Pia não continuará como técnica do Brasil. Fracassos na Olimpíada e Copa. E tentar tirar Marta da Olimpíada de Paris, a gota d'água
O presidente Ednaldo Rodrigues analisou o péssimo trabalho da sueca Pia Sundhage no comando da seleção feminina. Decidiu pela dispensa. Já avalia uma ou um substituto. Não gosta do lobby por Arthur Elias do Corinthians
Pia Sundhage está fora da seleção.
A decisão será anunciada na próxima semana.
O presidente Ednaldo Rodrigues analisou com toda a frieza que queria a participação da treinadora sueca comandando as mulheres do Brasil.
E chegou à conclusão de que, desde que assumiu, exatamente há quatro anos, depois da Copa do Mundo da França, na qual o Brasil foi eliminado pelas donas da casa, ainda nas oitavas de final, houve um paradoxo.
Toda a estrutura e, principalmente, atenção da mídia e dos patrocinadores melhoraram de forma absurda.
O futebol da seleção, não.
Venceu apenas um torneio amistoso e uma Copa América.
Caiu na Olimpíada de Tóquio nas quartas, diante do Canadá.
E, agora, o vexame na Copa do Mundo, com o Brasil deixando a competição na fase de grupos, com França e Jamaica classificados.
Ela não conta nem com o apoio das atletas.
Rafaelle foi quem teve coragem de se posicionar de forma direta.
"Eu acho que temos que pensar o que é melhor para o futebol feminino.
"Se tiver alguém com mais condição [que a Pia], com mais qualidade, o futebol feminino merece isso", afirmou, deixando claramente aberto o desejo pela troca.
"Vadão saiu da seleção muito injustiçado. Havia sérios problemas que o atrapalharam. Ele foi pioneiro, mostrou como tudo deveria ser estruturado e acabou não desfrutando o próprio planejamento", afirma o ex-coordenador da seleção Marco Aurélio Cunha.
Ednaldo Rodrigues relembra que a escolha de Pia foi feita pelo ex-presidente Rogério Caboclo, em 2019, que já era pressionado para pôr uma treinadora mulher, estrangeira e vencedora.
Caboclo se encantou com o currículo de Pia. Ela havia vencido duas Olimpíadas com a seleção dos Estados Unidos. Foi vice-mundial com as americanas. E medalha de prata, no Rio, com a Suécia.
O time de seu país não estava rendendo tanto; ela foi rebaixada em 2017 e passou a comandar a seleção sueca até 16 anos.
Foi quando recebeu o convite de Caboclo.
Teve tudo à disposição. A sede da Granja Comary, onde a seleção masculina treina para as Copas. Hotéis cinco-estrelas para o time. Viagens muito bem planejadas. Amistosos contra os maiores adversários do planeta.
Liberdade para convocar quem desejasse.
A conclusão de Ednaldo Rodrigues é que Rogério Caboclo, com a seleção masculina de Tite fracassando e as acusações de assédio sexual e moral contra ele, foi deixando Pia aautossuficiente.
Ou seja, sem dar satisfação a ninguém.
Foi assim que a sueca decidiu, depois de questionamentos de que não gostou, virar as costas a Cristiane, a mais letal atacante brasileira.
Passou a tratar Marta, melhor do mundo por seis vezes, com frieza, como sempre fez com as reservas. Deixou bem claro que não faria o time se sacrificar pelo talento excepcional de Marta, como a seleção masculina da Argentina fez com Messi, no Catar.
Aos 37 anos, Marta foi para a Copa do Mundo da Austrália como mera reserva. E Pia já avisava que a melhor jogadora de todos os tempos não estaria na Olimpíada de Paris.
Todas essas decisões ela tomou sozinha, sem avisar Ednaldo Rodrigues.
O presidente ofereceu todo o estafe da seleção para observar, lógico, os adversários do Brasil na Copa do Mundo. Os do grupo, Panamá, França e Jamaica. Além dos prováveis rivais. Estados Unidos, Alemanha, Suécia, Austrália, Inglaterra, Japão, Espanha, Holanda.
