Prata pelo Brasil, Caio Bonfim desabafa: “Era xingado enquanto treinava”

02/08/2024 04h47 - Atualizado há 3 mêses

Brasileiro conquistou a primeira medalha olímpica do Brasil na modalidade

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Caio Bonfim, medalhista de prata, comemora em frente à Torre Eiffel

Alexandre Loureiro/COB

Minutos após ter conquistado a medalha de prata olímpica na prova de 20km da marcha atlética, o brasileiro Caio Bonfim desabafou sobre os anos em que recebeu ofensas por praticar o esporte e agradeceu a Deus.

Treinado pelo pai e filho de uma mulher oito vezes campeã brasileira da marcha atlética, Caio Bonfim reuniu forças dentro de casa, ainda que, fora dela, o preconceito tomasse conta da sua vida.

“Quando eu atravessei em 13º em Tóquio, falei comigo mesmo: ‘E aí, cara? É isso aí que você pode fazer, ficar entre os 10 do mundo. É lindo, maravilhoso, mas você pode mais’. Fiz um compromisso comigo, sabe?”, afirmou em entrevista ao canal CazéTV.

“O cara perguntou se foi difícil essa prova. Falei: ‘Não, difícil foi desde o dia em que fui marchar na rua pela primeira vez e fui xingado’. Mas falei: ‘Eu estou pronto, pai, eu quero ser marchador’. “Quando eu falei isso para o meu pai, foi o dia em que decidi ser xingado sem ter problema. Ali, eu larguei para esse dia”, completou.

Aos prantos, Caio Bonfim ressaltou o apoio da família desde o primeiro dia e relembrou as suas outras três participações em Jogos Olímpicos. Em Londres 2012, ele terminou longe da ponta, apenas na 33ª posição. No Rio 2016, Caio bateu na trave e ficou no 4º lugar. Em Tóquio, o marchador ficou em 13º lugar.

“São quatro Olimpíadas. Terminei carregado numa cadeira de rodas em 2012, fiquei em quarto no meu país [2016], com a minha família, 13º [em 2020] e, hoje, aqui, medalhista olímpico e poder falar que esse momento é eterno. Tem que ter muita coragem para viver de marcha atlética. Eu sou medalhista olímpico, valeu a pena pagar o preço”, disparou.

Inspiração na família

“Quando eu liguei a TV de madrugada lá em Pequim para ver o [José Alessandro] Baggio ser 14º, o Mário [José Júnior] em Sydney, o [Sérgio] Galdino novinho em 1996, uma Olimpíada que minha mãe fez índice e não foi. Em 2012, eu falei: ‘Mãe, quem disse que você não é atleta olímpica?’. Hoje, eu pude falar para o meu pai e para a minha mãe que nós somos medalhistas olímpicos”, completou Bonfim.

Força veio da “mão de Deus”

Durante a entrevista, Caio disse ter sentido a “mão de Deus” no decorrer da prova, o que o motivou a conquistar a medalha mais importante da sua vida.

“Não é fácil. No meio da prova, você olha um, dois, três, quatro, cinco. ‘Meu Deus, ainda estou em décimo, chegou a hora de me mostrar aqui’. Você tem que lidar com tanta coisa, mas eu senti a mão de Deus me segurando e falando: ‘Vamos, cara’. A prova parece que estamos brincando de rebolar, mas são 20km”, encerrou.

Pódio na marcha atlética

Brian Pintado, do Equador, ficou com a medalha de ouro. A medalha de bronze ficou com o espanhol Álvaro Martín. Os brasileiros Max dos Santos e Matheus Correa terminaram, respectivamente, em 28º e 39º.

Mãe atleta e pai treinador

Gianette Bonfim, mãe de Caio, foi atleta e oito vezes campeã da marcha atlética. Ela chegou a ter índice olímpico para participar dos Jogos Olímpicos de 1996, mas não competiu e foi a primeira incentivadora do filho no esporte. Ele é treinado pelo pai, João Sena.

Caio treina no Distrito Federal, no estádio Augustinho Lima. Ele e a família organizam e administram o Centro de Atletismo de Sobradinho, organizado pela família Bonfim.

Antes de se dedicar exclusivamente ao atletismo, Caio se aventurou em outro esporte. O brasileiro chegou a fazer parte das categorias de base do Brasiliense, time do Distrito Federal.

Drama na infância

Caio precisou superar o primeiro desafio da vida logo aos sete meses. O atleta teve meningite aos sete anos de idade, além de duas pneumonias. Por não derivados de leite devido a uma intolerância à lactose e pela falta de cálcio, os ossos se fragilizaram. Os resultados foram as pernas tortas.

Caio foi operado quando tinha três anos e teve as pernas realinhadas. Os médicos consideravam difícil o menino voltar a caminhar.

Caio é o principal nome da marcha atlética no Brasil. Está na quarta Olimpíada.

A virada

Caio começou a se dedicar para a Marcha Atlética em 2007, aos 16 anos. O atleta dividia os treinos de atletismo com o futebol.

Com o apoio dos pais, foi campeão brasileiro nas categorias de base. A evolução no esporte foi premiada com feitos inéditos como o 4º lugar na Rio 2016, além de destaque em Mundiais e Jogos Pan-Americanos.

A prova

O brasileiro começou a prova com o maior ritmo entre todos os atletas. Logo nos primeiros quilômetros chegou à liderança e abriu vantagem sobre o pelotão que vinha atrás.

Neste momento, ele sofreu duas advertências da arbitragem. Se tomasse a terceira, sofreria punição de dois minutos e estaria fora de uma disputa pelo pódio.

Por garantia, Caio Bonfim diminuiu o ritmo e permitiu a chegada do pelotão da frente. Foi onde ele ficou até a reta final na prova, ao lado dos principais concorrentes.

No quilômetro 14, o brasileiro voltou à liderança, acompanhando de perto pelos rivais. A partir daí, se formou um pelotão menor. Caio Bonfim ficou até o fim entre os primeiros, mas o equatoriano disparou no final para ficar com o ouro.

Leonardo Gimenez, Leonardo Parrela e Hugo Lobão da Itatiaia