Brasil teve 40 lideranças políticas e familiares assassinados no primeiro semestre de 2023

31/07/2023 10h10 - Atualizado há 1 ano

Bahia lidera lista, com cinco casos entre janeiro e junho; especialistas dizem que ocorrências crescem desde 2019

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Vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018

RENAN OLAZ/CÂMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO

Entre janeiro e junho de 2023, 26 lideranças políticas foram assassinadas no Brasil e 14 familiares dessas pessoas foram mortas no país. Os dados são do Grupo de Investigação Eleitoral (Giel) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Ao todo, lideranças políticas e parentes foram vítimas de 217 casos de violência, que incluem ameaças, agressões, homicídios, atentados e sequestros, no período.

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ARTE/R7

O vereador Thiago Vieira Lopes (PDT), de 37 anos, conhecido como “Thiago Bala”, foi morto a tiros na zona rural do município de Itaguaru, localizado a 129 km de Goiânia (GO), em maio deste ano. De acordo com informações da Record TV, dois homens em uma moto passaram atirando e mataram o vereador. Os suspeitos ainda não foram identificados.

O Giel começou a acompanhar os casos de violência política no Brasil em janeiro de 2019. De lá para cá, até junho deste ano, foram contabilizadas 1.775 ocorrências gerais. Os episódios não estão restritos ao primeiro semestre deste ano: em 4 de julho, um suplente de vereador da cidade de Santa Rita, na Grande João Pessoa (PB), foi morto com 17 tiros. Willian do Nascimento Lira tinha 42 anos.

A vítima disputou as últimas eleições, no município, como Elton Lira, como era mais conhecido, e ficou com vaga de vereador suplente. Ele foi executado no Campo do Jaburuzão, no distrito de Bebelândia, com tiros de pistola e espingarda. Os suspeitos fugiram do local e estão sendo procurados.

O levantamento do grupo considera como lideranças políticas cidadãos com cargos eletivos — como presidente, senadores, governadores, deputados estaduais e federais, prefeitos, vice-prefeitos e vereadores —, funcionários da administração federal e municipal, ex-políticos e pré-candidatos.

Dos 40 assassinatos de lideranças políticas e seus parentes, cinco foram na Bahia, estado que lidera a lista. Em seguida, estão Piauí e Rio de Janeiro, com quatro casos cada. Dez unidades federativas não registraram homicídios de lideranças políticas no primeiro semestre de 2023 — Acre, Amazonas, Amapá, Distrito Federal, Pará, Roraima, Rio Grande do Sul, Sergipe, São Paulo e Tocantins.

"As lideranças políticas locais continuam sendo as vítimas mais atingidas pela violência no país", destacou o coordenador do Giel, o cientista político Felipe Borba, no último balanço divulgado pelo grupo. Entre janeiro e junho, 96 vereadores, 22 prefeitos e dois vice-prefeitos sofreram algum tipo de violência.

Os homens são as vítimas mais atingidas pela violência política: foram 179 episódios contra as lideranças políticas masculinas e 38 contra as mulheres. Em relação ao perfil etário, os casos de violência política atingiram lideranças políticas entre 22 e 80 anos. A faixa mais atingida entre janeiro e junho está entre 40 e 49 anos, com 73 vítimas.

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ARTE/R7

Episódios crescem desde 2019

As organizações Terra de Direitos e Justiça Global também monitoram a violência política no país. De acordo com o levantamento mais recente, 21 ocupantes de cargos eletivos foram assassinados entre setembro de 2020 e outubro de 2022 — dois prefeitos e 19 vereadores. Das 21 mortes, 16 ocorreram apenas em 2021.

Os grupos acompanham os episódios de violência política contra todos os cidadãos brasileiros, estejam em posição de destaque político ou não. Os casos analisados pelos grupos incluem assassinatos, atentados, ameaças, agressões, ofensas, criminalizações e invasões. Os levantamentos são feitos desde 2016.

“A violência política não é um fenômeno novo. Acontece desde que o Brasil existe”, analisa o pesquisador da Justiça Global Antonio Neto. Apesar de não ser novidade, os casos têm crescido há, pelo menos, quatro anos.

“Existe uma tendência de crescimento da violência política a partir de 2019, como nossos estudos mostram”, continua Neto. Entre as causas, o pesquisador destaca a manutenção de processos violentos de disputa por espaços. “Mas também temos identificado aumento dessa violência contra perfil de pessoas que não víamos antes, sobretudo mulheres negras que defendem pautas de direitos humanos”, observa, ao citar o assassinato da vereadora Marielle Franco, em março de 2018.

Até 2018, uma pessoa era vítima de violência política a cada 8 dias. Desde 2019, um indivíduo sofre esse tipo de violação a cada dois dias. Em 2022, foi registrado um caso a cada 27 horas.

Para Neto, o Legislativo brasileiro, tanto nas capitais quanto nos municípios interioranos, deve garantir e se responsabilizar pela segurança de seus integrantes, em todas as esferas de poder. “Os parlamentos precisam de políticas públicas específicas para garantir a segurança dos parlamentares. O sistema de justiça deve investigar e responsabilizar os autores das violências. A gente identifica que o combate à impunidade é um elemento muito importante para diminuir a violência política”, conclui.

Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília