Bandido vira herói, diz Lula sobre delatores da Operação Lava Jato
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta terça-feira (31) os investigados na Operação Lava Jato que passaram a colaborar com a Justiça por meio de acordos de delação premiada. Para Lula, com as colaborações, em que suspeitos de participação em esquema de corrupção na Petrobras dão informações em troca de redução da pena, bandido vira herói.
De acordo com o Ministério Público Federal, foram firmados 12 acordos de delação premiada na Lava Jato. Entre os delatores, estão o doleiro Alberto Youssef, suspeito de chefiar esquema de lavagem de dinheiro, e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, que confessou ter recebido propina de contratos firmados pela estatal. Também fecharam acordo de delação premiada executivos suspeitos de se beneficiarem do esquema.
Estão transformando a denúncia de corrupção a ponto que um bandido que é condenado a não sei quantos anos e resolve fazer delação premiada... Aí o bandido vira herói. Aí você não precisa delatar; diz eu acho, eu penso, eu ouvi dizer, e a imprensa já mancheta, já condenou. As pessoas estão perdendo o direito de andar de cabeça erguida na rua, declarou Lula.
Lula discursou em um evento realizado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), na região central de São Paulo. Ele falou por cerca de 50 minutos para militantes do PT, sindicalistas e lideranças políticas.
O ex-presidente disse considerar que estão dando muita importância para pessoas que foram acusadas e que agora estariam jogando sujeira no ventilador. Apenas porque alguém que foi acusado diz: Eu era tão bonzinho quando entrei na Petrobras e fiquei ruim depois. Olha, canalha já nasce canalha. Bandido já nasce bandido. A gente não pode aceitar essa violência, que tem muita coisa por trás, que é a banalização, a criminalização de uma empresa do porte da Petrobras, a quem nós, brasileiros, devemos tanto, completou.
Lula também usou seu discurso para defender ex-presidentes da Petrobras. Quando o cidadão vai fazer a delação premiada, vem dizer que tem não sei quantos milhões lá fora. Ele repartiu isso com vocês? Com algum partido ou com a conta bancária dele? Quero saber quem vai ter coragem de dizer que foi esse [aponta para Sérgio Gabrielli], que foi presidente da Petrobras, ou o José Dutra, o primeiro presidente, [que] estão envolvidos em corrupção.
Fomos nós que escancaramos a corrupção. Nós que mais que dobramos o efetivo da PF. Nós que dissemos que só tem um jeito de um homem ou uma mulher não ser molestada neste país governado pelo PT: é ele sendo honesto e não praticar nenhum desvio, porque se ele praticar vai ser investigado, disse ele.
Quando a gente vê o que estão querendo fazer com a Petrobras, tentando mostrar que a empresa é corrupta [...], eles se esquecem que essa empresa é de alta governança. E, se teve corrupção lá dentro, não foi corrupção de uma totalidade, foi de um ou outro, e que terá de pagar o preço por ter enganado o povo brasileiro, completou.
Cantareira
Nos primeiros minutos de seu discurso, Lula fez menção à crise hídrica vivida pela população de São Paulo. Antes de começar a falar eu quero uma aguinha, porque sem água eu não sou nada. E para não depender da Cantareira, eu trouxe essa aqui da represa Billings, falou.
Lula lembrou do que considerou ser um dos legados de seus dois mandatos. Tenho orgulho de ter colocado mais gente na universidade em 12 anos que eles colocaram em um século. Não podemos aceitar que chamam a gente de corrupto. Não podemos baixar a cabeça. Não é para brigar, disse.
Ele também falou sobre a intolerância aos petistas. Por que eu vim de vermelho hoje? Podia ter vindo de verde e amarelo, mas vim de vermelho para mostrar que sou brasileiro. Meu sangue é vermelho, mas é brasileiro.
Ele finalizou mandando um recado para a presidente Dilma Rousseff. Acho que a Dilma já está dormindo, nove e meia, dá cansaço, mas ela gosta de internet, de ficar no computador dela. Se ela estiver nos vendo, vou dizer que você precisa lembrar que quem está aqui é seu parceiro nos momentos bons e ruins.
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