Imbecilidade oceânica, diz juiz sobre agressão a adolescente em lava-jato

17/02/2017 00h00 - Atualizado há 5 anos

Ao analisar o pedido de prisão preventiva dos suspeitos de matarem o adolescente Wesner Moreira, agredido com mangueira em um lava-jato, o juiz Marcelo Ivo de Oliveira, da 7ª Vara Criminal de Campo Grande, considerou que o ato praticado pelos indiciados é revestido de uma imbecilidade oceânica. A informação foi divulgada pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJ-MS).

Em seu despacho, o magistrado explica que não há como alegarem que o ato por eles praticado não poderia causar a morte de uma pessoa e, por isso, resolveu designar o pedido de prisão para uma das Varas do Tribunal do Júri de Campo Grande, responsável por julgar casos de homicídio doloso.

O pedido havia sido feito pela Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca) à 7ª Vara Criminal na terça-feira (14), onde o magistrado Marcelo Ivo de Oliveira atua, mas, apesar do caso ser investigado como crime de lesão corporal de natureza grave, o juiz entende que a situação deve ser tratada como homicídio inicialmente tentado e agora consumado, em razão da morte da vítima.

O delegado Paulo Sérgio Lauretto, responsável pelas investigações, disse ao G1 nesta sexta-feira (17), que aguarda decisão sobre o pedido de prisão preventiva do dono do lava-jato, Thiago Demarco Sena, de 26 anos, e do funcionário Willian Henrique Larrea, de 30 anos.

Eu havia pedido a prisão em regime de urgência para a 7ª Vara, responsável pelos casos investigados aqui na Depca, e agora aguardo a decisão da Vara do Tribunal do Júri, explicou.

O advogado dos suspeitos, Francisco Guedes Neto, disse ao G1 na quarta-feira (15) que tem conhecimento do pedido de prisão, mas afirmou que, por enquanto, não vai se pronunciar a respeito.

Ainda no despacho, o magistrado diz que quando alguém direciona uma mangueira de ar comprimido contra o corpo de outrem, pode até dizer que não se está tentando matar o outro, mas qualquer pessoa minimamente sana sabe que injetar uma mangueira de ar comprimido em alguém, provavelmente causará a sua morte ou, ao menos, sérias lesões.

Nessa lógica, o juiz entendeu que o caso se trata de homicídio com dolo eventual, já que os indiciados assumiram o risco de causar a morte de alguém, e encaminhou o pedido de prisão para uma das Varas do Tribunal do Júri. O processo tramita em segredo de Justiça.

Investigação

No dia 3 de fevereiro, o dono do lava-jato e o outro funcionário colocaram mangueira de compressão de ar perto do ânus do adolescente.

Os suspeitos e uma criança de 11 anos, que testemunhou o crime, disseram que o fato era uma brincadeira, mas dias antes de morrer, o adolescente negou que a agressão tivesse sido brincadeira.

Wesner Moreira da Silva foi socorrido em estado grave. O jato de ar causou diversas lesões e fez o garoto perder parte do intestino. Ele ficou internado na Santa Casa de Campo Grande por 11 dias antes de morrer.  O caso é investigado pela Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca).

Enquanto esteve no hospital, o adolescente contou para a família detalhes sobre a agressão, disse que perdoava os suspeitos, mas pediu que eles fossem presos, segundo a família.

Os suspeitos podem ser indiciados por lesão corporal grave seguida de morte ou por homicídio doloso. A tipificação será definida pela Depca na conclusão do inquérito, segundo Lauretto. O delegado ainda esclareceu que, a princípio, o caso não foi registrado como abuso porque não ficou evidente a conotação sexual.

Thiago Demarco Sena e Willian Henrique Larrea não tinham ficha criminal. Este último era amigo da família da vítima.

G1 MS