Ameaças de Bolsonaro usando Forças Armadas começaram antes de reunião no Planalto
Em lives e discursos, ex-presidente da República mencionava que, sem voto impresso, não haveria eleição em outubro de 2022
As ameaças de um possível golpe ao estado democrático do ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) começaram a ser feitas antes da reunião ministerial do dia 5 de julho de 2022. A gravação do encontro de Bolsonaro com ministros se tornou uma das principais provas que levaram à Operação Tempus Veritatis, da Polícia Federal, na última quinta-feira (8).
No entanto, desde 2021 ocorriam ameaças ao processo eleitoral, ao mesmo tempo que o ex-presidente estimulava a introdução do voto impresso com críticas às urnas eletrônicas. Um dos movimentos era emplacar a ideia de que os votos impressos eram a única forma de garantir “eleições limpas”.
Conforme as declarações de Bolsonaro, as urnas eletrônicas eram passíveis de fraude. Durante uma live para apoiadores no dia 6 de maio em 2021, o ex-presidente disse que o voto impresso seria introduzido no ano seguinte, e os pleitos não seriam realizados se não houvesse o modelo.
“Vai ter voto impresso em 2022 e ponto final. Não vou nem falar mais nada. [...] Se não tiver voto impresso, sinal de que não vai ter a eleição. Acho que o recado está dado”, disse na ocasião.
Na reunião ministerial de 2022, Bolsonaro defendeu um "golpe sem armas" a partir da massificação de desinformações sobre as urnas eletrônicas e pediu que os seus ministros pressionassem o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Segundo o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, que determinou a operação da PF, o encontro ministerial mostrou uma "dinâmica golpista" planejada pelos integrantes do governo anterior.
“Eleições limpas”
Bolsonaro também chegou a dar outras declarações. O então chefe do Executivo chegou a afirmar diante de apoiadores no Alvorada que “ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições”.
Também naquele período, o ex-presidente disse em outra live que iria entregar a faixa presidencial para qualquer um que o derrotasse "de forma limpa" que, na sua visão, era a introdução do voto auditável.
Bolsonaro afirmou que, caso isso não se concretizasse, o Brasil iria ter um "problema seríssimo", sem explicitar qual seria a consequência.
"Eu entrego a faixa presidencial para qualquer um que ganhar de mim na urna de forma limpa. Na fraude, não. Vamos para o voto auditável. Esse voto 'mandrake' aí não vai dar certo. Nós vamos ter um problema seríssimo no Brasil", disse o ex-presidente.
Câmara rejeita voto impresso
No dia em que a Câmara iria votar uma proposta de emenda à Constituição para formalizar a adoção do voto impresso, 150 blindados marcharam pela Praça dos Três Poderes. A tendência era que a PEC seria rejeitada, o que fez aumentar, entre parlamentares, a leitura de que houve uma tentativa de intimidar o Congresso Nacional a aprovar a medida.
Apesar do gesto, a Câmara rejeitou a PEC por um placar de 229 votos a favor e 218 contra. Para que fosse aprovada e seguisse para o Senado, a proposta tinha que ter o apoio de 308 parlamentares.
O ex-presidente também teria usado o 7 de setembro para atacar Moraes e sistema eleitora. Em 2021, durante a data, Bolsonaro disse que os brasileiros não poderiam admitir um sistema eleitoral "que não oferece qualquer segurança" e atacou diretamente Alexandre de Moraes declarando que "ou esse ministro se enquadra ou ele pede pra sair".
Em um momento do discurso, Bolsonaro disse que o magistrado ainda tinha a chance de "se redimir", o que gerou vaias entre os bolsonaristas. O ex-presidente então mudou novamente o tom: "Sai, Alexandre de Moraes, deixe de ser canalha, deixe de oprimir o povo brasileiro, deixe de censurar o seu povo."
A resposta dos apoiadores foi o grito em coro de: "Eu autorizo".
por Agência Estado - Política