Libra e Forte avaliam memorando de entendimentos que pode selar unificação dos grupos em liga

25/01/2024 04h35 - Atualizado há 10 mêses

Dirigentes da Libra têm escolha a ser feita nos próximos dias: assinar documento com cartolas do Forte ou prosseguir separadamente com a negociação de seus direitos de 2025 a 2029

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Reunião da Libra na sede da Federação Paulista de Futebol — Foto: Rodrigo Corsi/FPF

Presidentes de clubes de futebol têm em mãos neste momento uma proposta para a unificação da Libra e do condomínio entre Forte Futebol e União — grupos por enquanto em lados opostos na tentativa de fundar uma liga. O documento foi enviado aos cartolas na última sexta-feira.

Segundo o "memorando de entendimentos", cuja cópia foi obtida pelo ge, as entidades que o assinarem manifestarão o intuito de unificar os blocos. O interesse comum a todas é a venda dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro para o ciclo entre 2025 e 2029.

O documento estabelece um modelo para a distribuição das receitas da liga entre os clubes. Os termos do acordo vêm sendo negociados por dirigentes há alguns meses, com e sem o intermédio de consultores em ambos os lados, e foram simplificados neste memorando.

Em primeiro lugar, as receitas se dividiriam em 85% para a Série A e 15% para a Série B, que passaria a ser beneficiada pelos direitos comerciais da elite, pela primeira vez na história. Depois, o valor destinado à primeira divisão se repartiria em uma fórmula 45-30-25, sendo:

45% iguais para todos os clubes

30% de acordo com performance

25% conforme o apelo comercial

O "componente de performance" (como o documento descreve esta fatia) consideraria a classificação do Brasileirão durante três temporadas. Em 2025, por exemplo, 34% do valor desse item corresponderia à tabela do próprio ano de 2025, enquanto 33% corresponderiam à classificação de 2024 e outros 33%, de 2023. Isto faz com que os clubes de melhor desempenho tenham mais estabilidade nas receitas.

Já o "apelo comercial" seria distribuído de acordo com a audiência média de cada clube em suas transmissões, ponderada para considerar a representatividade de cada plataforma. O padrão do Ibope seria considerado na medição das pontuações de televisões aberta e fechada, enquanto o streaming computaria a soma de espectadores a cada minuto, um mecanismo de medição análogo ao do Ibope.

Posição na tabela Percentual sobre os 30%

1º      9.5%

2º      9.1%

3º      8.6%

4º      8.1%

5º      7.6%

6º      7.1%

7º      6.7%

8º      6.2%

9º      5.7%

10º    5.2%

11º    4.8%

12º    4.3%

13º    3.8%

14º    3.3%

15º    2.8%

16º    2.2%

17º   1.25%

18º   1.25%

19º   1.25%

20º   1.25%

Fonte: Memorando de entendimentos

Negociação arrastada

Dirigentes de vários dos principais clubes do país se reuniram na terça-feira da semana passada, em São Paulo, para debater os assuntos que ainda os separam da criação da liga. A reunião teve um clima ameno e produtivo, de acordo com interlocutores ouvidos pelo ge.

O movimento é patrocinado por Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol, que possui ascendência política sobre paulistas, base da Libra, e ganhou apoios públicos de integrantes do Forte Futebol em sua tentativa de se eleger presidente da CBF.

Apesar de não haver mais perspectiva de eleição na confederação, com o retorno de Ednaldo Rodrigues ao cargo, relações entre Reinaldo e os clubes se tornaram mais próximas.

Do lado do Forte Futebol e do União, as assinaturas ao memorando tendem a ser mais fáceis. Dirigentes desse bloco já venderam 20% de seus direitos comerciais a um grupo de investidores, coordenado pelo Life Capital Partners (LCP), e agora desejam a unificação para dar início à comercialização conjunta dos direitos do Brasileirão para as mídias.

Já em meio à Libra o clima é de incerteza. Embora o movimento envolva os paulistas e tenha a simpatia de Reinaldo, ainda não se sabe se Corinthians, Palmeiras, Santos, São Paulo e Red Bull Bragantino assinarão o memorando. Por outro lado, Flamengo e Grêmio foram informados a respeito da proposta, mas não estão totalmente alinhados.

A escolha dos dirigentes

Duas negociações avançam em paralelo neste instante. Em uma delas, Libra e Forte Futebol tratam da possível unificação e discutem os termos desse acordo, principalmente a divisão do dinheiro a ser gerado pelos direitos comerciais. Em outra linha, a Libra está adiantada em relação ao outro bloco na negociação dos direitos de transmissão com emissoras.

As tratativas com a Globo evoluíram desde outubro. Naquele mês, conforme antecipou o ge, a empresa havia feito oferta de R$ 1,1 bilhão para comprar os direitos de todos os clubes da Libra. Agora, a proposta à mesa dos cartolas inclui uma promessa de R$ 1,3 bilhão, mais a divisão dos recursos provenientes do Premiere, pay-per-view da empresa.

Caso os dirigentes da Libra optem por assinar o memorando de entendimentos em conjunto com Forte Futebol e União, esta decisão representaria o "reset" da negociação com a Globo.

Nesta hipótese, segundo o documento, os blocos teriam o direito de nomear seus assessores, que por sua vez assumiriam a responsabilidade de organizar a concorrência para a venda dos direitos de transmissão.

Caso os cartolas da Libra rejeitem o memorando e prefiram assinar imediatamente com a Globo, isto tornaria a união dos clubes em uma liga muito improvável — pelo menos neste momento.

Neste caso, cada grupo venderia seus direitos de transmissão separadamente, com regras e modelos não necessariamente alinhados. A emissora ainda poderia comprar direitos de ambos os blocos, porém em processos distintos, assim como todas as empresas interessadas.

@rodrigocapelo - ge