Idosa com mais de 80 anos vacinada quer ser exemplo contra negacionismo

02/02/2021 10h38 - Atualizado há 3 anos

Vacinação do grupo prioritário de idosos com 80 anos ou mais começou ontem em Campo Grande

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imunização. Olga Bueno da Silva, de 99 anos, foi vacinada ontem com dose da Coronavac na Capital - Álvaro Rezende/Correio do Estado

Ana Karla Flores

Olga Bueno da Silva, de 99 anos, segunda pessoa a ser vacinada contra a Covid-19 em Campo Grande, quer ser exemplo para indígenas que têm medo da vacinação. A vacinação do grupo prioritário de pessoas com 80 anos ou mais começou ontem e estava disponível em diversas unidades de saúde da Capital.

Olga é da aldeia indígena Buriti, em Sidrolândia, mas mora em Campo Grande há alguns anos e quis tomar vacina para ser exemplo para outros indígenas que se negam a receber o imunizante em razão de informações falsas.

Alexandre Silva de Carvalho, neto de Olga, explica que o ato será de grande importância, não só para os indígenas, como também para outras pessoas que estão na dúvida em receber a vacina.

“É muito importante para que outras pessoas que estão na faixa de idade dela e na dúvida possam ver que isso é fato, que essa vacina é para curar e imunizar de verdade, é um grande avanço na ciência. Porque muitos estão na dúvida: há muitas mentiras hoje em dia, falando que se tomar a vacina vira crocodilo ou algo desse tipo, mas ela se prontificou a vir, ela mesma quis ser imunizada, ser um exemplo”, detalha Carvalho.

Maria Lemes, filha de Olga, explica que a família não mora mais na aldeia, no entanto, antes da pandemia faziam visitas sempre que podiam.

“O pessoal da aldeia não quer tomar, e ficamos muito preocupados com isso. Minha mãe quer ser um exemplo para eles, porque a gente mora aqui [em Campo Grande], mas ainda tem contato com eles e estamos mandando fotos dela, temos parente lá. Acredito que vai ajudar e ser muito importante”.

Lemes relata que a imunização é um alívio, em razão da dificuldade em cuidar da mãe durante o ano.

“É um privilégio, agradeço a Deus e à ciência, porque a gente vai ter um pouco mais de tranquilidade, pois estamos com muita dificuldade de estar com ela. Foi muito complicado esse ano passado, sem liberdade e sempre com medo. Ela estava querendo tomar, no começo ela ficou com um pouco com medo, mas depois abriu a mente e decidiu vir”.

PRIMEIRA VACINADA

Amelia Martins, de 100 anos, foi a primeira a chegar na Clínica da Família do Bairro Portal Caiobá, em Campo Grande, para receber a vacina contra a Covid-19. Filho de Amelia, Gregorio dos Santos, de 74 anos, explica que a mãe tem Alzheimer e descobriu que seria vacinada quando chegou na Clínica da Família e ficou ansiosa para receber o imunizante.

“Quando a gente saiu, falamos que ela ia passear e só explicamos quando chegamos aqui que ela ia tomar a vacina da Covid-19. É um alívio, porque eu me preocupei bastante com ela e agora fico um pouco mais tranquilo”.

Santos relata que é uma grande alegria ver a mãe sendo vacinada depois de um ano de muito cuidado e isolamento.

“Para mim é a maior alegria da minha vida ver minha mãe sendo vacinada, com 100 anos e ainda sendo a primeira. Espero que ela consiga tomar ainda a segunda dose, que é a melhor coisa que tem na vida para mim e para ela”.

De acordo com o filho de Amelia, durante o ano, a família toda teve muito cuidado para não ser infectada com o novo coronavírus: todos ficaram em quarentena e não deixaram a mãe sair de casa e receber visitas.

“A gente não saiu de casa. A gente sempre ia na igreja, mas não fomos mais e ainda bem que ela ficou tranquila. Ela nunca ficou perto de muita gente, então falei para ela que ela só vai poder ir na igreja de novo quando tomar a segunda dose da vacina”.

Santos ainda afirma que não vê a hora de receber a vacina e diz não ter medo, pois já foi comprovado que é segura.

“A minha vez está pertinho também, não tenho medo, é mais fácil todo mundo se vacinar. Do jeito que está essa pandemia, está morrendo tanta gente por não tomar algo que pode curar, e se não curar, mal não vai fazer, só vai fazer bem”.

VACINAÇÃO

Conforme planejamento estabelecido pela Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), os idosos foram separados por faixa etária e datas em ordem decrescente de idade, para evitar aglomeração nos pontos de vacinação.

Os pontos de vacinação funcionarão de segunda-feira z sexta-feira, das 13h às 17h, nas 18 Unidades de Saúde da Familiar (USFs), Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e Clínicas da Família.

A cada dia de fevereiro, uma idade diferente será vacinada: hoje os vacinados serão idosos com 98 anos. Durante a semana, também serão vacinadas pessoas com 97, 96 e 95 anos até a sexta-feira. No sábado, serão vacinados todos os idosos com idades a partir dos 95 anos que não tiveram a oportunidade de serem imunizados durante a semana.

Os locais de vacinação serão distribuídos entre as regiões urbanas de Campo Grande. Na região do Prosa, o imunizante será aplicado nas USFs Mata do Jacinto e Estrela Dalva.

Na região do Imbirussu, a vacinação será nas USFs Albino Coimbra e Silvia Regina. As USFs Botafogo e Parque do Sol, a UBS Dona Neta e a Clínica da Família Iracy Coelho atenderão a população da região do Anhanduizinho.

Na região da Lagoa, serão disponibilizadas vacinas nas USFs Bastião e Coophavilla, além da Clínica da Família Portal Caiobá. Na região do Segredo, a vacinação vai ocorrer na UBS Coronel Antonino e nas USFs São Francisco e Nasser, e na região do Bandeira, na UBS Carlota e nas USFs Tiradentes e Universitário, respectivamente.

A UBS 26 de Agosto, que atenderá a população da região central, será aberta a partir de hoje.

O atendimento para vacinação será por demanda espontânea, sem a necessidade de agendamento. Segundo a Sesau, pessoas que têm pouca mobilidade devem avisar a unidade de saúde mais próxima para que a vacinação ocorra no carro.

A imunização de idosos acamados terá início hoje, e agentes de saúde farão a aplicação nas residências dos idosos que informaram a situação para as unidades.

CORREIO DO ESTADO