Ele disse não a Dunga e acha que líderes da seleção deveriam criticar a CBF

22/12/2015 00h00 - Atualizado há 4 anos
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Divulgação

Há dez anos na Alemanha, Rafinha entende que a renovação do futebol no país começou quando jogadores e técnicos se juntaram a dirigentes para pensar no futuro. No Brasil, ao menos por enquanto, isso não seria possível. Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, o lateral do Bayern de Munique pede que os líderes da seleção rompam o silêncio e passem a criticar mais quem está no comando do esporte no país.

Eu fico triste porque no Brasil a gente sempre culpa o treinador e o jogador, mas os que vêm de cima também têm atrapalhado bastante, diz Rafinha ao analisar a situação da cartolagem no país. Os líderes da seleção poderiam ter uma opinião mais forte. O pessoal tem de falar, se posicionar, criticar. O contexto ali da CBF não deixa o jogador falar. Eu estive lá muitas vezes, sei como é, completa o jogador.

A entrevista foi concedida no último sábado, quando Rafinha participou do último jogo do ano do Bayern em 2015, uma vitória por 1 a 0 sobre o Hannover. Dias antes, no Rio de Janeiro, o movimento #OcupaCBF havia feito barulho ao levar jogadores à porta da entidade para protestar contra os dirigentes, envolvidos no escândalo de corrupção da Fifa.

Rafinha, hoje, está mais próximo dos descontentes que dos selecionáveis, apesar de viver bom momento na Europa. Há três meses, ele recusou uma convocação de Dunga por entender que seria apenas uma quarta opção para o treinador. O lateral, que diz nunca ter recebido um contato oficial da seleção alemã, apesar das especulações, ainda se mostra aberto a uma convocação futura, mas agora só pensa no Bayern.

Veja a seguir os melhores trechos da entrevista:

Por que recusou a convocação?

Não tenho muito mais o que falar, já falei tudo ali no momento. Não foi uma oportunidade. Estou o ano todo jogando e não vinha tendo chance. Não era possível da minha parte aceitar. Não era a segunda ou a terceira opção. Era a quarta. Eu estava dando prioridade ao Bayern, que é minha equipe aqui. Tenho o maior respeito pelo Dunga. Ele foi o primeiro técnico que me convocou. Mas eu não estava nos planos. Se eu estivesse entre a primeira e a terceira opções, tudo bem, mas a quarta? Quando todo mundo se machucar você vai poder jogar. Isso não é concorrência. Faltou um pouquinho de comunicação também. Poderiam ter me ligado, esclarecido melhor, mas não tenho mágoa de ninguém.

Merecia mais chances na carreira?

Sem dúvida. Com todo respeito aos outros laterais, que o Brasil está muito bem servido na posição. Agora, são dez anos de Europa, cinco anos no Schalke, cinco anos no Bayern, sempre jogando. Sou flexível, jogo nos dois lados. Não acho que é legal eu falar se merecia ou não, acho que não precisa.

Retorno à seleção no futuro

Eu sempre joguei pela seleção. Tenho todo o respeito, já briguei com meu clube, o Schalke na época, para estar na Olimpíada (2008), justamente com o Dunga. Se você está sendo chamado toda hora, faz parte do grupo, aí é claro que te empolga. Mas no momento eu estou só pensando no Bayern. Se tiver algumas convocações, uma sequência, aí pode ser.

#OcupaCBF

Eu fico triste porque no Brasil a gente sempre culpa o treinador e o jogador, mas os que vêm de cima também tem atrapalhado bastante. Precisa ter uma reformulação nesse sentido. Acho que seria bom para todo mundo. Os líderes da seleção poderiam ter uma opinião mais forte. O pessoal tem de falar, se posicionar, criticar. O contexto ali da CBF não deixa o jogador falar. Eu estive lá, sei como é.

Como é na Alemanha?

Aqui teve essa mudança. O alemão tem liberdade para expor a sua opinião. Essa mescla seria legal. Aqui, a reformulação veio de todas as partes. De jogadores, técnicos, jornalistas. Começou há 15 anos e hoje eles são campeões do mundo.

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