Acusação questiona júri que inocentou acusados de matar pai e dividir aposentadoria
Réus foram inocentados em março de 2024
A 5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Dourados entrou com recurso contra o resultado do júri popular que inocentou Michelle Cabreira Ortiz, Miguelito Ortiz Cabreira e Roger Amarilla Isnarde, acusados de matar Alonso Cabreira, de 89 anos, – pai e sogro dos acusados – e jogar o corpo em uma pedreira da Aldeia Bororó. O crime ocorreu em novembro de 2023 e os réus foram inocentados.
A sentença assinada pelo juiz Marcelo da Silva Cassavara, da 1ª Vara Criminal de Dourados, aponta inexistência de elementos suficientes que comprovem o envolvimento dos filhos e do genro na morte de Alonso.
Ficou apurado que a vítima Alonso, no dia anterior ao dos fatos, se envolveu em uma comemoração com seus filhos Cleuza, Michelle e Miguelito, seu genro Roger e outros familiares não identificados, onde todos teriam ingerindo bebida alcoólica. Posteriormente a isso, o corpo foi encontrado em local ermo e já em aparente estado de decomposição, com causa da morte indeterminada. Como o corpo já estava apodrecido, os peritos que o examinaram não puderam mencionar, com precisão, quais foram os golpes que teriam causado o óbito:Assim, mesmo que tenha si do apreendida uma faca, em tese, utilizada no momento do crime, não foram localizadas eventuais digitais existentes no objeto, nem mesmo há resquícios de material humano, como sangue, diz a sentença.
Durante o júri popular, os três filhos negaram matar o idoso. “Interrogada em Juízo, a ré Michelle Cabreira Ortiz nega a prática do crime imputado. Diz que sua irmã Cleuza que lhe acusou, mas não matou ele. […] Interrogado em Juízo, o réu Roger Amarilia Isnarde nega a prática do crime imputado. Narra que não estava na hora da morte e que não sabe de nada. […] Interrogado em Juízo, o réu Miguelito Ortiz Cabreira nega a prática do crime imputado. Afirma que sua mãe lhe chamou e contou que haviam matado seu pai e jogado da pedreira”.
A sentença também aponta que, mesmo com uma faca apreendida, não foram localizadas eventuais digitais existentes no objeto, nem mesmo há resquícios de material humano, como sangue. Ainda, que a perícia também não constatou que a vítima havia sido esfaqueada.
A denúncia do MPMS aponta que os réus teriam esfaqueado a vítima para roubar R$ 1 mil do pai, que havia acabado de receber a aposentadoria. Pai, filhos e o genro consumiam bebidas alcoólicas juntos antes da morte de Alonso.
Conforme a sentença, o latrocínio também foi descartado. “Tem-se provas suficientes da morte de Alonso Cabreira, não havendo, entretanto, o mesmo standard probatório com relação ao latrocínio e a ocultação do cadáver, e sua respectiva autoria, não podendo a condenação lastrear-se em suposições do que possa ter ocorrido”, diz o documento.
Contudo, a Promotoria, que realiza a acusação dos réus, pediu recurso contra o resultado. Segundo a apelação apresentada pela acusação: “percebe-se que apesar dos depoimentos divergentes dos réus, na qual todos negam que praticaram o crime e apontam a autoria ao outro, ROGER fala que MICHELLE e MIGUELITO mataram Alonso e que estava, sim, com a faca utilizada no crime em sua posse”.
O recurso ainda está em julgamento, não sendo decidido se os réus passarão ou não por outro julgamento popular.
Irmãos teriam confessado o homicídio
A acusação aponta que a irmã dos acusados confirmou que pai, filhos e o genro brigaram antes da morte dele. Ainda, que os filhos tinham conhecimento do dinheiro que Alonso receberia. A irmã narrou, também, que os irmãos esfaquearam o pai e só pararam com a morte dele.
Depois, levaram Alonso até o local conhecido como ‘pedreira’ e o deixaram em cima de uma pedra. A acusação também considera o depoimento dos policiais civis que atuaram no caso, os quais relataram que, a princípio, os irmãos entraram em contradição, mas depois, Róger, afirmou que efetuou facadas na vítima, enquanto a Michelle e o Miguelito desferiram-lhe pedradas e socos.
Os policiais alegaram que Miguelito assumiu apenas ter ajudado a carregar o cadáver, atribuindo a morte ao ‘Paloma’, Róger, e à Michelle; enquanto o Róger, assumiu tê-la matado, com a ajuda dos outros dois, sendo que a Michelle foi a única que negou os fatos.
Inclusive, esclareceu-se que tanto o Róger quanto o Miguelito afirmaram que a ideia do crime foi atribuída a Michelle, a fim de pegarem o dinheiro da vítima, para comprar mais bebida. Quanto à divisão do dinheiro, Michelle teria passado o valor de duzentos reais para o Róger e o restante gastaram com bebida.
O que cada um falou
Na delegacia, Roger relatou que não sabe de nada e que não estava naquele momento. Afirmou não saber quem matou Alonso, ouviu apenas que Michelle e Miguelito haviam feito algo, mas não estava junto.
Em interrogatório policial, Miguelito disse que o pai dele morreu na pedreira, por terceiros. Outrossim, a liderança o acusou e ligou para a polícia civil, não sabendo quem matou o pai. Ademais, no dia em que a vítima foi morta, ele estava em casa e não viu o pai.
Também à polícia, Michelle relatou que não viu o pai morrer e que mora perto de sua sogra, que está injustamente acusada pelo irmão. Ainda, pontuou que não sabe quem matou o pai, pois não o viu.
Em julgamento popular, Miguelito alegou ter sido acusado de ter matado seu pai, mas não o fez e não viu e nem sabe de nada. Ele também falou que Roger levou a faca na delegacia. Ele falou para os policiais que matou a vítima, tirou o dinheiro dele e depois jogou na pedreira. Fez isso para roubar o dinheiro dele e estava sozinho.
Já Roger disse aos jurados populares que o Miguelito pegou a faca e matou o pai dele por causa do dinheiro e Michelle ajudou. A Michelle ajudou a jogar o corpo do pai deles da pedreira. Assente que ela deu pedradas na cabeça do pai e o Miguelito desferiu os golpes de faca. Miguelito teria confessado ao depoente dentro da cadeia.
Michelle negou o crime e que a faca do crime estivesse com seu marido (Roger).
Pai de menina morta na pedreira
Alonso é pai de Raíssa da Silva Cabreira, de 11 anos, que foi estuprada e assassinada brutalmente na mesma pedreira.
O tio da menina foi preso na época e encontrado morto no Presídio Estadual de Dourados dias depois. A menina não morava com a mãe e o tio estava dormindo, bêbado, quando ela foi arrastada por adolescentes, também apreendidos, por volta das 22 horas do dia 8 de agosto de 2021.
Até o horário que indígenas da Aldeia Bororó encontraram o corpo dela, caído de um paredão de 20 metros, passaram-se cerca de 8 horas. Ainda conforme a Polícia Civil, o tio foi procurar Raíssa porque ela não estava em casa. Dois dos três adolescentes apreendidos levaram a menina de casa, a força.
“Ao que se sabe ela estava gritando e pedindo ajuda. O tio chegou ao local quando tudo já estava ocorrendo”, afirmou o delegado Erasmo Cubas, então do SIG (Setor de Investigações Gerais) de Dourados.
Além do tio e dos adolescentes, Leandro Pinosa, de 20 anos, foi preso. O tio que já abusava da menina desde os 5 anos dela, flagrou o momento em que os quatro acusados do crime estupravam a menina.
Victória Bissaco
MIDIAMAX