou o delegado.
EDUARDO MIRANDA
CORREIO DO ESTADO