Motel ligou para amiga de Mayara e cobrou extra por limpar sangue no quarto
Destruído e com muito sangue’: foi assim que funcionários encontraram o quarto do motel Gruta do Amor em que Mayara Amaral, de 27 anos, foi assassinada na madrugada de terça-feira (25). Na saída, os suspeitos chegaram a deixar o documento da musicista como garantia de pagamento de uma taxa extra para a limpeza, já que não tinham dinheiro. E, apesar da cena de ‘terror’, a polícia não foi chamada.
Mayara foi morta a marteladas, e segundo um dos suspeitos, também foi esganada. Luís Alberto Bastos Barbosa de 29 anos, Ronaldo da Silva Olmedo, de 30 anos, e Anderson Sanches Pereira, 31 anos, foram presos em flagrante pelo crime, tratado como roubo seguido de morte, na quarta-feira (26).
Em depoimento, Luís afirmou que o responsável por matar a musicista foi Ronaldo. Na versão dele, os três haviam combinado de ir ao motel juntos e foi Mayara quem buscou ele e o comparsa em seu veículo, um Gol modelo 1992. Para entrar no local, ‘Cachorrão’ teria se escondido no banco de trás.
Para a polícia, Luís, que é baterista e já havia tocado com a vítima, detalhou que no Gruta do Amor, ‘Cachorrão’ teria matado Mayara enquanto ele usava cocaína. Afirmou que desde o princípio a ideia era roubar a musicista, mas que se desesperou ao ver o que o amigo tinha feito.
Ainda assim, eles teriam enrolado Mayara em um lençol e a colocado no porta-malas do próprio carro. Para sair, Ronaldo teria se escondido novamente no banco de trás, enquanto Luís dirigia o veículo, sem nenhum acompanhante. Na guarita ele teria pago a conta, de R$ 100, mas não tinha dinheiro para completar a taxa de limpeza, aplicada porque o local estava cheio de sangue.
Assim, segundo o depoimento, mesmo com as evidências de violência na suíte com hidromassagem, oferecida no Motel por preços entre R$ 60 e R$ 80 por 3 horas, a portaria teria apenas se preocupado com o custo adicional para limpar a sujeira na cena do crime. A polícia não foi acionada em momento algum.
Ainda de acordo com o suspeito, ele deixou a identidade de Mayara e um número de celular de uma amiga dela na recepção, como garantia de que voltariam para pagar a taxa.
Foi o depoimento de uma amiga de Mayara que detalhou o que aconteceu depois disso. Ao descobrir que a colega foi assassinada, a jovem de 21 anos procurou as equipes de investigação e contou que na tarde de terça-feira recebeu a ligação de uma amiga em comum com a musicista.
Essa testemunha contou para a jovem que minutos antes havia recebido uma ligação supostamente da gerente do motel Gruta do Amor. Achando que ela fosse Mayara, a mulher ameaçou chamar a polícia caso não voltasse para pagar uma taxa de limpeza, pois o quarto que havia usado foi deixado ‘destruído e com muito sangue’.
Por telefone, a mulher do motel teria chegado a afirmar que acreditava que a musicista havia feito um aborto, e por isso, se a conta não fosse paga, chamaria a polícia. Na versão de Luís Alberto Bastos Barbosa, a dívida era de R$ 10.
A equipe do Midiamax procurou o motel e foi informada que nenhum funcionário estava liberado a dar informações sobre o caso.
A polícia só compareceu ao motel depois de rastrear os passos de Mayara através do aplicativo Google Maps, que mostrou os locais em que ela esteve nas últimas horas de vida. Equipes da Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) Piratininga, do GOI (Grupo de Operações e Investigações) e da perícia, colheram provas, amostras de sangue e também imagens das câmeras de segurança que devem esclarecer como os suspeitos entraram e saíram com a vítima.
Entenda
Na versão de Luís, foi de ‘Cachorrão’ a ideia de ‘furtar’ Mayara. Os dois marcaram um encontro com a musicista e na noite da segunda-feira (24), foram para um motel na saída para Rochedo. Ele afirmou que depois do ensaio com a banda a musicista o buscou em casa, depois foi até a casa de ‘Cachorrão’ e de lá para o local em que o crime aconteceu.
Para a polícia, Luís alou que a vítima não reagiu, mas deixou claro que o crime foi premeditado, que Mayara foi morta com golpes de martelos na cabeça e por estrangulamento. Afirmou ainda que não tinha a intenção de matar a musicista, mas que ‘Cachorrão’ levou a arma usada e que ele ajudou com o corpo.
A dupla então teria ido para a casa de Anderson, vizinho de frente de Ronaldo, lá eles deixaram o corpo enquanto Luís voltava até sua casa, deixava os objetos da vítima e pegava uma pá. Juntos, os três autores foram para a região do Inferninho, na saída de Campo Grande para Rochedo, com a intensão de carbonizar e enterrar a mulher. Mas, teriam desistido do último passo porque o terreno ‘tinha muita lama’.
No primeiro contato com a polícia, o rapaz negou o crime e tentou incriminar um ex de Mayara, afirmando que no horário do almoço haviam visto os dois juntos e que o homem espancava a amiga. Mas familiares dele acabaram desmentindo a versão e afirmaram aos investigadores que Luís passou parte da terça-feira com o Gol da musicista. A contradição e o nervosismo, somado com as provas colhidas pela investigação, entregaram o rapaz.
Mais uma vez, Luís afirmou à polícia que a ideia das mensagens enviadas para incriminar o ex de Mayara partiu dos comparsas, ‘para atrapalhar as investigações’. A primeira informação repassada para a polícia era de que a vítima havia enviado mensagens para a mãe afirmando estar sendo ameaçada pelo ex e por isso estava fugindo.
O rapaz chegou a ser detido e as investigações o inocentaram. Depois de se passar pela musicista, ele se livrou do celular. Os outros dois suspeitos negaram participação no crime.
Anderson negou que o corpo ficou em sua casa, afirmou que o único negócio com o rapaz era a troca do carro da musicista por outro Gol, esse de modelo 1984. Ele afirmou que ficou com o veículo da vítima antes de cumprir sua parte do acordo. Foi com o Gol modelo 1992 que o suspeito foi preso, além de um home theater, comprado com R$ 1 mil roubados da vítima.
Ronaldo, o ‘Cachorrão’, afirmou que só falaria em juízo, mas para a imprensa alegou que Luís teria oferecido o carro para ele por R$ 1 mil. “Eu já vi ele com a vítima e até falei que não queria comprar. Não sou cagueta, mas quem matou foi o Luís. Ele agiu de má-fé comigo”, disse.
No quarto de Luís foram encontrados instrumentos, computador e até as roupas ensanguentadas de Mayara. A polícia ainda espera exames para verificar a suspeita de que Mayara tenha sido estuprada pelos suspeitos. A hipótese, segundo a polícia, não pode ser descartada. O caso é tratado como latrocínio – roubo seguido de morte – e é investigado pela Defurv (Delegacia Especializada de Furtos e Roubos de Veículos).