Titular contra São Paulo, Sanchez pega cinco ônibus por dia e ganha R$ 1.200
Sanchez nunca sonhou ser um jogador de futebol. Cresceu em Cascavel, cidade da Região Metropolitana de Fortaleza, a 70km da sede do Ceará, onde treina diariamente, jogando bola com os amigos na rua. Não era sua intenção jogar em um grande clube brasileiro. Entrar em um Morumbi lotado e ficar cara a cara com craques da seleção brasileira, muito menos. Mas aconteceu. Aos 19 anos, a cria da base do Ceará entrou como titular contra o São Paulo e ajudou o Alvinegro a vencer, por 2 a 1, o jogo de ida pela Copa do Brasil.
- Minutos antes do jogo, eu estava muito nervoso. Nunca tinha me sentido tão nervoso assim em toda a minha vida. Entre todos os outros meninos da base que foram relacionados, eu fui o único titular. Sabia que era minha oportunidade, mas queria vencer o jogo. Preferi pensar no coletivo em vez de tentar mostrar serviço - diz o lateral-esquerdo do Ceará.
Nesta quarta-feira, às 19h30, é hora de repetir a dose, mas dentro de casa. Os times voltam a se enfrentar na Arena Castelão, e a equipe cearense pode até perder por 1 a 0 para garantir a vaga nas quartas de final.
Filho de Dona Márcia, professora aposentada, e Seu Clairton, motorista de caminhão e torcedor apaixonado pelo Ceará, Sanchez tinha 14 anos quando foi à sede do clube, em Porangabuçu, para assistir a um treino das categorias de base com o pai. Neste dia, não havia meninos suficientes para dois times, e Sanchez, que estava lá, foi chamado para completar a equipe. O menino entrou entre os reservas e marcou dois gols nos titulares do Vovô.
- Meu pai me pediu para levar a chuteira e a bola para brincar no campinho após o treino. Na hora, faltou gente pra completar o time. Meu pai ficou até receoso porque era o time sub-17, e eu tinha 14. Mas o técnico da base, na época, Dimas Filgueiras (já assumiu a equipe principal em várias oportunidades) convenceu meu pai, e eu fui pro treino - conta Sanchez.
Meio engenheiro, meio jogador profissional
Eram os dois primeiros gols que o levariam aos caminhos do futebol. São cinco anos vestindo a camisa do Ceará, diversos campeonatos na base e uma lesão na clavícula que o deixou três meses afastado dos gramados. O primeiro jogo no time profissional só veio em 2015. O lateral foi titular pela primeira vez na segunda fase da Copa do Brasil, contra o Confiança, em abril deste ano.
- O Ceará estava disputando a Copa do Nordeste e o Cearense, então me chamaram pra ir treinar. Só soube que ia estrear no profissional nessa hora. Era tudo que eu estava precisando. Esse jogo me abriu portas. Estenderam meu contrato, e comecei treinar mais forte para mostrar que eu não era só mais um jogador - afirmou, em entrevista ao GloboEsporte.com.
Apesar de treinar os dois turnos, Sanchez não vive só para o futebol e cursa faculdade de Engenharia Civil à noite. Para trabalhar e estudar, o atleta pega cinco ônibus por dia. Isso porque ainda mora em Cascavel e se desloca diariamente para a dupla rotina na Capital cearense.
- Saio às 5h30 da manhã e volto às 23h. Todos os dias pego, mais ou menos, cinco ônibus. Às vezes, meu pai me dá uma carona. Mas, normalmente, gasto duas horas para ir e duas horas para voltar para casa todo dia - contou o atleta do Vovô.
Quanto a valores, eis que o garoto Sanchez foge, mais uma vez, da regra. O lateral-esquerdo recebe menos de dois salários mínimos, por volta de R$ 1.200, para atuar com a camisa do Alvinegro de Porangabuçu. Porém, ele garante que na hora que a bola rola, isso não faz a mínima diferença.
Ceará e São Paulo dividirão espaço no mesmo gramado mais uma vez. O palco, dessa vez, será a Arena Castelão, uma praça esportista em que Sanchez irá atuar pela primeira vez nesta quarta-feira (26), mesmo sendo sede de muitos jogos do Vovô.
Para o jogador, pouco importa. Os salários, as condições de vida e jogar contra figurões do futebol brasileiro... tudo isso se esvai no gramado. Nesta quarta, é um Ceará x São Paulo no tudo ou nada na Copa do Brasil. Só o que vai valer é a bola no pé.
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