Bolsonaro critica o aborto previsto em lei de menina de 11 anos que engravidou após estupro
Menina de 11 anos abusada sexualmente passou pelo procedimento esta semana em hospital de Santa Catarina. Presidente diz que "não se discute a forma" como a gravidez aconteceu e chamou a interrupção de barbárie.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) criticou legislação que autoriza aborto no Brasil e que permitiu a uma menina de 11 anos que foi estuprada interromper a gravidez.
Na quarta-feira (22), uma menina de 11 anos conseguiu fazer a interrupção da gravidez num hospital federal de Santa Catarina após semanas impedida por uma decisão judicial.
A criança engravidou após ser estuprada e, à Justiça, disse que não queria seguir com a gravidez.
Ao comentar o caso numa rede social, Bolsonaro afirmou que "não se discute a forma como ele [o feto] foi gerado, se está amparada ou não pela lei" e classificou o procedimento como "barbárie".
O presidente disse saber que se trata de um caso sensível e que tanto a criança como o feto são vítimas.
Nas postagens, o presidente destacou que o feto tinha 29 semanas. A legislação brasileira que autoriza o aborto não estabelece limite máximo de idade gestacional para interrupção da gravidez.
Bolsonaro afirmou, ainda, que pediu aos ministérios da Justiça e dos Direitos Humanos que investiguem o caso.
Gestação foi descoberta com 22 semanas
A menina descobriu a gestação quando tinha 22 semanas. Segundo a advogada da família, a menina procurou o hospital federal da Universidade Federal de Santa Catarina para realizar o aborto.
O hospital, entretanto, orientou a família a buscar uma autorização judicial para o procedimento. A instituição argumentou que usa esse procedimento a partir de protocolos e normas do Ministério da Saúde quando a gravidez passa as 20 semanas de gestação.
Uma norma técnica do Ministério da Saúde de 2012 recomenda que a interrupção da gravidez ocorra até 20 semanas, mas a legislação brasileira não estabelece esse limite nem exige autorização judicial para realização do aborto.
A família obteve a autorização judicial. Em 1º de junho, entretanto, a juíza do Tribunal de Justiça de Santa Catarina Joana Ribeiro, que então atuava na comarca de Tijucas (SC), determinou que a criança fosse afastada da família e enviada para um abrigo, impedindo a realização do aborto.
Segundo vídeos divulgados pelos sites Intercept e Portal Catarinas, que revelaram o caso, em uma audiência judicial, a juíza perguntou à criança se ela "suportaria ficar mais um pouquinho" para aumentar chance de sobrevida do feto. E questionou-a se ela desejaria ter o bebê — a menina disse que não.
Após a repercussão do caso, o Ministério Público Federal recomendou que o hospital universitário realizasse o aborto, o que ocorreu na quarta-feira (22).
A juíza é investigada pelo Conselho Nacional de Justiça e e pela corregedoria do Tribunal de Justiça de Santa Catarina. A promotora que atuou no caso e aparece na audiência é investigada pelo Conselho Nacional do Ministério Público e pela corregedoria geral do MP catarinense.
Em nota sobre o caso, a juíza disse que não se manifestaria sobre a decisão que tomou. A reportagem procurou a promotora por meio do MP, mas não obteve retorno.
Por g1 — São Paulo