Primeiro dia da natação já coloca maior nome do Brasil em xeque em Kazan

03/08/2015 00h00 - Atualizado há 4 anos

O maior nome da delegação brasileira no Mundial de esportes aquáticos de Kazan (Rússia) precisou de apenas um dia para também se transformar no maior ponto de interrogação da natação do país. A pouco mais de um ano dos Jogos Olímpicos de 2016, que serão disputados no Rio de Janeiro, Cesar Cielo está em crise.

Foi essa a imagem que ficou depois do primeiro dia da programação da natação em Kazan. Atual bicampeão mundial dos 50m borboleta, Cielo fez o 14º tempo na prova eliminatória (23s66) e o oitavo na semifinal (23s29). Não apenas pelo resultado, mas pelas reações do nadador.

É uma dificuldade que a gente vem tendo desde o começo do ano. Eu estou carregando essa fadiga de falta de velocidade e não consigo recuperar. A gente descansa, descansa, e neste mês eu descansei bastante para cá desde o Aberto da França, e mesmo assim a velocidade não aparece, lamentou Cielo.

Depois da eliminatória, o nadador brasileiro reclamou do clima frio de Kazan e revelou estar lidando com dores no ombro esquerdo. O nadador tem uma inflamação no tendão supraespinhoso e tem feito sessões de fisioterapia para tentar reduzir a dor.

A gente está fazendo tratamento todo dia na vila, mas quando nada nessa velocidade a primeira braçada é muita força. Parece que melhora um pouquinho com o tratamento, mas a primeira braçada tira tudo que melhorou. Faz parte, mas eu nunca tive de lidar com lesão em competição. Essa eu estou carregando faz um tempinho, faz mais de um mês, contou o nadador, que pode até mudar questões técnicas por causa disso: O borboleta é mais fácil porque aí eu divido a força entre os dois braços. O braço esquerdo é minha primeira braçada, que é a mais forte no caso do crawl. É onde mais eu faço força. A ideia é eu tentar recuperar nadando borboleta para chegar no crawl vendo se dói o mínimo ou zero.

A lesão, contudo, é apenas parte da história. Cielo ainda pode vencer os 50m borboleta e vai disputar os 50m livre, prova em que é tricampeão mundial, mas não tem conseguido ser consistente em nenhuma das provas. Em Kazan, o nadador também foi alijado do revezamento 4x100m livre – Marcelo Chierighini, Matheus Santana, Bruno Fratus e João de Lucca formaram o conjunto verde-amarelo.

Eu não pedi nada. A prova de hoje [domingo] cedo é que mostrou que eu não ia adicionar muita coisa ao revezamento. A gente optou pelos quatro que estão sintonizados desde o Pan-Americano, que nadaram bem. Eu não seria um fator diferencial, admitiu Cielo.

O planejamento do nadador para esta temporada teve como foco apenas o Mundial. Foi isso que ele disse em abril, quando fechou o torneio Maria Lenk sem obter um ouro individual, algo que não acontecia desde 2005. Também foi esse o principal motivo para Cielo não ter disputado os Jogos Pan-Americanos de Toronto.

Em julho, no Aberto da França, Cielo fez tempos ainda piores do que as marcas que havia registrado no Maria Lenk. Saiu da competição com duas pratas (nos 50m livre e nos 50m borboleta).

O cenário do nadador de 28 anos, portanto, é extremamente complicado. Ele tem de lidar com uma inédita lesão durante competição, sofre pressão por resultados que não tem obtido de forma regular, deixou de ser fundamental num revezamento em que poderia ser a estrela e se mostra resignado por não ter iniciado o Mundial no auge que perseguiu durante todo o ano.

Cielo ainda tem de acompanhar o grande início de Florent Manaudou em Kazan. O francês é o atual campeão olímpico dos 50m e fez o melhor tempo das eliminatórias nos 50m borboleta do Mundial (22s84). De quebra, participou da prova final no revezamento 4x100m livre e ajudou seu país a ficar com o ouro.

São muitos os motivos para Cielo estar pressionado. A primeira chance que ele tem para dar uma resposta a isso é a decisão do ouro dos 50m borboleta, prevista para ser realizada às 10h17 (de Brasília) desta segunda-feira (03).

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