COP26: relatório apresentado pelos senadores aponta aumento do desmatamento

11/11/2021 09h43 - Atualizado há 2 anos

Eliziane Gama (CIdadania-MA) e Fabiano Contarato (Rede-ES) apresentaram relatório na COP26, em debate moderado pela ambientalista Marina Marçal (à esquerda)

Cb image default
Divulgação

Na audiência em Glasgow, na Escócia, para apresentação do mais recente Relatório de Avaliação das Políticas Climática e de Prevenção e Controle do Desmatamento, elaborado pela Comissão de Meio Ambiente (CMA), os senadores Fabiano Contarato (Rede-ES) e Eliziane Gama (Cidadania-MA) alertaram para a omissão e o desmonte, pelo governo federal, dos mecanismos de proteção ambiental. O texto também indica que o desmatamento ocorre em todos os biomas do Brasil e é efetuado pelos grandes proprietários de terra.

A audiência foi transmitida de Glasgow, onde os parlamentares compõem a representação do Senado na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26), dentro da iniciativa Brazil Climate Action Hub, promovida pelas organizações não-governamentais Instituto Clima e Sociedade (iCS), Instituto ClimaInfo e Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

O relatório de 2021, sob a relatoria de Eliziane Gama, atualiza a edição do documento organizada por Contarato em 2020 e, segundo ela, é apresentado ao mundo para mostrar a “real cara do Brasil” num contraponto ao discurso oficial do governo Bolsonaro.

A senadora afirmou que o documento identifica os retrocessos na execução da política de preservação ambiental e de mitigação das mudanças climáticas. Entre eles, aponta a substituição de técnicos por militares, motivada por motivos ideológicos e com graves consequências para a preservação do meio ambiente.

— (Mesmo com) um novo momento de retorno à proteção ambiental, ainda levará um bom tempo para termos reconhecimento internacional  — lamentou Eliziane Gama.

A senadora reconheceu a importância dos acordos assinados pelo Brasil, mas salientou que é preciso exigir políticas concretas além das boas intenções. Eliziane Gama cobrou que o Congresso brasileiro assuma sua missão de fiscalização e controle contra tentativas de “desconstrução da governança ambiental”.

Desmatamento

Para Fabiano Contarato, o relatório reúne fatos incontestáveis sobre o desmonte ambiental praticado pelo governo, que teria acabado “de fato” com o Ministério do Meio Ambiente, através do sucateamento dos órgãos de educação e fiscalização competentes.

— O Brasil não cumpriu o Acordo de Paris, com meta de redução de 80% no desmatamento. Não só não reduziu, como aumentou em 145% — avaliou.

Manifestando desconfiança diante das promessas do governo em Glasgow, Contarato disse que os parlamentares devem fazer sua parte, além do discurso, e “impedir” a tramitação de projetos que considera ataques ao direito constitucional ao meio ambiente equilibrado.

Impunidade

Tasso Azevedo, coordenador da iniciativa não-governamental MapBiomas, criticou o gargalo entre o levantamento de dados sobre desmatamento no Brasil e sua utilização na orientação de políticas públicas — situação que levou a entidade a emitir relatórios gerais de desmatamento em 2020 e 2021. O estudo deste ano,  ressaltou, aponta desmatamento em todos os estados, na metade dos municípios e atingindo todos os biomas. Para ele, os índices refletem a elevada expectativa de impunidade. O especialista observou ainda que as grandes propriedades são as responsáveis pelo desmatamento no país.

— Temos 6 milhões de propriedades, mas 99% das propriedades não tiveram desmatamento. Só que esse 1% está causando um estrago tamanho que os estragos chegam à COP, à credibilidade do Brasil — sublinhou.

Azevedo apelou aos membros do Legislativo para para que tornem a legislação mais clara, tornando o embargo ao desmatamento ilegal um ato compulsório dos órgãos de fiscalização e levantando obstáculos ao uso do produto do desmatamento na cadeia de produção.

A deputada Vivi Reis (PSol-PA) também manifestou-se apoiando o apelo ao compromisso ambiental dos parlamentares, especialmente num contexto de divulgação internacional de denúncias, e sublinhou a influência exercida pelos agronegócio no Congresso.

Fonte: Agência Senado