Procura por hidroxicloroquina e ivermectina aumenta e Saúde alerta para risco de automedicação

07/07/2020 07h56 - Atualizado há 4 anos

Farmácias da Capital já estão sem estoque dos medicamentos após prefeitura adotar protocolo

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Foto: Valdenir Rezende / Correio do Estado

Em meio ao aumento de casos da Covid-19 em Mato Grosso do Sul e a adoção, pela Prefeitura de Campo Grande, de protocolo com medicamentos como a hidroxicloroquina e a ivermectina, os estoques das farmácias estão quase zerados. Procura pelos itens aumentou nos últimos dias e o secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, alerta para o risco da automedicação.

Pesquisa realizada pelo Correio do Estado em redes de farmácia constatou que os medicamentos estão tendo grande procura e já começa a faltar. Em unidade da Drogaria São Leopoldo, o medicamento está em falta e, diariamente, há grande procura. Na Pague Menos, também não há estoque de ambos os remédios e não há previsão de chegada de novo estoque.

“Alerto para os riscos de auto medicação e também para a falsa sensação de segurança que 'tratamentos profiláticos' podem trazer às pessoas. O isolamento social, o uso de máscaras, as etiquetas de higiene ainda são os únicos antídotos contra o novo coronavírus”, disse Resende.

Segundo o secretário, apesar do Governo do Estado não adotar protocolo para uso do kit, a decisão pela prescrição dos medicamentos é prerrogativa e responsabilidade individual do médico assistente, com consentimento do paciente e anuência e concordância dele ou da família. População em geral não deve fazer uso por conta própria.

Reações adversas que constam na bula da ivermectina são náuseas, diarreia, dor abdominal, tontura e urticária, por exemplo, consideradas raras, leves e transitórias. Já os efeitos colaterais da hidroxicloroquina podem incluir cefaleia, distúrbios da visão, choque cardiovascular, convulsões, hipocalemia, alterações do ritmo e condução,taquicardia ventricular e fibrilação ventricular, entre outros. Por estes motivos, a automedicação não é recomendada, especialmente se o paciente não apresenta sintomas de doenças.

A corrida da população por itens apontados como de prevenção ou tratamento da Covid-19 não é novidade. Entre março e abril, no início da pandemia, estoque de máscaras de proteção facial, álcool em gel 70% e vitaminas também esgotou nas farmácias e chegaram a ficar em falta por várias semanas, devido a preocupação por parte dos cidadãos. O mesmo aconteceu com a cloroquina, em meados de março.

Resende alerta que não existe nenhum tratamento comprovado para prevenir, tratar ou curar a Covid-19, apenas pesquisas com diversos tratamentos farmacológicos em andamento, mas sem conclusão definitiva sobre a eficácia dos mesmos.

“Reitero que a prescrição é prerrogativa do profissional médico assistente e de sua inteira responsabilidade e, repito que deve haver, para o seu uso, consentimento do paciente e/ou dos familiares”, disse.

No protocolo da prefeitura, a ivermectina deve ser usada antes da apresentação de sintomas do novo coronavírus, mesmo sem um resultado positivo para a doença, enquanto a hidroxicloroquina seria administrada para as pessoas que estivessem nas primeiras horas dos sintomas, também sem necessidade de confirmação da Covid-19. Todos com prescrição médica.

Prefeito Marcos Trad também afirmou não haver comprovação científica da eficácia dos medicamentos para o tratamento da Covid-19, mas disse que cabe ao médico prescrever se julgar necessário. “O kit se faz necessário sim e, a partir do momento que disponibilizarmos, ficará a critério do profissional de saúde em prescrever ou não, ficará a critério do paciente de querer usar ou não”, disse

No sábado (4), a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que irá descontinuar os testes do projeto Solidariedade com a hidroxicloroquina e o lopinavir/ritonavir (utilizado no tratamento de HIV), já que os medicamentos não reduziram a mortalidade de pacientes hospitalizados com a covid-19 .A OMS destacou ainda que a decisão se aplica apenas ao testes realizados em casos de hospitalização, e não afeta a possível avaliação de outros estudos do uso da hidroxicloroquina e do lopinavir/ritonavir em pacientes não-hospitalizados e na profilaxia pré ou pós-exposição ao vírus.

Glaucea Vaccari

CORREIO DO ESTADO