Contra crise, casal de MS cimenta união trabalhando junto em obra
O setor da construção civil foi um dos segmentos mais afetados pela crise econômica em Mato Grosso do Sul. Prova disso é que, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Previdência Social, o setor foi o que teve o pior saldo, -10,27%, na relação entre contratações e demissões de trabalhadores com carteira assinada no estado em 2015, o que representou o fechamento de 3.025 vagas.
Neste cenário adverso para o setor, um casal de Campo Grande demonstra que, com amor e muita união, é possível enfrentar as dificuldades para sair da adversidade. O marido Hélder Fonseca, de 29 anos, é autônomo da construção civil e trabalha no setor há nove anos. A esposa Camilla Buzanelli, de 25 anos, é administradora de empresas, inclusive, tem curso superior na área, e estava desempregada desde dezembro de 2015. Eles se conhecem há mais de 12 anos e estão casados há dois anos.
Sem emprego, apesar de ter distribuído currículos por várias empresas, e vendo o volume de serviço do marido diminuir dramaticamente, o que comprometeu as finanças do casal, ela resolveu literalmente “arregaçar as mangas” e apesar de não ter experiência formal na construção civil, foi trabalhar com o marido como auxiliar, nas obras que ele executa.
Camilla diz que Hélder faz vários tipos de serviço na área, como pequenos reparos, instalações elétricas e hidráulicas, assentamentos de azulejos e troca de rebocos de paredes, entre outros, e que no auge do setor em 2014, por exemplo, trabalhava sete dias por semana, sem feriado e sem preocupação com horário.
“Para ele não tem horário. Se o cliente diz que precisa de um reparo em casa e só tem disponibilidade no sábado ou no domingo, lá vai ele”, diz, completando que o setor estava tão aquecido na época que a remuneração que o marido obtinha em uma semana equivalia ou até superava muitas vezes o que ela ganhava como funcionária em um mês.
No último ano, entretanto, as contratações de serviço para Helder começaram a cair muito em razão da crise do país. Nesse meio tempo, Camilla, muito insatisfeita com o emprego, decidiu sair do serviço e acreditou que pelas suas qualificações e experiência encontraria rapidamente uma nova colocação.
“Acreditei que logo me chamariam para entrevistas e seleções e que, em pouco tempo, estaria empregada novamente. Mas tudo começou a demorar. Com o número de obras caindo, para uma ou duas por semana, as coisas foram apertando em casa. Conversamos e ele me explicou que para terminar os serviços mais rápido, ficando pronto para pegar outro logo que aparecesse, precisaria de ajuda. Então, em vez de contratar dois auxiliares, decidimos que contrataria um e eu seria o outro. Assim, reduziria o custo e o dinheiro que entrasse ficaria em casa”, explicou ela.
Mesmo contando apenas com a experiência do que antes era um hobby de fim de semana, ela topou o desafio com o marido. “Já tinha trabalhado com isso [construção] em casa. Sempre que íamos fazer algum serviço em nossa casa, eu ajudava. Se ele ia assentar um piso, eu rejuntava e assim fui aprendendo muitas coisas. É essa experiência que estou usando agora no trabalho”, diz a nova auxiliar de construção civil.
Como subordinada do marido na obra, Camilla é encarregada de serviços como o rejunte de azulejos e pisos, limpeza do canteiro, colocação de água na betoneira, organização e entrega de ferramentas e transporte de massa, entre outros. “Faço todos os serviços dentro do meu limite. Quando vejo que não vou conseguir ou que é muito pesado, aviso ele [marido] e o outro auxiliar vem me ajudar”, comenta.
A iniciativa e a determinação da esposa, segundo Hélder, estão sendo muito importantes para que o casal enfrente a crise. “As coisas estão muito difíceis. Às vezes, aparece um serviço durante a semana e no restante você fica esperando. Aí o que entra de dinheiro já vai para pagar as coisas que estão atrasadas. É complicado. Nesse momento, ela ajudar, fazendo com que eu só precisasse contratar um auxiliar é muito importante. Ajuda muito”, diz ele.
A parceria do casal no campo profissional deu tão certo que eles já sonham em ampliá-la assim que a situação melhorar. “Estamos conversando muito sobre isso. Tenho um olhar mais amplo, mais atento sobre as coisas. Então já penso em fazer uma faculdade de arquitetura. Ele gosta muito desse dia a dia da obra e sonha em fazer um curso de engenharia. Acho que vai ser o casamento profissional perfeito”, conclui.
G1 MS