CORONAVÍRUS: Mesmo com restrições, campo-grandenses fazem fila em lotéricas

28/03/2020 11h56 - Atualizado há 4 anos

Decreto da prefeitura proíbe entrada de idosos nesses estabelecimentos

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Álvaro Rezende/Correio do Estado

No segundo dia após a reabertura das casas lotéricas de Campo Grande, os cidadãos ignoraram o medo da pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, e enfrentam fila na manhã deste sábado (28). Entre os relatos ouvidos pela reportagem do Correio do Estado, a necessidade foi o principal motivo de levá-los a um estabelecimento no bairro Aero Rancho.

Apesar da proibição da entrada de idosos nas casas lotéricas, havia uma fila preferencial desse público no local. Uma idosa de 62 anos disse que não teria ninguém para ir por ela ao estabelecimento. “O presidente [da República, Jair Bolsonaro] falando que a gente pode ir pra rua, mas é perigoso sim. Mas não tenho ninguém pra sair por mim, por isso que tive que vir para pagar as contas”, lamentou.

Outro idoso, de 65 anos, também foi pagar contas. “Tenho que fazer uma transferência e não sei até quando terá dinheiro”, afirmou. Pelo menos dez idosos estavam na fila preferencial.

Na fila geral, as pessoas tentam manter a distância mínima de 1,5m recomendada pela prefeitura, enquanto outras usam máscaras descartáveis. A diarista Marisa Noemi Machado, de 39 anos, foi ao local para evitar que a mãe, de 68 anos, fique no meio de uma aglomeração. “Se as igrejas estivessem funcionando, com certeza ela iria, porque segundo ela, ‘quem protege é Deus’”, disse.

Ela aprovou as medidas do prefeito Marcos Trad (PSD), mas lamenta as consequências. “Todos os meus clientes cancelaram as diárias. Mesmo se os ônibus voltassem, não teria trabalho”, finalizou.

QUARENTENA

Há duas semanas, a prefeitura determinou o fechamento ou limitou o funcionamento de estabelecimentos comerciais. Mas com o decreto federal que apontou alguns serviços como essenciais, o município reviu algumas medidas.

Decreto de quinta-feira (26) liberou a reabertura de restaurantes, casas lotéricas, indústrias e igrejas. “Não sou a favor de abrir nada disso, mas como o presidente mandou, eu estou disciplinando”, afirmou o prefeito Marcos Trad no mesmo dia.

Idosos, gestantes, transplantados e pacientes com imunodeficiência de qualquer espécie e doenças cardiovasculares ou pulmonares estão proibidos de frequentar esses locais.

Entre as condições impostas, os restaurantes podem abrir com limite de 30% de lotação, a higienização será obrigatória na abertura e fechamento do estabelecimento, a máquina de cartão também deve ser higienizada e a distância entre as mesas deve ser de 2 metros. Além disso os funcionários devem usar os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), sendo máscara e luvas itens obrigatórios, além de medir a temperatura dos clientes, já que quem estiver com febre não poderá entrar.

As lotéricas vão funcionar também com regras rígidas, com o horário de funcionamento limitado das 8h às 18h. Os locais deve ser higienizados e os clientes deverão manter distância de 1,5 m com demarcação no piso. Funcionários também ficam obrigados a usar EPIs.

Quanto às indústrias, que devem abrir na segunda-feira (30), trabalhadores devem manter uma distância de 1,5m, com a disponibilidade de lavatórios para lavagem periódica das mãos. Equipamentos e espaços de trabalho também devem ser higienizados, além dos ambientes estarem sempre ventilados. Escalas alternadas devem ser adotadas a fim de evitar aglomerações.

Funcionários que não trabalham da linha de produção devem ser colocados em regime de teletrabalho, executando suas atividades em casa. O ponto eletrônico deve ser suspenso, usando a marcação em papel.

Em outro decreto, as obras na construção civil têm as mesmas regras aplicadas às indústrias, ficando limitada a circulação de apenas 20 trabalhadores. Quem estiver no grupo de risco deve ser entrar em isolamento domiciliar.

Por fim, igrejas ficam limitadas a realizar apenas duas reuniões ao dia, entre 6h e 19h30, respeitando o limite máximo de lotação de uma pessoa a cada 10m2. Fiéis devem permanecer distante 1,5m um do outro, além de higienizar as mãos periodicamente. Também fica proibida entrada de pessoas que apresentarem febre.

Adriel Mattos, Natalia Yahn

CORREIO DO ESTADO