“Abin paralela”: PF busca encontrar registros de celulares que teriam sido ocultados

29/02/2024 04h45 - Atualizado há 2 mêses

Suspeita ocorreu após policiais cruzarem informações da perícia a partir de materiais coletados em operação de busca e apreensão

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REUTERS/Jamil Bittar

A Polícia Federal (PF) trabalha para encontrar registros de celulares monitorados que podem ter sido ocultados por integrantes da chamada “Abin paralela”, de acordo com fontes ligadas à investigação.

A PF suspeitou dos números ocultados após cruzar as informações da perícia de materiais coletados na busca e apreensão da operação desencadeada a partir do dia 25 de janeiro, com os dados da empresa que detém o software FirstMile.

Os dados apreendidos com a empresa responsável pelo sistema de monitoramento, que tem base em Israel, estavam na nuvem. Os investigadores tiveram acesso a essas informações por meio de download feito a partir do Brasil.

Com os dados da empresa, investigadores observaram que o número de telefones alvo de espionagem ilegal eram diferentes dos que constavam em relatórios da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

Já foram encontrados pelo menos 100 números que podem ter sido ocultados pelos integrantes da “Abin paralela”.

Agora, a investigação busca apurar com as empresas de telefonia quais são os CPFs desses números para identificar os donos das linhas telefônicas ocultadas.

Abin paralela

Em 25 de janeiro, a Polícia Federal (PF) declarou a operação Vigilância Aproximada, que apura um esquema de espionagem ilegal na Abin durante a gestão do ex-diretor-geral Alexandre Ramagem.

Entre os alvos monitorados estão os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes.

Em duas fases diferentes, a operação cumpriu mandados de busca e apreensão contra o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) e o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).

Na apuração, a PF chegou a conclusão sobre a organização criminosa a partir de cinco passos:

A investigação ganhou concretude com a identificação de informações sigilosas impressas pelo delegado Alexandre Ramagem, possivelmente para entregar aos destinatários do núcleo político;

A Controladoria-Geral da União (CGU) identificou a impressão do documento, por Ramagem, contendo a lista de informações dos inquéritos eleitorais da Polícia Federal no Rio de Janeiro;

A lista impressa por Ramagem apresentava o nome do investigado, cargo e partido político na data de fevereiro de 2020;

A impressão do relatório de informações com referências a fevereiro de 2020, que eram sigilosas, eram relacionadas à unidade da PF responsável por apurações eleitorais no referido ano;

O uso do FirstMile foi maior em outubro de 2020, período eleitoral; das 60.734 consultas, 30.344 foram relacionadas durante as eleições.

Ramagem negou monitoramento

À época da operação, Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da Abin e hoje deputado, afirmou à CNN que “nada foi feito para que houvesse o monitoramento de pessoas políticas, tanto do Legislativo, quanto do Judiciário”.

“Não na minha gestão, não sob meu comando, ou sob ordem minha, de maneira alguma”, acrescentou.

Gabriela Prado da CNN