Abin aponta interferência externa e crime organizado como riscos a eleições

03/12/2025 05h30 - Atualizado há 22 horas

Ações de deslegitimação do modelo eleitoral, com uso de IA, e aprofundamento da polarização social, com instrumentalização de crenças religiosas, estão entre desafios para 2026

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Fachada do prédio da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) • Antonio Cruz/Agência Brasil

A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) aponta, em documento sobre desafios da inteligência para 2026, como riscos para as eleições de outubro do próximo ano a interferência externa, o uso de inteligência artificial e a atuação do crime organizado.

A agência sustenta que o processo eleitoral demandará ação integrada contra ameaças multifacetadas que envolvem ações de deslegitimação do modelo eleitoral e aprofundamento da polarização social, com instrumentalização de crenças religiosas.

Os alertas estão presentes do documento "Desafios de Inteligência – Edição 2026", trabalho analítico da agência em que são traçadas as avaliações de riscos de segurança para o Brasil no próximo ano em quatro dimensões: global, internacional, regional e nacional.

O documento mostra que o Brasil tem enfrentado desafios relacionados à manutenção da democracia e à estabilidade institucional. Segundo a Abin, desde 2018 observa-se a propagação recorrente, principalmente por meio de plataformas digitais, de desinformação sobre as eleições brasileiras.

"Tal processo resultou em mobilizações que questionavam o processo eleitoral nacional, as quais culminaram na invasão aos prédios dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023", diz a agência.

A Abin relembra o histórico recente no cenário nacional e alerta que o processo eleitoral do próximo ano ocorrerá em meio a desafios que vão exigir uma atuação conjunta de diferentes órgãos de inteligência e capacidade de antecipação e resposta diante de ameaças nos mais diversos segmentos.

Para a agência, a deslegitimação sistêmica das instituições democráticas constitui um dos principais fatores de vulnerabilidade para as eleições do próximo ano.

"Trata-se de processo corrosivo, que mina a confiança e a percepção de legitimidade do eleitorado em relação às bases do regime republicano – o Poder Judiciário (com destaque para a Justiça Eleitoral), o Poder Legislativo e a capacidade de o Poder Executivo de assegurar direitos e liberdades das pessoas nesse contexto", afirma a agência.

A Abin aponta a desinformação como elemento central da deslegitimação do processo eleitoral, sobretudo em ambientes digitais, agravada pela manipulação tecnológica decorrente de recentes inovações internacionais.

"Para o processo eleitoral de 2026, o desafio amplifica-se com o advento e o uso de novas tecnologias, notadamente a Inteligência Artificial (IA) generativa e os deepfakes. A capacidade de produzir, em larga escala, conteúdos audiovisuais sintéticos e hiper-realistas, com baixo custo e sem necessidade de habilidades técnicas avançadas, inaugura uma nova era de desinformação e de manipulação política", alerta o documento.

A agência afirma que a crescente simbiose entre a criminalização da política e a politização do crime evidencia a capacidade de milícias e de facções de influenciar o processo eleitoral.

Paralelamente, prossegue a agência no documento, a possibilidade de interferência externa no processo eleitoral brasileiro é fator de risco que não pode ser subestimado pelas autoridades.

"Atores estatais ou não estatais podem ter altos incentivos para promover ações de desestabilização do processo eleitoral, minando a confiança nas instituições, influenciando resultados e favorecendo interesses geopolíticos e econômicos próprios", diz a agência.

Essa interferência pode ocorrer, de acordo com a Abin, por meio de campanhas de desinformação sofisticadas, ataques cibernéticos à infraestrutura eleitoral ou via financiamento oculto de grupos políticos específicos e de movimentos de viés antidemocrático.

"A articulação transnacional de movimentos extremistas, que compartilham táticas de manipulação e de propaganda em fóruns e comunidades próprias, eleva a sofisticação dessas ações e cria ameaças coordenadas e globalizadas contra o processo democrático brasileiro, impactando diretamente a soberania nacional", diz a Abin, sem citar países que poderiam atuar com este objetivo.

Por fim, a agência afirma, ao abordar os desafios para as próximas eleições, que o contexto de hostilidade contínua – conectado à polarização ideológica que divide a sociedade em grupos antagônicos – favorece a emergência do extremismo, que, diz a Abin, pressupõe retratar o adversário político como inimigo a ser eliminado, e não como competidor legítimo.

"Nesse contexto, tem sido observada a instrumentalização de crenças religiosas como elemento de mobilização e de polarização. A exploração das diferenças religiosas nesse sentido, em vez de promover o necessário diálogo entre religiões, contribui para traçar divisões, justificar posições intransigentes e mobilizar fiéis por agendas eleitorais com base em uma lógica de guerra religiosa", diz o documento.

Blog Teo Cury - CNN