Estabilização da Covid-19 trouxe clima de que pandemia acabou no Estado
Autoridades de saúde e especialistas alertam que a doença pode ter estacionado, mas com indicadores altos
Rodrigo Almeida
Desde o começo de setembro é rotineiro acompanhar as transmissões a Secretaria de Estado de Saúde (SES) e reparar que o Estado está em estabilidade no avanço da Covid-19.
Apesar disso, ainda há preocupação das autoridades. “Chegamos em um platô muito elevado”, afirma o titular da SES, Geraldo Resende.
Dados da plataforma FarolCovid mostram que a taxa de retransmissão (TR) de Mato Grosso do Sul cresceu nos últimos dias.
No começo do mês ela era de 1.07, o número mais atual aponta para 1,11. O Estado perde apenas para o Alagoas nesse quesito e é o segundo maior número.
A TR representa a exponencialidade do vírus. No patamar do Estado, ela indica que 100 pessoas infectadas transmitem a doença para 111, estas transmitiriam para 122, e assim sucessivamente.
“Para conter o contágio é preciso ter a taxa abaixo de 1”, explica o Geraldo Resende.
A preocupação é compartilhada pelo secretário de saúde de Campo Grande, José Mauro Filho. “É necessário que a população tome consciência de que o risco de infecção ainda é muito alto”.
Ambos os dirigentes, clamam pelo auxílio e conscientização para conter o número de casos.
“Se a população não coopera, é difícil conter a doença”, reforça o secretário da SES, que citou o caso do feriado prolongado, quando foi possível observar alta mobilidade no Estado.
“Não foi só em Campo Grande, várias cidades do interior também preocuparam”, avalia.
AGLOMERAÇÕES
O Correio do Estado já flagrou várias situações de pessoas que a não seguem o distanciamento. No último fim de semana, mais de 100 pessoas se juntaram em uma casa no Jardim Canguru para curtir uma festa.
Além disso, aglomerações também foram notadas em cachoeiras e balneários.
Com as dificuldades impostas pelo tempo seco e calor, José Mauro aconselha ao sul mato-grossense não ir a clubes, beiras de rios e cachoeiras para se refrescar.
“Fiquem em casa, tomem um banho de balde e brinquem com as crianças. É muito mais seguro e ainda cria uma lembrança boa com os filhos”.
Mato Grosso do Sul é um dos estados em que o isolamento social não é seguido. De acordo com a base de dados inloco, o Estado está sempre no meio das piores médias nacionais.
Nos últimos setes dias, apenas duas datas apresentaram taxa de isolamento acima de 40%, no domingo, 6, e na segunda-feira, 7.
Números bem abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de 70%.
Nos demais dias, estivemos sempre na parte de baixo do ranking da plataforma, entre os 10 piores estados do Brasil.
O aplicativo usa tecnologia de geolocalização dos celulares para medir com precisão a mobilidade das pessoas.
Desde o início da pandemia, o serviço é usado por autoridades públicas para medir se a população está seguindo as recomendações de distanciamento.
PANDEMIA NÃO ACABOU
O médico infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Júlio Croda reforça que a pandemia ainda não acabou.
“Depois da estabilização, o próximo passo é a queda, não sabemos quando isso vai acontecer. A gente tá no maior nível do número de óbitos e de casos. É importante que as pessoas mantenham as recomendações para que a gente possa entrar na fase de média móvel descendente, que o Brasil já entrou”, declarou.
Ontem, Mato Grosso do Sul apresentou 2.258 novos casos de acordo com o boletim epidemiológico da SES. Já são quase 26 mil positivos só em Campo Grande e mais de 58 mil em MS.
O secretário Geraldo Resende ressalta que “não se pode passar a falsa impressão de que a doença está caindo, a recomendação é estar atento, só vai passar quando tiver vacina e mesmo assim toda a população precisa ser vacinada”.
E acrescenta que “de forma geral isso só deve acontecer, em janeiro, até lá devemos manter as medidas de prevenção”.
CORREIO DO ESTADO