Delação de Cid tem 50 páginas e 6 anexos; saiba detalhes

24/11/2023 08h08 - Atualizado há 1 ano

Documento é dividido em cinco temas: plano de golpe, 8 de janeiro, joias sauditas, gabinete do ódio e falsificação de carteiras de vacinação

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE/Código imagem:

Vista como uma delação-bomba contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a colaboração premiada do ex-ajudante de ordens da Presidência tenente-coronel Mauro Cid é dividida por temas que são investigados pela Polícia Federal (PF).

A CNN apurou com fontes que tiveram acesso à delação que o depoimento do militar consta em 50 páginas e é separado em seis anexos, com os seguintes assuntos: plano de golpe, 8 de janeiro, joias sauditas, gabinete do ódio e falsificação de carteiras de vacinação.

Cada tema tem cerca de oito páginas. Em todos os anexos, Mauro Cid cita Jair Bolsonaro como articulador ou responsável pelos fatos investigados.

Na delação, Cid cita diversas reuniões entre o então chefe do Executivo com autoridades e convidados. Uma delas é um encontro de Bolsonaro com um jurista e um padre, no Palácio do Alvorada, mas sem contexto golpista, segundo investigadores.

Além do conteúdo escrito, a delação do ex-braço direito de Bolsonaro foi toda gravada em vídeo, conforme noticiado pela CNN em 1º de setembro.

A Polícia Federal segue em diligências solicitadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) para corroborar o que foi narrado por Mauro Cid em três dias de depoimentos, no fim de agosto. Documentos e quebras de sigilo da CPMI do 8 de janeiro podem ser usados para ajudar nesse confronto de informações.

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), homologou a delação em 9 de setembro.

O que Mauro Cid disse à PF:

Plano de golpe

Mauro Cid detalhou à PF mais de um encontro com teor golpista, mas uma reunião específica do então presidente chamou mais atenção dos investigadores: a com os comandantes das Forças Armadas para discutir um plano de golpe e uma minuta de estado de defesa. Nesse encontro, segundo Cid, Bolsonaro teria apresentado uma minuta para se manter na Presidência da República.

8 de janeiro

Cid disse que militares da reserva e da ativa costumavam atualizar o então presidente sobre o andamento das manifestações golpistas em frente aos quartéis do Exército após as eleições do segundo turno que pediam intervenção militar. Disse que os militares faziam um elo entre Bolsonaro e integrantes dos acampamentos antidemocráticos com envio de recados.

Os investigadores estão mapeando todas as reuniões realizadas entre Bolsonaro, o general Braga Netto e integrantes das Forças Armadas no fim de 2022.

Joias sauditas

Nesse tópico, Mauro Cid teria dito que cumpriu ordens “para resolver” e confessou que vendeu o Rolex por 35 mil dólares a mando do ex-presidente e repassou parte do dinheiro, em mãos, para Bolsonaro.

Gabinete do ódio

Mauro Cid disse à PF que o ‘gabinete do ódio’ funcionava dentro do Palácio do Planalto, onde trabalha o presidente da República, e que funcionários da Secretaria de Comunicação da Presidência disseminavam fake news repassadas pelo próprio presidente.

Cartões de vacina

Na delação, Cid afirmou que os documentos fraudados foram impressos e entregues em mãos ao ex-presidente para que ele usasse quando “achasse conveniente” ou “se precisasse”. E reforçou que “cumpriu ordens” de Bolsonaro.

Disse também que os dados falsos de Bolsonaro e da filha do político, de 12 anos, foram inseridos no sistema do Ministério da Saúde por servidores da prefeitura de Duque de Caxias (RJ), no dia 21 de dezembro de 2022, nove dias antes do ex-presidente viajar para os Estados Unidos.

Em maio, Cid foi preso como responsável pelo esquema que viabilizou a inserção de dados falsos em cartões de vacinação contra Covid-19. Na ocasião, Bolsonaro chegou a ser alvo de busca e apreensão e teve um celular apreendido.

Outro lado

A defesa de Jair Bolsonaro nega as acusações contra o ex-presidente. Segundo interlocutores, Bolsonaro não tinha tempo para tratar de assuntos operacionais e de execução de tarefas. O argumento é que assessores como Cid tinham suas responsabilidades e tomavam suas iniciativas.

Elijonas Maia da CNN