O que quero fazer antes de morrer, pergunta quadro em cemitério de MS
Viajar, ter filhos, conhecer lugares, reencontrar pessoas, fazer faculdade, tocar piano, ter um cachorro, ser feliz. Esses são alguns dos desejos escritos por visitantes de um cemitério de Campo Grande. As frases respondem a uma pergunta que está no cabeçalho do quadro branco, em letras garrafais: O que eu quero fazer antes de morrer?.
A psicóloga Bernadete Freire Campos fala sobre o duo vida e morte. A morte é democrática, não escolhe um ou outro. Por isso, a gente faz um convite para a pessoa aprender a morrer, porque é essencial aprender a viver para aceitar a morte. Se você vive bem, você vai estar morrendo bem também porque desde o momento em que a gente nasce a gente já começa a morrer, diz.
Mesmo sem saber quem escreveu ou qual momento da vida, seja depois de sepultar um ente ou levar flores durante visita, as frases da lousa fazem outros visitantes repensarem a própria vida no lugar onde todos lembramos que a morte um dia chega. A ironia de provocar essa reflexão faz parte de uma campanha do sindicato dos cemitérios, segundo informou a administração do local.
Numa tarde de sexta-feira, o G1 esteve no cemitério e presenciou diversas pessoas observando o quadro. Algumas com desconfiança, outras com tristeza seguida de sorriso tímido. A maioria parece pensar na resposta, mas poucos se arriscam a pegar uma das canetas deixadas no quadro e menos pessoas ainda escrevem a resposta na lousa branca.
Tabu
Pensar na morte é um tabu para muita gente, apesar de ser a única certeza da vida garante a Bernadete.
A morte está intimamente ligada com a vida e uma vida bem vivida nos dá sensação de que a gente não vai morrer, por isso, a morte é um tabu e a proximidade com a morte ou a experiência de quase morte, como num acidente ou uma doença, por exemplo, transformam as pessoas, ponderou.
Ela considera o Dia de Finados uma data importante para reflexão sobre a vida.
Aprender a aceitar é morte é um exercício diário. O Dia de Finados é importante para refletir e se perguntar o que que eu estou deixando para esse mundo, se eu morrer amanhã, eu vou ter vivido uma vida plena? Quando perdemos alguém próximo temos a sensação de que a morte chegou na nossa casa e que o próximo pode ser a gente mesmo. Isso aumenta nossa noção de mortalidade e parece que o perigo está mais perto, explicou Bernadete, que também é pedagoga e hipnoterapeuta.
Aprender a aceitar a morte e lidar com essa realidade no dia a dia é importante para ter uma vida plena, orienta Bernadete.
A aceitação da morte tem a ver com a qualidade de vida que você tem, a profundidade de vida com aquilo que você está priorizando. E é importante que a gente tenha uma consciência espiritualizada de que você pode deixar um legado, coisas que marquem sua presença no mundo e aí, você pode até ser imortal se deixar essas heranças. Ninguém vai ficar para semente, todos vamos embora um dia, finalizou.
G1 MS