'Ação política', diz Mandetta sobre adoção de hidroxicloroquina por Marquinhos

14/07/2020 08h07 - Atualizado há 4 anos

Ex-ministro já se posicionou várias vezes contra uso da substância e da ivermectina, justamente as duas autorizadas pelo prefeito de Campo Grande

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Álvaro Rezende/Arquivo/Correio do Estado

A adoção da hidroxicloroquina e da ivermectina como medicamentos para tratamento da covid-19 em Campo Grande segue causando divergências. Dessa vez, o procotolo já aprovado pelo prefeito Marcos Trad (PSD) e em fase de aquisição das substâncias foi criticada pelo ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

Primo do prefeito e secretário municipal de Saúde durante à gestão de seu outro primo e irmão de Marcos, o hoje senador Nelson Trad Filho, Mandetta revela acreditar que o protocolo tenha mais quesitos políticos do que técnicos em sua apreciação.

"Mais uma ação política. Em Campo Grande tem muita coisa aberta e vejo que o Marcos vai politicamente adotar esse protocolo. Não parece ter muito fundamento de saúde, onde vários medicamentos estão sob análise, alguns deles com efeitos colaterais comprovados. O Marcos sempre foi muito político", comenta o ex-ministro ao Correio do Estado.

Mandetta prossegue sua fala dizendo que vários outros medicamentos, como a corticóide, também poderiam ser testados, mas acabam sendo ignorados na cidade. Ele também fala sobre automedicação e dos riscos do tratamento variarem conforme o paciente.

"Tem lugar que é a corticóide [usada no protocolo]. A hidroxicloroquina é só mais uma. Temos que ter ciência dos efeitos colaterais, saber que quando se é mais jovem a probabilidade é igual, mas com uma idade já mais avançada, se você tem algum problema, o remédio pode ser fatal", frisa, completando.

"É preciso tomar cuidado para as pessoas não entenderem, nesse turbilhão de informações, que devem se automedicar. Precisamos entender que pessoa não é gado e não existe trabalho científico que mande fazer isso e seguir esse protocolo", conclui Mandetta.

Reações locais

Recentemente, o também médico e secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, também se posicionou contra a adoção do protocolo aprovado por Marcos Trad no tratamento. Em carta aberta, o Hospital Regional - sob presidência do Rosana Melo - seguiu as críticas e revelou que não adotará os medicamentos na unidade.

Hoje, o Hospital Regional é justamente o hospital de referência no tratamento da covid-19 em Campo Grande, centralizando os pacientes com a doença e transferindo para outros locais os que estão com outras enfermidades - como Santa Casa e Hospital do Câncer.

Na carta, diretoria aponta ser natural a população questionar e procurar por uma solução diante da pandemia causada por um vírus ainda pouco conhecido e fatal, mas que a unidade não adotará medidas que não tenham embasamento científico.

“O mundo está envolvido na busca de uma terapêutica eficaz, porém, no presente momento, não possuímos terapêutica definida, apenas sabemos quais medidas de prevenção e suporte devemos implementar", diz o documento.

A adoção do protocolo pela prefeitura foi fechado em reunião entre prefeito, Secretaria Municipal de Saúde Pública (Sesau) e um grupo de médicos encabeçado por Sandro Benites, coincidentemente, profissional que atua no Hospital Regional e chefe do Civitox (Centro Integrado de Vigilância Toxicológica).

Em defesa de sua proposta, ele alega que nos mais de 10 anos de atuação dele como toxicologista, nunca viu ninguém morrer por usar hidroxicloroquina e ivermectina, e que as dosagens a serem ministradas são as mesmas usadas nas doenças já existentes.

Nyelder Rodrigues

CORREIO DO ESTADO