Furtos em cemitérios na fronteira movimentam comércio macabro de ossadas humanas

23/05/2024 12h05 - Atualizado há 6 mêses

Do lado paraguaio roubos de cadáveres de indigentes são feitos por ‘encomendas’, com custo de até G$ 5 milhões, equivalente a R$ 3,4 mil

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Cemitérios paraguaios como o Central, são alvos de violações (Foto: Gustavo Baez)

O desaparecimento dos corpos de uma adolescente no cemitério municipal São Vicente de Paula, no último sábado (18), em Ponta Porã e que ainda não foi solucionado pela polícia de Mato Grosso do Sul, na verdade é uma ferida aberta há alguns anos do lado paraguaio, em Pedro Juan Caballero.

Do outro lado da Linha Internacional, que divide as duas cidades gêmeas, os casos de violações de túmulos acontecem com uma certa frequência e na avaliação de uma fonte ouvida pela reportagem do Jornal Midiamax, são deixados de lado pelas autoridades locais, que fazem ‘vistas grossas’.

“Quando acontecem os furtos quase não há nem registro de memorandos (boletins de ocorrências) nas delegacias da cidade porque geralmente as vítimas são indigentes e não aparece ninguém para reclamar os corpos”, explica uma fonte ligada à Polícia Nacional, que prefere não ser identificada.

Por outro lado, em matéria publicada pelo site Ponta Porã em Dia, outra fonte revelou que os furtos de corpos nos cemitérios paraguaios são praticados por “uma rede formada pelos coveiros e o ramo funerário, que intermedia a negociação a pedido geralmente feito por grupos de acadêmicos”. Em alguns casos, os corpos custam o equivalente a R$ 3,4 mil (G$ 5 milhões de guaranis).

“Ouvi dizer que essas ossadas humanas são vendidas em guarani para grupos paraguaios. Não dá nem para acreditar que existe esse tipo de comércio né. Mas aqui em Pedro Juan Caballero não é de estranhar nada”, comentou um brasileiro casado com uma paraguaia e que mora na cidade há mais de 10 anos.

Em Pedro Juan Caballero existem dois cemitérios administrados pela intendência, como é chamada a prefeitura. Até mesmo o Campo Santo, que fica na região mais central da cidade tem sido alvo dos ladrões de túmulos. O mesmo acontece no São Carlos, que fica mais na periferia da cidade fronteiriça.

Segundo informações entre moradores de locais próximos aos cemitérios, geralmente os restos mortais furtados já tem comprador previamente definido, ou seja, essas ossadas já foram encomendadas com antecedência. “Geralmente as violações das covas e túmulos acontecem na calada da noite”, revelou um morador de Pedro Juan.

Concertinas e monitoramentos

Do lado brasileiro, a pós os furtos dos corpos da adolescente – que teve a cabeça encontrada – e também do bebê, a administração municipal demitiu o vigia do Cemitério São Vicente de Paula e também abriu inquérito administrativo para apurar a violação dos túmulos.

Segundo informações do secretário Governo de Ponta Porã, Fábio Cafarena, o policiamento nos cemitérios públicos da cidade foi reforçado e também estão sendo adotadas medidas para melhorar a segurança.

“Estamos fazendo um levantamento dos custos de instalação de concertinas no muro do cemitério São Vicente e também da implantação de um sistema de vigilância por meio de câmeras”, explica Cafarena.

“Não estou em condições de falar a respeito disso tudo que está acontecendo”, comentou a avó da adolescente, bastante abalada, à reportagem do Jornal Midiamax . O corpo da menina estava sepultado há apenas 15 quinze dias no Cemitério São Vicente de Paula.

‘Nunca tinha trabalhado num caso como esse’

A investigação sobre o furto de corpos de um bebê e de uma adolescente, de 12 anos, é um caso ‘novo’ para o delegado de Polícia Civil, Maurício Moura Vargas, que atua em Ponta Porã e Aral Moreira, cidades distantes a mais de 300 quilômetros de Campo Grande.

O delegado confirmou ao Jornal Midiamax que a cabeça da adolescente, de 12 anos, foi encontrada no último domingo (19) dentro do cemitério pelos peritos que investigam o caso.

Indagado pela reportagem se já aconteceu um furto de corpos anteriormente na cidade fronteiriça, o delegado afirma que enquanto está à frente do plantão da 1ª Delegacia de Ponta Porã, nada semelhante ocorreu, mas não é um caso que gerou choque, já que a fronteira com Pedro Juan Caballero é conhecida por crimes violentos.

“Nunca havia acontecido aqui não, quem trabalha na fronteira não se choca com nada. Mas nunca tinha trabalhado num caso como essa situação”, conta o delegado Maurício, lotado em Aral Moreira semanalmente e nos plantões aos finais de semana em Ponta Porã.

Ainda conforme ele, a localização dos suspeitos pelo crime é um desafio para a polícia, uma vez que se trata de um crime pouco comum. Equipes do SIG (Setor de Investigações Gerais) também atuam na investigação.

Vigia de cemitério exonerado

Após o furto, a Prefeitura Municipal exonerou um vigia do município. A exoneração consta no Diário Oficial desta segunda-feira (20). Conforme a publicação, a portaria entra em vigor a partir de 14 de maio.

Ao Jornal Midiamax, o secretário de Segurança municipal, Candinho Gabínio, disse que a exoneração “não é referente ao fato”. Além disso, informou que a administração pública segue com apuração interna.

“Esta manhã o Secretário Adjunto de Administração esteve no local recolhendo informações acerca do ocorrido e que será instaurado um PAD (processo administrativo disciplinar) para averiguar eventuais omissões ou falhas”, afirmou ao Midiamax.

Família abalada

Os corpos de um bebê e de uma adolescente de 12 anos foram furtados do cemitério de Ponta Porã, no sábado (18). Três túmulos foram danificados.

A adolescente foi sepultada há 15 dias. Além deste túmulo, outros dois foram violados, estes eram de bebês. Conforme informado, o vigia do cemitério encontrou as covas abertas por volta das 6h do domingo (19).

Dessa forma, a PM (Polícia Militar) e a Guarda Municipal foram acionadas, assim como a Polícia Civil, que investiga o caso. A situação foi registrada na Delegacia de Ponta Porã como destruição, subtração ou ocultação de cadáver.

“Não estou em condições de falar a respeito disso tudo que está acontecendo”, comentou a avó da adolescente, bastante abalada, à reportagem do Jornal Midiamax . O corpo da menina estava sepultado há apenas 15 quinze dias no Cemitério São Vicente de Paula.

Marcos Morandi

MIDIAMAX