Secretário municipal de Segurança da capital faz apologia ao nazismo em reunião com guardas
A fala aconteceu durante encontro convocado por ele para cobrar membros que participaram de protestos
Áudio gravado durante reunião mostra o secretário municipal de Segurança de Campo Grande, Anderson Gonzaga da Silva Assis, elogiando Adolf Hitler, líder nazista responsável por alguns dos episódios mais sombrios da história mundial.
A fala é antiga, aconteceu durante conversa convocada por ele no primeiro semestre para cobrar membros do Ronda Ostensiva Municipal (ROMU) que participaram da mobilização contra a prefeita Adriane Lopes. Na época, os servidores montaram acampamento no canteiro em frente ao Paço Municipal em protesto à falta de reajuste salarial e ao não pagamento de adicional de insalubridade.
Em um trecho da reunião, o secretário afirmou: "Fizeram até videozinho do Hitler. Eu até admiro Hitler, porque ele era um cara inteligente. A Alemanha é a potência que é hoje graças ao Hitler. Estrategista, um cara inteligente. Foi ditador, sim. Tinha as ideologias dele e conquistou o que conquistou graças à inteligência dele. Então só colocar na Netflix lá, na Segunda Guerra Mundial, como ele conquistou e fizeram um videozinho eu queria ser. Mas me dói porque eu queria ser um terço daquilo. Principalmente com esse grupamento aqui".
A fala do secretário ocorreu durante uma reunião que discutia os recentes protestos da Guarda Municipal, que se opôs publicamente à prefeita da cidade.
Embora Anderson tenha se referido à inteligência estratégica de Hitler em sua fala, fica claro o tom elogioso e admiração pelo ditador. Ao declarar que "queria ser um terço daquilo" que Hitler alcançou, o secretário parece ter feito uma analogia que muitos consideraram inapropriada e perigosamente positiva em relação a um dos regimes mais opressivos e violentos da história moderna.
A apologia ao nazismo é crime no Brasil? - A legislação brasileira proíbe qualquer manifestação ou promoção de ideologias que incentivem o ódio, a violência ou a discriminação, especialmente quando relacionadas ao regime nazista.
Artigo 20 da Lei nº 7.716/1989, a lei que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor é a principal legislação que trata da questão. Ele diz:
"Art. 20. Fazer, direta ou indiretamente, apologia de fato ou ato discriminatório, referente a raça, cor, etnia, religião ou origem, é punido com reclusão de 2 a 5 anos, e multa."
Além disso, o Artigo 5º da Constituição Federal, que garante a liberdade de expressão, também estabelece limites para esse direito, especialmente quando se trata de incitação ao ódio e discriminação. A Constituição brasileira afirma que é “vedado o anonimato” e protege contra a “apologia ao crime”.
A Lei 9.459/1997, que alterou a Lei nº 7.716/1989, também inclui como crime a “distribuição, divulgação ou exposição de símbolos nazistas”, como suásticas, uniformes e outros símbolos associados ao regime de Adolf Hitler. Essa legislação é clara ao proibir a apologia ao nazismo, estabelecendo penalidades severas para quem fizer apologia ou promover essa ideologia.
A pena prevista para quem pratica esse tipo de apologia pode ser de ”reclusão de 3 a 5 anos e multa”, dependendo do caso.
O secretário foi procurado pelo Campo Grande News. Em nota, ele se defendeu. Admitiu que errou e pediu desculpas pelo "comentário infeliz" que fez na ocasião. "
"É importante explicar que o tema veio durante uma fala na qual eu me defendia sobre uma montagem maldosa de um vídeo no qual eu era comparado a Hitler. Refletindo agora, percebo que mencionei um aspecto histórico de forma inadequada, sem considerar o contexto sensível e o impacto emocional que isso poderia ter causado. Em nenhum momento minha intenção foi minimizar as atrocidades cometidas por Hitler e seu regime. No momento em que me defendia, o que tentei destacar, embora de maneira desastrosa, era uma análise do contexto estratégico de um período histórico específico, mas reconheço que isso não tem lugar em um ambiente como o nosso, que dever ser pautado pelo respeito e pela consideração pelas experiências de todos", diz trecho da nota.
O secretário reiterou o compromisso com os valores de respeito, ética e humanismo. "Aprendo com este erro e, a partir de agora, me dedicarei ainda mais a promover um diálogo construtivo, sempre com a consciência de seu impacto. Agradeço a compreensão de todos e me coloco à disposição para quaisquer esclarecimentos adicionais", finaliza.
Por Lucas Mamédio - CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS