Depois de pressão, Tarcísio indica mãe de neto de Bolsonaro para cargo de R$ 43 mil nos EUA
Salário dela será maior que o dos ministros do STF, teto do funcionalismo; Martha Seillier é antiga aliada do bolsonarismo
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), cedeu depois de atrito público com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e indicou Martha Seillier, mãe do filho do vereador pelo Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos), a um emprego nos Estados Unidos com salário mensal de R$ 43,1 mil (US$ 9 mil). O cargo é na Agência Paulista de Promoção de Investimentos e Competitividade (InvestSP), organização social vinculada ao governo paulista.
O posto para o qual o governador escolheu a mãe do neto do ex-presidente Bolsonaro paga mais que o teto do funcionalismo público brasileiro, atualmente em R$ 39.293,32 — salário que recebem os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a mais alta Corte do país.
A escolhida de Tarcísio é considerada antiga aliada do bolsonarismo. Em 7 de setembro de 2021, participou das manifestações favoráveis ao ex-presidente. Ela chegou a postar um vídeo nas redes sociais com a hashtag "Supremo é o povo", divulgada entre extremistas que pediam o fechamento do STF.
Martha diz em uma rede social corporativa que tem bacharelado e mestrado em economia pela Universidade de Brasília (UnB), mas a reportagem não localizou registro ativo dela no Conselho Regional de Economia da 2ª Região (Corecon-SP) nem no Conselho Regional de Economia da 11ª Região (Corecon-DF). A inscrição é obrigatória por lei para o exercício da profissão de economista e funções relacionadas.
Em entrevista coletiva, Tarcísio confirmou a indicação dela ao cargo. O governador, no entanto, negou que tenha havido pedido ou pressão de Jair Bolsonaro. "Conheço ela há muitos anos. Fala três idiomas, é super competente, conduziu vários processos de privatização. Eu tive a ideia de oferecer para ela uma vaga para ser a embaixatriz do nosso programa de investimentos nos Estados Unidos, porque temos uma vaga e não temos uma pessoa qualificada", afirmou o governador, eleito às custas do apoio bolsonarista.
"Houve algum pedido do presidente? Zero. Nunca houve. Nunca me pediu nada", completou.
Polêmicas
Em 2020, a indicada de Tarcísio foi alvo de uma polêmica por ter sido levada, junto com outras duas pessoas, em um jato exclusivo da Força Aérea Brasileira (FAB) de Davos, na Suíça, para Nova Delhi, na Índia, onde Jair Bolsonaro estava. O caso culminou na demissão do então número dois da Casa Civil, Vicente Santini.
Até julho, Martha era diretora-executiva do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Washigton. Ela foi nomeada pelo governo Jair Bolsonaro. Anteriormente, a economista ocupou, entre outros cargos no governo, a presidência da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) — também durante a gestão de Bolsonaro.
Atrito com Bolsonaro
A indicação de Tarcísio ocorre após um atrito público com Bolsonaro por causa da reforma tributária. Em uma reunião do PL em Brasília, no mês passado, quando o governador tentava convencer os parlamentares do partido a apoiar a matéria, Bolsonaro interrompeu o discurso dele e se posicionou contra a reforma.
"Se o PL estiver unido, não aprova nada", disse o ex-presidente, que foi aplaudido pela maioria dos políticos que estavam na reunião. O PL elegeu a maior bancada da Câmara em 2022: 99 deputados federais.
Sobre a InvestSP
De acordo com o site da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de São Paulo, a organização para a qual Martha foi indicada "atua como porta de entrada das empresas que pretendem se instalar ou investir na expansão dos seus empreendimentos em solo paulista, fornecendo, gratuitamente, informações estratégicas que ajudam os investidores a encontrar os melhores caminhos para seu investimento no Estado".
Do R7, em Brasília