Houve violência psicológica, diz polícia sobre reféns em aldeia de MS

04/03/2016 00h00 - Atualizado há 4 anos

Depois de saírem da Terra Indígena Nioaque, no município a 165 km de Campo Grande, a equipe técnica que foi feita refém durante uma visita às aldeias procurou a delegacia de Polícia Civil para registrar o caso no começo da tarde desta quinta-feira (3).

Segundo a delegada Joílce Silveira Ramos, os quatro integrantes da equipe estavam muito abalados e relataram que ficaram em cárcere privado por mais de 24 horas. Apesar do ocorrido, ela disse que nunca teve um problema desse e que os indígenas são pacíficos.

Foram feitos reféns, apesar de não ter havido agressão física, mas houve violência psicológica e ficaram impedidos de se locomover. Passaram mais de 26 horas dentro de um quarto pequeno, não havia banheiro e, fora isso, a pressão psicológica e o medo de evoluir para uma coisa mais grave, afirmou a delegada.

Eles prestaram depoimento por cerca de duas horas. Na saída da delegacia, os dois engenheiros, uma bióloga e o motorista da equipe informaram ao G1 que foram ameaçados pelos indígenas e que tiveram a chave da caminhonete tomada à força por eles.

Ameaçaram amarrar a gente se tivesse qualquer tentativa de fuga. Tomaram a chave do carro na marra. Não fomos agredidos fisicamente, mas teve violência psicológica, humilhação. Estamos emocionalmente abalados e cansados, afirmou um dos integrantes que preferiu não ter a identidade divulgada.

Os profissionais também afirmaram que passaram por uma espécie de julgamento quando pediram permissão para ir embora. A gente ficou ali esperando, enquanto os quatro caciques e os demais indígenas decidiam se podíamos ir embora ou não, relatou outro técnico.

A equipe saiu de Campo Grande por volta das 8h de quarta-feira (2) com destino às aldeias, onde os técnicos chegaram por volta das 9h para consertar problemas na distribuição de água na comunidade indígena.

Eles fizeram os trabalhos na aldeia, saíram para almoço e voltaram no começo da tarde para terminar o serviço, mas, só foram liberados pelos indígenas por volta das 11h desta quinta-feira (3), depois que outros profissionais chegaram à comunidade.

Eles [profissionais da primeira equipe] foram trocados por quatro funcionários que ficaram lá e foram liberados na condição desses outros quatro ficarem reféns no lugar deles, inclusive, dois médicos, porque tudo isso começou pela exigência de um médico [...] Então, a forma que eles encontraram de pressionar e exigir que um médico viesse atender a população foi essa aí e hoje encaminharam dois médicos, mas estão, em princípio, reféns e não serão liberados, informou a delegada.

O caso foi registrado na delegacia de Polícia Civil como cárcere privado e ameaça, já que foram ameaçados de serem amarrados, e será encaminhado para a Polícia Federal.

Os indígenas exigem a presença do coordenador-geral da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) para dar explicações sobre a exoneração do médico e a substituição por outro profissional para atender a comunidade.

Negação

Os indígenas dizem que o grupo não era feito refém porque tinha acesso a água, alimentação e celular.

Não, em nenhum momento. A gente só pediu por uma questão de permanência deles aqui pra chamar atenção do chefe da Sesai que fizesse presença para estar nos esclarecendo os motivos de ter mandado nosso médico estar indo embora, sem estar nos comunicando e não ter colocado outro no lugar. Até hoje estamos sem médicos. E é esse o motivo, a população sofre, afirmou a liderança Terena, Julielcio da Silva.

O coordenador regional do polo da Sesai de Aquidauana, Edmundo Pires, chegou ao local nesta manhã e ficou na região para que a equipe técnica fosse liberada.

Segundo Pires, atitudes extremas tem acontecido com certa frequência, apesar do frequente diálogo com os caciques. Quando eu fiquei sabendo, liguei pra cá e a gente tentou negociar a liberação do pessoal para que eles fossem embora que eu estaria vindo hoje com os médicos e estaria conversando até a chegada do coordenador. Então, eles tinham feito essa reivindicação e eles acharam por bem permanecer e eu encontrei eles [profissionais] aqui hoje e com a minha chegada eles [indígenas] se prontificaram a liberar o pessoal se eu permanecesse, contou o coordenador.

G1 MS