Pia simplesmente abriu mão de observações mais profundas sobre Panamá e Jamaica. Sim, ela mandou avisar que não precisava, diante da diferença técnica. O Brasil era muito melhor do que essas adversárias.
A sueca foi ficando cada vez mais fechada. Defendia a hierarquia. Não aceitava sugestões, palpites. Só importava a opinião de sua auxiliar, Lilie Persson.
As jogadoras foram ficando cada vez mais oprimidas, tinham de seguir o que Pia determinava e ponto-final. Havia uma pacto de deixar o ambiente leve diante da imprensa, para aproveitar todo, e inédito, o apoio da mídia.
Mas as determinações de Pia não davam certo. O Brasil jogava cada vez pior na Copa. Sofreu muito para vencer o Panamá por 1 a 0, frustrando o clima de goleada antecipada, criada pela própria seleção e pela treinadora.
Vieram o jogo contra a França e a derrota por 2 a 1, com o gol decisivo o mais previsível possível. A seleção brasileira deixou Renard, zagueira artilheira e estrela francesa, cabecear sozinha um escanteio. Ninguém a acompanhou. Erro infantil.
E chegou a partida que tirou do sério Ednaldo Rodriguez.
O 0 a 0 contra a Jamaica, adversária sobre quem Pia dispensou observações. Uma seleção semiamadora, que precisou fazer uma "vaquinha" para poder viajar ao Mundial. Não havia dinheiro para as passagens. Nem para ficar em um hotel luxuoso, como o Brasil ficou.
Assim que o Brasil foi eliminado, Pia e sua assistente, Lilie Persson, deixaram a concentração. Foram para a Suécia. Em silêncio, sem entrevistas, explicações. O time veio ao país sem ela.
Pia soube da pressão enorme por sua demissão, apesar de ter contrato até o fim da Copa do Mundo de Paris. E mandou uma mensagem para agradecer pelo apoio da CBF e deixar claro que deseja continuar como treinadora do Brasil.
Ednaldo já decidiu que o melhor é ela ir embora.
Agora enfrenta um dilema.
Até de sexismo.
Há um movimento silencioso, nascido ainda na época de Vadão, de que as jogadores preferem uma mulher no comando da equipe.
A CBF reconhece, no entanto, que o mais bem preparado seria um homem.
Arthur Elias, que é bicampeão da Libertadores, tetra no Brasileiro, tri no Paulista.
Mas ele cometeu um erro de que Ednaldo não gostou.
Deu entrevistas recentes dizendo "estar preparado para a seleção".
"Claro que sim, mas acho que não é o momento, a seleção está com a Pia ainda, vem de um resultado ruim.
"Não é momento de eu ficar falando sobre seleção brasileira, mas, respondendo diretamente à pergunta, sim, estou [preparado] há muitos anos no futebol feminino. Não só no futebol feminino, trabalho há 17, 18 anos como treinador de futebol, com a mesma comissão", disse na TV Bandeirantes.
As declarações repercutiram bastante na sede da CBF.
Ednaldo quer conversar com calma com as líderes.
Ele deseja saber quem elas sugerem como treinadora ou treinador.
Emily Lima, que comandou o Brasil em 2017, mas teve problemas sérios com o então coordenador da seleção, Marco Aurélio Cunha, acabou demitida.
No mesmo ano de sua saída, ganhou o Campeonato Paulista e foi vice da Libertadores. Estava treinando o Equador quando foi convidada e assumiu a seleção peruana.
As jogadoras têm ótimo relacionamento com ela, principalmente Marta.
Mas Ednaldo quer conversar com especialistas para analisar treinadoras e treinadores estrangeiros vencedores.
O que está certo hoje é que ele não deseja continuar com Pia Sundhage.
Ela desperdiçou os maiores holofotes que a seleção feminina já teve.
Em toda a sua história.
E Ednaldo considera obrigação Marta ter uma despedida digna da seleção.
Na Copa do Mundo de Paris.
Situação que Pia já avisou que é contra.
E que o tempo de Marta na seleção acabou na Copa do Mundo da Austrália.
Mas a sueca que se prepare.
Que é o seu que acabou na seleção feminina do Brasil...
COSME RÍMOLI | Do R7